Supremacista Cultural no Porto
Na ressaca eleitoral das legislativas de 2022, nada como um espetáculo de comédia pelas mãos da grande esperança da direita portuguesa para curar os efeitos devastadores do “xuxalismo” em Portugal. O Porto foi a cidade escolhida para o encerramento da já longa tournée de Supremacista Cultural, onde em dose dupla no cinema Passos Manuel (que brevemente estará disponível na íntegra no seu canal de Youtube) o Dr. Jovem Conservador de Direita e o seu Dr. Estagiário cerraram punhos e dentes para combater a real pandemia do nosso país: o marxismo cultural.
A entrada no pequeno mas lotado auditório fez-se ao som do projecto Disco.Voador, onde a dupla Tiago Enrique (guitarra e voz de apoio) e Joana Manarte (bateria/percussão e voz) desfilaram temas inspirados na playlist de Spotify do próprio Dr. Jovem Conservador de Direita, onde o seu eclético gosto era comprovado pela presença de temas tão diversos como “Beautifull People” do Dr. Marilyn Manson ou “We like to party” do colectivo artístico Vengaboys, passando por “Rollin’” dos Limp Bizkit e “Rhythm of the night” dos Corona (o grupo de eurodance, não o vírus). Enquanto o medley musical preenchia os nossos ouvidos, projecções de vários factos e curiosidades iam sendo apresentados ao público, bem ao estilo das sessões de cinema dos shoppings, mas ao invés de se debruçarem sobre Hollywood, eram bem mais generalistas: ficamos a saber, por exemplo, que o Dr. Robbin Williams não era fã do Dr. Robbie Williams ou que o Dr. Nuno Melo foi campeão do Minho em 1994 na modalidade do jogo da bolacha. A banda permaneceria em palco durante boa parte do tempo, dando uma preciosa ajuda sonora sempre que solicitada.
Como qualquer líder de direita, a determinação do Dr. JCD fez-se notar desde o ínicio, onde até a entrada em palco tinha que ser perfeita: com os serviços musicais dos Disco.Voador a provarem-se insuficientes para a tarefa, e após uma fulgurante entrada em palco bem ao estilo do Chicão ou Portas com a “Hysteria” dos Muse, a perfeição surgiu na simplicidade, onde finalmente podemos assistir à melhor versão de “Hallelujah” do Dr. Leonard Cohen, onde ambos os protagonistas da noite a envolveram num diálogo profundo com outro dos grandes temas da Humanidade, “Allstar” dos eternos Smash Mouth. Fica para a próxima, Dr. Buckley.
A partir daí, assistimos a uma autêntica lição de história sobre cultura, arte, sociedade e política, que infelizmente nos é vedada pelo esquerdismo que dominam as nossas instituições culturais e o nosso ensino. Transportados ao longo do tempo e espaço, desde os primórdios da humanidade (sabiam que as pinturas rupestres foram a primeira versão da Netflix?), passando pelas colunas pénis da Grécia antiga ou ao Renascimento (onde não havia arte, mas sim pornografia). Em história mais moderna, houve uma análise ao desastres que o século 19 nos trouxe, com a invenção da fotografia e do socialismo; um conceito para um filme onde o menino da lágrima e o Vin Diesel contracenariam num guião repleto de vingança e imensosplot twists; o resumo possível de 50 Sombras de Gray pelo Dr. Estagiário (que nunca viu o filme), onde ficamos a saber (ou desaprender?) que começa num date no McDonalds e acaba num quarto de banho.u
O cinema seria mesmo das formas de cultura mais visadas pelos guerreiros culturais: já sei que não vou mostrar aos meus sobrinhos essa propaganda socialista que é o Rei Leão, e graças à sua forte capacidade de síntese foram disparados pequenos resumos sobre variadas obras cinematográficas como “Big Lebowski” (até os comunistas ficam virados do avesso quando lhes roubam a propriedade privada) ou “Bom Rebelde” (nunca deixem fórmulas matemáticas no quadro).
Finalmente a música (esse ninho de esquerdalhos) seria finalmente abordada, começando com a sua importância no cinema (de facto a Lista de Schindler fica menos dramática com o tema do Benny Hill a servir de fundo), assim como a identificação dos artistas musicais mais socialistas da música popular portuguesa, seja o camarada Emanuel a invocar a força coletiva do proletariado em “Nós pimba” ou com Quim “Jong” Barreiros a querer renacionalizar a garagem privada da vizinha. Mas a recta final do espectáculo ficaria marcado pelo facto histórico e cultural mais bem guardado da música portuguesa: Zeca Afonso (ou melhor, José de Afonso) era, de facto, de direita e liberal, mas que a esquerda fez questão de revisionar.
Foram, pois claro, duas horas repletas de informação valiosa que está escondida do povo por motivos bem ideológicos: infelizmente a maior parte do público fez questão de rir às gargalhadas face às teorias sustentadas por factos e lógica da dupla mais intelectual da nossa direita. Uma mancha que não apaga o importante contributo do Dr. JCD na longa guerra pela supremacia cultural em que nos encontramos. Até à próxima batalha.
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quarta-feira, 23 fevereiro 2022