Reportagem de dEUS em Lisboa
E o mote para o concerto e respectiva Tour foi a celebração de 20 anos do álbum “The Ideal Crush”, terceiro álbum da banda, que os consagrou como ícones da música indie - rock. Criativos, ecléticos, irreverentes, dEUS mantêm-se como uma das bandas mais acarinhadas em Portugal e que continua a motivar uma romaria de espectadores aos seus concertos. Com mais de 20 anos de carreira, dEUS mantém o seu séquito de fãs, uma geração inteira que conheceu a banda no início da idade adulta e que se mantém fiel. A excitação dos 20 anos mantém-se aos 40, ainda apareçam os primeiros cabelos grisalhos e os joelhos já possam começar a fraquejar. As verdadeiras paixões são mesmo assim, por mais idade que tenhamos, sentimo-nos sempre como adolescentes.
Era essa atmosfera sentida no Coliseu, paixão, entusiasmo, uma certa reverência, a ideia de que se fazia parte de algo maior. Aliás, reverência, peregrinação e epifania são palavras que não podemos dissociar do léxico que caracteriza a banda ou não estivéssemos a falar de dEUS.
Ainda antes do início da primeira parte ficamos a saber que está a ser produzido um documentário sobre a banda. Fleur, a realizadora, deslocou-se ao palco e informou que estariam a recolher depoimentos no intervalo e no fim do concerto. Quem quisesse participar podia deslocar-se ao confessionário, sala 1, para dar o seu. Salientou ainda que não teriam que falar somente da banda mas das experiências pessoais de cada um nos 20 anos passados. Este repto foi repetido por Tom Barman ao longo do concerto.
A primeira parte do concerto coube a Trixie Whitley. A multi-instrumentista trouxe o seu rock rasgado de passo rápido ao Coliseu. Acompanhada de apenas um músico, ela passeou-se entre vários instrumentos, guitarra, bateria e teclas, todos tocados com mestria e sempre cantando com voz poderosa e segura. A sua actuação foi em crescendo tendo conquistado o público e terminado com merecidos aplausos. No backstage, sim, estivemos no backstage, ficámos a saber que Trixie Whitley é sobrinha do baixista de dEUS, Alan Gevaert, mas desengane-se quem pensa em nepotismo, Trixie tem créditos firmados e talento reconhecido. Trixie é filha do cantor e compositor americano Chris Whitley tendo desde muito cedo tocado com o pai e participado em vários dos seus álbuns. A cantora conta já com uma carreira de vários anos tendo lançado o seu primeiro EP em 2008.
No intervalo verificou-se um verdadeiro burburinho, uma romaria de pessoas a entrar na sala e encher finalmente o Coliseu. O público chegava de cerveja na mão, tranquilo mas feliz, muitos cumprimentos entre amigos e convites para rumarem aos lugares da frente no concerto. Muitos queriam estar mais perto de dEUS.
Tom Barman e a sua banda entram em palco por volta das 22h. O concerto inicia-se com o tema “Put The Freaks Up Front”. Tom Barman interage com o público em português. Mais do que “Boa noite” e “Obrigado Lisboa” Tom enceta verdadeiras conversas em português revelando saber mais do que um mero estrangeiro de passagem. Ficamos enternecidos, nota-se o carinho por Portugal nas várias interacções com o público.
O alinhamento do concerto foi composto pelas músicas do álbum “The Ideal Crash” interpretadas aqui e ali com novas roupagens, mais distorção, mais enfâse na voz rouca de Barman. Um grupo de bailarinos, vestidos de preto, acompanhou a banda em algumas músicas. A coreografia era boa, intensa nos momentos certos mas a coordenação entre os vários dançarinos deixou a desejar. Pontos altos para os temas “The Magic Hour”, “The ideal Crash” e “Instant Street” que foram acompanhadas pelo público. A banda revelava à vontade com o público, as músicas fluíam e traduziam-se numa verdadeira comunhão com o público.
Os dez temas do álbum “The Ideal Crash” não foram suficientes, houve lugar ainda para ouvir, “Quatre Mains”, “Constant Now”, The Architect” e “Nothing Really Ends” dedicada a Lisboa e a Portugal, tema com o qual termiram o concerto.
O público queria mais, mais encores, mais músicas. Um concerto de dEUS é sempre um acontecimento, motiva uma verdadeira peregrinação e sim, é sempre uma epifania.
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terça-feira, 30 abril 2019