Reportagem Alter Bridge em Lisboa
Shinedown
Após duas bem-sucedidas presenças no Coliseu dos Recreios, desta feita os Alter Bridge encheram outro amplo local lisboeta, a Sala Tejo da Altice Arena, num dia em que, curiosamente, Bryan Adams atuou na sala principal do maior recinto de concertos indoor do país.
Se na última vez, os Alter Bridge tiveram a companhia da banda do filho de Bruce Dickinson, dos Iron Maiden, desta feita a banda que abriu a noite de concertos foram os The Raven Age, grupo que conta com o guitarrista George Harris, filho de Steve Harris... dos Iron Maiden. Os The Raven Age até não são completos desconhecidos em Portugal. E porquê? Porque atuaram no nosso país nas últimas duas passagens dos Iron Maiden por Portugal!
Curiosidades à parte, a sonoridade dos The Raven Age tem muita melodia, à semelhança da banda do pai de George Harris, mas as parecenças ficam por aí, porque os The Raven Age praticam um som bem mais moderno do que a lendária banda de heavy metal. O facto desta banda contar com um filho de um membro de uma banda desse nível, pode dar uma responsabilidade acrescida, ao invés de chamar fãs para o projeto.
Os The Raven Age bem se esforçam e não tocam mal mas o seu metalcore sem vocalizações agressivas continuou a não convencer neste concerto. Por mais vezes que passe por Portugal, esta banda só se destacará quando apresentar temas um pouco mais memoráveis e uma sonoridade mais própria. Esperamos que na próxima passagem por Portugal, os The Raven Age já tragam na bagagem outros argumentos.
Já a banda seguinte, os norte-americanos Shinedown, estão noutro patamar quer em termos musicais quer a nível de presença em palco. Convidados pelo próprio Mark Tremonti para abrirem para os Alter Bridge nesta tour, conforme o seu vocalista contou ao público durante este concerto, os Shinedown revelaram-se uma mais-valia para o espetáculo, o que nem sempre acontece com as bandas de suporte.
Pela primeira vez em Portugal, o quarteto teve uma prestação de se tirar o chapéu, tendo beneficiado de o seu rock pesadão combinar na perfeição, com o tipo de público que ouve Alter Bridge. Além dos mais, muitos dos espectadores mostraram conhecer bem alguns dos temas de Shinedown, tendo acompanhado as linhas vocais de Brendt Smith. A sonoridade apresentada pelo grupo, apesar de encaixar muito bem numa noite destas, é bastante própria e distinta da música dos headliners, o que tornou aquela hora em que tocaram, um momento único e que justifica uma nova presença de Shinedown, na próxima vez em nome próprio, num futuro próximo. Ficou demonstrado que há público para isso.
A performance focou-se bastante em temas do mais recente trabalho da banda, "Attention Attention", com a enérgica "Devil" a abrir o espetáculo em grande estilo, sendo que as orelhudas "Monsters" e "Get Up" afiguraram-se como destaques na primeira metade do concerto. Digna de registo na fase inicial do concerto foi também a pesadona "Enemies", com a qual os Shinedown colocaram a maior parte do público a saltar e a bater palmas. O heavy rock contemporâneo de "Cut the Cord" também foi bem recebido pelos presentes, sendo que muitos deles, posteriormente, cantaram as baladas "Second Chance" e "Simple Man" (cover de Lynyrd Skynyrd). Ao ouvirmos uma música com a força de "Sound of Madness", perante uma sala de espetáculos cheia e rendida, não podemos de modo algum dizer que o rock está morto, como alguns pseudo conhecedores de música afirmam. "Brilliant" foi a faixa escolhida para o término de um espetáculo digno do nome dessa música.
