Reportagem Toro Y Moi no Porto
Normalmente quando se faz uma revisão de um concerto não pensamos primeiro no concerto de abertura, não são sobre ele as primeiras linhas, mas sim sobre o nome que vemos no bilhete, o nome pelo qual o público compareceu, e neste caso, novamente em grande número diga-se. Parabéns ao Gig Club por mais uma aposta totalmente certeira. No entanto para ilustrar da melhor maneira o que foi a verdadeira loucura vivida em Toro Y Moi, temos de primeiro passar pelo concerto de Erika De Casier, A dinamarquesa, estrou-se em Portugal ainda algo envergonhada, mas muito honrada pela oportunidade. Foi com estas palavras que abriu a noite. A sala nessa altura ainda estava a encher, mas conforme as pessoas iam chegando ia-se percebendo que Erika, com o seu R&B suave e fortemente influenciado pelas características 90s do género, ia conquistando com maior ou menor dificuldade o público. Amaciando os nossos ouvidos com um timbre altamente característico, e sobretudo muito doce, as suas músicas suavam terrivelmente honestas, tão honestas que parecem uma espécie de diário que nos era lido, mas, apesar de tudo, não totalmente revelado. Erika ainda não consegue libertar todo o seu potencial em palco, e o seu potencial é muito, as músicas são excelentes, é provavelmente do melhor R&B do momento, mas sentimos que ela ainda se encontra muito no seu quarto, ainda não há uma total ligação entre a artista e o público e mesmo acompanhando as músicas com movimentos de dança, era fácil perceber a ainda necessária evolução da linguagem de palco de Erika. É tudo uma questão de domínio, de saber passar as emoções e as palavras para o público mesmo sem precisar de estar sempre a falar com o mesmo, pelo menos não falar no termo de uso de palavras e é esse o principal motivo pelo qual só falamos agora de Toro Y Moi.
Chaz Bear, neste momento mostra-se um verdadeiro campeão da arte de como agarrar pessoas e comunicar com elas sem precisar de falar com as mesmas. É impressionante o carisma que ele apresenta em palco, a forma descontraída como se move, a forma como faz parecer que também ele está no seu quarto a tocar e a cantar, sozinho, mas realidade nós estamos lá a dançar com ele, sem limites e sem vergonha, da mesma forma que fizemos no Hardclub a partir do momento que Toro Y Moi abandonou a penumbra violeta no qual se escondia. “Mirage” e “ No Show”, dois temas de Boo Boo, o seu álbum mais lento e soturno, abriram o concerto, mas foi com as primeiras notas de “Ordinary Pleasure”, que a festa realmente se instalou, a partir desse momentos Toro Y Moi viajava alegremente de um lado ao outro do palco, o público dançava e gritava constantemente, e não podemos falar dos normais gritos das primeiras filas, eles vinham de diversos pontos da sala, assim como a dança se estendia pela mesma. As cores do concerto tornaram-se mais vivas, o ritmo mais elevado e em certos momentos mais psicadélico. “Still Sound”, foi o primeiro momento de vários apoteóticos assistidos. No público alguém dizia que este devia ser o tema mais conhecido da sua já longa discográfica, mas a ver pelas reacções, rapidamente instalou-se essa dúvida. “Grown Up Calls”, recebeu a euforia do público num volume idêntico, deu para começar a sentir as vozes do público à se misturar com as de Chaz e com sorriso, ele ia comunicando ao público que gostava do que estava a ver.
“Monte Carlo”, trouxe algum tempo para respirar, mas foi só mesmo para isso, pouco depois já voltava a sua dança introvertida de Toro Y Moi. Era como se ele soubesse que ninguém estava a olhar para ele, mas na verdade estavam, de sorriso posto e a imitar os movimentos do cantor. “Girl Like You”, foi uma das grandes surpresas da noite. A forma como o público sobretudo o feminino se entregou ao tema, foi algo que não íamos preparados para ver. Aprendemos nesta noite que ele tem muitos mais amantes do que aquilo que imaginávamos e que muitos temas que pareciam não ser os mais esperados, afinal o eram. Em “Who Am I” aconteceu exatamente o mesmo, mas agora de forma ainda mais massiva. Sim, uma música que nem é single do mais recente álbum, foi a responsável pelo maior e mais agressivo momento de dança da noite. A partir desse momento foi verdadeiramente sempre a somar. “So Many Details” e “Say That” foram duas bombas de psicadelismo clubbing. A pista estava montada e era raro o corpo que não se movia ao som de músicas que pareciam prazerosamente infinitas.
Embrenhadas num excelente espetáculo de luz, Toro Y Moi ia curtindo a vibe em palco e projetou uma cara de maravilhado para com o público quando este do nada começou a cantar em uníssono um “Who Who”, que se encaixou de forma perfeita no tema. Quem diria que passado alguns anos Anything in Return, um álbum que foi recebido de forma tão mista só encontraria amigos no Porto.
O momento mais inesquecível de todos aconteceu já próximo do final. Toro Y Moi adorou de tal forma a festa que o público fez em “Freelance”, que resolveu perguntar se o mesmo queria repetir o momento. O tema acabou mesmo por ser novamente tocado, o que resultou num redobrado coro de vozes a cantar o tema e sobretudo a cantar o ritmo. “Freelance” é a “Seven Nation Army” de 2019. Chaz naquele momento era uma espécie de deus descido a invicta. O concerto ainda não tinha terminado e era garantido que todos já tinham saudades dele. Sobravam dois temas e um aviso que não ia haver encore, afinal de contas porque haveria de ser estancar a festa. “New Beat”, outro dos momentos muito dançado e a psicadélica “Rose Quartz”, que teve direito a um avião de papel a voar em direção ao público, foram as últimas danças do concerto, mas não as últimas da noite. O concerto tinha terminado, mas poucas pessoas saíram imediatamente, o maior número, ainda ficou a dançar as músicas que faziam ambiente na sala, enquanto provavelmente desejavam o regresso rápido para uma parte dois.
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Organização:Gig Club
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segunda-feira, 27 maio 2019