Reportagem Moonspell em Lisboa
Silver Dust
Só uma banda portuguesa da dimensão dos Moonspell é que faria tantas pessoas saírem de casa para assistir a um concerto, numa terça-feira, um dia de trabalho. A banda foi ao Capitólio apresentar pela última vez, o álbum "1755", sendo que já havia dado um concerto de apresentação deste álbum, também em Lisboa, no LAV (Lisboa ao Vivo). Não era surpresa para os fãs lisboetas verem a banda tocar temas deste disco, até porque os Moonspell já tinham tido oportunidade de o fazer, embora com menos tempo de atuação, na sua estreia no VOA Heavy Rock Festival. Este espetáculo no Capitólio também tinha outro atrativo, nada mais nada menos que os Rotting Christ, que estão de resto a acompanhar os Moonspell, em todas as datas de uma extensa tour europeia.
Quem também está a acompanhar a banda portuguesa e o gregos são os Silver Dust, detentores de uma sonoridade distinta das praticadas pelos outros nomes do cartaz. Este quarteto suíço, liderado pelo vocalista/guitarrista Lord Campbell, o elemento que se destacou mais durante a performance do grupo, pratica uma sonoridade algo alternativa, por vezes até mesmo com riffs nu-metal, com contornos de metal gótico e industrial. A influência de System Of A Down foi notória nalguns momentos, sendo que o visual da banda é mais marcado pelo steampunk. A banda, com o apoio de um ecrã que foi passando imagens, entreteve a audiência q.b., sem deslumbrar, mas também sem aborrecer. O cantor e porta-voz da banda pediu, já no penúltimo tema do concerto, para o público se baixar e depois saltar, à semelhança do que os Slipknot fazem nos espetáculos, mas a adesão por parte do público foi diferente, como já seria de esperar. Apenas o público presente nas filas da frente, "obedeceu" a Lord Campbell nesse momento.
Se os Silver Dust, mesmo tendo começado a tocar às 19:30, ainda para mais num dia de trabalho, já tinham tido a oportunidade de tocar para um bom número de pessoas, à hora que os Rotting Christ começaram a atuar, já a sala de espetáculos, situada no Parque Mayer, se encontrava repleta de público para assistir às duas bandas principais da noite, mas claro que quando começou Moonspell a enchente era ainda maior. A banda dos irmãos Sakis Tolis e Themis Tolis, desta feita já não pôde vir acompanhada pelo guitarrista George Emmanuel e do baixista Vagelis Karzis que foram substituídos pelos novos membros, que atuam ao vivo com os Rotting Christ, Giannis Kalamatas e Kostas Heliotis, respetivamente. A presença em palco não foi a mesma sem os dois músicos que saíram, embora o novo baixista que acompanha a banda tenha já mostrado um grande à vontade. Já o guitarrista teve uma presença algo rígida em palco, estando mais concentrado em tocar o seu instrumento. Musicalmente o concerto foi muito positivo e apesar de não serem os cabeças de cartaz, os Rotting Christ tiveram direito a tocar uma dúzia de temas, o que seguramente deixou os fãs da banda extremamente contentes. A banda continua a ignorar os temas do excelente "Theogonia" (2007), e centrou-se mais uma vez em faixas de "Kata Ton Daimona Eaytoy", que diga-se de passagem também é um ótimo disco. Do álbum lançado este ano, ao contrário do que era expectável, só tocaram dois temas: "Fire, God and Fear" e "Dies Irae". Do álbum anterior, "Rituals", tocaram a tribal "Apage Satana", com bons resultados. Mas as melhores do concerto foram mesmo "Kata Ton Daimona Eaytoy" e a sequência final, com a habitual cover de "Societas Satanas", a épica "King of a Stellar War" e as já obrigatórias "In Yumen-Xibalba" e "Grandis Spiritus Diavolos". A recordação "Non Serviam" naturalmente terminou um concerto de nota alta, que obteve uma boa reação por parte do público.
Os Moonspell não são só a maior banda de metal nacional, como são um dos nomes mais populares do metal em Portugal, a nível geral. Tal explica a enorme afluência de fãs no Capitólio, que não se fartam de ver o quinteto ao vivo. Este concerto em Lisboa, foi o 13º de meia centena de concertos marcados, nesta que é provavelmente a maior digressão europeia, da história da banda. Sendo uma tour de apresentação do mais recente álbum, "1755", a atuação incidiu principalmente em temas desse trabalho. No entanto, desta feita não foram tocadas todas as músicas desse álbum, como aconteceu no final de 2017, quando o grupo atuou no LAV - Lisboa ao Vivo. Do disco mais atual destacaram-se com facilidade "In Tremor Dei", "Evento" e "Todos os Santos", três temas com condições para perdurarem nos alinhamentos de concertos da banda, no futuro, principalmente a última, que é sempre recebida de forma efusiva. A setlist deste concerto foi mais equilibrada e até houve direito a "Abysmo", tema do tantas vezes esquecido "Sin / Pecado", álbum que terá direito a relançamento já no dia 13 do próximo mês. De resto, este concerto, mais do que uma apresentação de "1755", foi um desfilar de clássicos. "Em Nome Do Medo", "Opium", "Night Eternal", "Extinct", "Everything Invaded", "Mephisto", "Vampiria", "Alma Mater", "Full Moon Madness" e a não programada "Ataegina" são temas que quer em Portugal, quer em qualquer parte da Europa ou do Mundo, justificam o preço do bilhete para um concerto de Moonspell. Ainda para mais quando são interpretados por uma banda super profissional na execução dos seus temas, como é a banda de Fernando Ribeiro, Ricardo Amorim, Pedro Paixão, Mike Gaspar e Aires Pereira. Fernando Ribeiro dedicou (segundo o mesmo) pela primeira vez um tema aos seus companheiros de banda, merecidamente, e nós agradecemos aos cinco pela boa música que nos têm dado ao longo dos anos e por representarem tão bem Portugal além fronteiras.
Obrigado, Moonspell!
-
segunda-feira, 11 novembro 2019