Se para outra banda que tocasse em seguida, os Shinedown teriam colocado a fasquia demasiado elevada, quem já conhecia a valia dos espetáculos dos Alter Bridge, sabia que estes iam corresponder às expectativas sem qualquer problemas. Discussões à parte acerca da justiça do resultado da recente votação dos leitores da Guitar World, para melhor guitarrista da década, que Mark Tremonti venceu, é um facto que este é um enorme guitarrista. Tremonti é um verdadeiro rockstar dos tempos modernos, sem a conotação negativa que esse adjetivo lhe possa trazer, porque ele é um guitarrista extremamente talentoso, capaz de excelentes riffs e solos cheios de feeling, bem como de criar grandes composições, sem excessos de virtuosismo. Além do mais, é um músico que não se envolve em polémicas dignas de rockstars, dos tempos antigos. Uma palavra também para Myles Kennedy que, além de ser também um ótimo guitarrista, é um dos vocalistas em maior destaque da atualidade, acumulando excelentes desempenhos quer nos Alter Bridge quer a acompanhar o lendário Slash, como tivemos a oportunidade de testemunhar, num concerto recente do guitarrista dos Guns N' Roses, no Campo Pequeno. Menos em destaque mas também importantes e sólidos nas performances dos Alter Bridge, temos de referir o baixista Brian Marshall e o baterista Scott Phillips, secção rítmica que já acompanha Mark Tremonti, desde os tempos dos Creed.
Estes músicos dos extintos Creed, juntamente com Myles Kennedy, já são detentores de uma respeitável carreira, com seis álbuns, a contar com o mais recente "Walk the Sky", que vieram apresentar nesta noite. Precisamente por virem tocar esse trabalho, começaram a sua performance com o único tema do mesmo que já conta com um vídeo, "Wouldn't You Rather", sendo que os fãs da banda mostraram de imediato que o conhecem bem. Uma boa entrada em palco, que teve seguimento com as pesadas "Isolation" e "Come to Life" com muitos dos presentes a abanarem as suas cabeças ao som da primeira e a cantarem na segunda logo desde o verso. Uma incrível reação ao primeiro trio de temas. "Brand New Start" e a nova "Pay No Mind" até acalmaram um pouco os ânimos mas por pouco tempo.
Como os Alter Bridge são campeões dos temas catchy no rock mais contemporâneo, com refrões prontos a serem cantados por um recinto cheio de público, foi isso mesmo que aconteceu em "Ghost of Days Gone By". Um dos temas mais densos do novo álbum, "Native Son", não foi esquecido nesta noite e obteve uma boa recetividade. "Rise Today" foi naturalmente um dos momentos da noite, se é que se podem falar de momentos altos num concerto que foi quase todo de excelente nível, na interpretação dos temas e na reação dos fãs. "Take the Crown", mais um novo tema pesado, mostra aquilo que é uma constante em "Walk the Sky": não há hits como noutros trabalhos mas o álbum mais recente da banda é muito sólido na sua generalidade e mostra uma banda que não amoleceu com a idade. Aproximava-se o final do concerto e adivinhava-se um desfilar de clássicos, que começou com "Cry of Achilles" e com um público incansável a bater palmas e a cantar o refrão a plenos pulmões. As novidades estavam quase a terminar e ouviu-se "Forever Falling", com Mark Tremonti a assumir e bem os vocais neste tema. Seguiu-se uma sempre arrepiante ao vivo, "Watch Over You", aqui com Myles em formato acústico, a cantar o tema acompanhado pela sua guitarra, para a meio do tema, os seus companheiros de estrada entrarem e juntarem-se ao talentoso vocalista/guitarrista. De qualquer modo, Myles Kennedy não se encontrava sozinho, pois estava a ser acompanhado por uma sala de espetáculos esgotadíssima, que cantou a música com ele, desde o início até ao fim. A "Stairway to Heaven" dos Alter Bridge, "Blackbird", é um daqueles temas fora de série, que não pode ficar de fora de uma setlist e por isso a banda guardou-o para o final, sendo que o público acompanhou a excelente interpretação de Myles Kennedy a nível vocal e ainda teve direito a escutar os soberbos solos por parte de Kennedy e Tremonti.
O êxito "Open Your Eyes" manteve o nível do tema anterior e a poderosa "Metalingus" colocou os espectadores todos a saltar, depois de se terem baixado, tudo isto a mandado da banda. Quase que era desta que a Sala Tejo ia abaixo! Depois de uma breve saída de palco, durante a qual o público começou logo a chamar pela banda, o ilustre quarteto regressou para tocar "Godspeed", um dos temas mais catchy do último álbum e finalizou a sua impressionante performance com a já inevitável "Addicted to Pain".
Um concerto 5 estrelas, por parte de uma banda que se apresentou em plena forma, tendo mostrado que ainda tem muito para dar ao rock e aos seus fãs.
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terça-feira, 10 dezembro 2019