Reportagem Ed Sheeran em Lisboa
Zara Larsson
Era, sem sombra de dúvidas, o espectáculo mais aguardado do ano: o regresso de Ed Sheeran a Portugal. E logo para duas noites, em que balanços indicam que 120 mil (!) pessoas marcaram presença pelo Estádio da Luz.
Falou-se destes concertos como sendo o regresso de Sheeran a Portugal, mas este segundo carimbo no passaporte do britânico soube quase como uma estreia. Essa, porém, fez-se em 2014, quando o músico abriu as honras para Lorde e Arcade Fire no Rock in Rio, isto numa altura onde somente + (plus) o acompanhava na bagagem.
Desde então, passaram-se uma mão cheia de anos, tempo suficiente para que os milhões de visualizações de “A-Team”, “Lego House” e “Gimme Love” dessem origem aos biliões de “Shape of You”, “Perfect” e “Thinking Out Loud”, números que não só levaram Ed Sheeran a esgotar estádios pelo mundo fora, mas como também o tornaram num dos músicos mais rentáveis da atualidade. Coisa pouca, portanto.
Na segunda de duas noites, a euforia desmedida não dava indícios de querer acalmar, com a festim pelo estádio a começar bem antes do concerto: entre t-shirts alegóricas ao artista, pinturas, cartazes e muita, muita cantoria à mistura - a lição estava bem estudada - tudo estava a postos para o regresso do cantautor a Portugal. Ressalva ainda para a bela e heterogénea claque que ia compondo o Estádio da Luz, onde a alegria das milhares de famílias sobressaía.
Com pontualidade britânica, e depois de Zara Larsson e James Bay terem dado o ar de sua graça, o fechar das luzes do estádio levou, como seria de esperar, as 60 mil pessoas à loucura, com esta a subir mais um nível quando Edward Christopher Sheeran sobe finalmente a palco e lança-se no seu one man show, para delírio das massas. O pontapé de saída fez-se ao som dos dois primeiros temas de arranque de ÷ (divide), “Castle on the Hill” e “Eraser”, fazendo-se desde cedo jus à actual tournee do artista. De seguida, uma versão quase balada de “The A Team” dava a conhecer a veia goleadora de Sheeran: três disparos, três golos. A noite mal tinha começado e já cheirava a goleada.
Se na época de 2018/2019 o menino bonito do Estádio da Luz dava pelo nome de João Félix, este jogo de (pré) pré época teve Ed Sheeran como MVP. Enquanto o número 79 do Benfica joga com mais 10, o cenourinha de Halifax vai a campo sozinho: viola pela camisola e um looper por baixo das chuteiras. Está feito e basta, os golos estão assegurados, nem sendo necessária a ajuda de Justin Bieber para meter um estádio a inteiro a cantar “I Dont Care”; “ontem tive o público mais barulhento da minha tournée. Será que vão conseguir superá-lo?”, desafiou o cantor, e os indícios asseguravam que o seu pedido fosse concretizado.
Cantar é uma constante num concerto de Sheeran; “se não cantarem todas as palavras comigo então não estão no concerto certo”, disse a certa altura. Não foi necessário mandar tais achas para a fogueira, claro, ou não tivessem os devotos de Ed Sheeran todas as letras na ponta da língua, cantando-as até ao mais ínfimo detalhe e mudando rapidamente o chip ao som dos medleys de “Lego House/Kiss Me/Give me Love”, a que se juntou “All The Stars” dedicada a uma fã portuguesa, ou “Poor Wayfaring Strange/I See Fire”.
Oscilando entre baladas como a muy celebrada “Thinking Out Loud”, a febre dançante de “Galway Girl”´, registos a puxar pelo rap em “Eraser” e da energia contagiante de “Sing”, tão festiva como quando se estreou no Rock in Rio, há 5 anos, é incrível a forma como Ed Sheeran consegue comandar tão vasta plateia sem perder o ritmo e o gás pelo meio. Para todos aqueles que esperaram horas a fio por filas intermináveis – “muito obrigado por terem esperado por mim tanto tempo ao calor”, diria perto do fim – era inquestionável que Ed Sheeran lhes proporcionara o concerto de uma vida.
Já em períodos de compensação, a maior celebração da noite fez-se ao som de “Shape of You”, mas seria a velhinha “You Need Me, I Dont Need You” a dar a noite como terminada. Se na época passada, o Estádio da Luz festejou um impressionante 10-0 contra o Nacional da Madeira, Ed Sheeran arrancou a nova época com uma goleada com números igualmente impressionantes. Só que desta vez, não foram apenas os benfiquistas que celebraram.
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sábado, 23 novembro 2024