Reportagem Ghost em Lisboa
All Them Witches
Os Ghost, banda do sueco Tobias Forge, o vocalista, multi-instrumentista e compositor que foi considerado, há poucos dias, o artista da década no Metal, pelo famoso website Loudwire, regressaram a solo nacional para um concerto em nome próprio, depois de há uns curtos sete meses terem ficado encarregues da abertura da maior banda do género, os Metallica.
Os conterrâneos dos Ghost, Tribulation, foram uma forte escolha para começar a noite de concertos mas apesar da performance positiva, o som da sala durante esta atuação estava muito fraco, não tendo dado para apreciar a muito interessante sonoridade da banda, como esta merecia.
Os suecos aproveitaram o tempo que tiveram para tocar o máximo que puderam, sete músicas ao todo, não gastando muitos segundos a interagir com o público. A banda "esqueceu" os seus primeiros dois álbuns, mais death metal, tendo apresentado a sua sonoridade atual com quatro temas do mais recente "Down Bellow" e três do seu antecessor, "The Children of the Night". Um espécie de metal gótico negro e melancólico fundido com black n' roll, distingue a banda dos seus pares, mas neste concerto mal se percebiam as ótimas melodias e as nuances da sua música, por isso esperamos que, para a próxima, a banda beneficie de um som mais ao nível da sua música e que assim o público português consiga apreciar condignamente os seus temas.
A banda oriunda de Nashville, All Them Witches, à partida não seria tão apelativa para muitos dos presentes como a anterior, principalmente para os mais fãs de metal, mas este trio surpreendeu e acabou até por ser bastante aplaudido ao longo do espetáculo. A performance do grupo foi boa e enérgica, tendo beneficiado do melhor som da noite.
Este grupo é relativamente recente, foi formado em 2012, mas já conta com vários trabalhos na bagagem e teve direito a tocar nove temas, que deixaram o público entretido enquanto esperava pelo prato principal da noite. Mas o stoner/desert rock desta banda foi um muito razoável aperitivo para o que aí vinha e uma Sala Tejo já cheia de espectadores presenciou a uma boa banda, que pode até não trazer nada de novo ou ter o apelo de uns Ghost, mas que teve o mérito de conseguir superar as expectativas.
Tem sido muito interessante verificar a evolução deste fenómeno, intitulado Ghost, liderado por Tobias Forge, neste momento chamado Cardinal Copia. Desde que vieram a Portugal pela primeira vez em 2015, ao Paradise Garage, muito se passou. Disputas legais com ex-membros à parte, o que há a destacar é o crescimento dos Ghost, que em 2017 vieram também à Sala Tejo da Altice Arena e estiveram longe de esgotar a sala, apesar de terem tido muito público a vê-los. Já este ano atuaram para mais de 40 mil pessoas no Estádio do Restelo, como banda de abertura dos Metallica (que são fãs de Ghost), tendo agora esgotado a Sala Tejo, neste espetáculo em nome próprio, com produção já digna de banda grande.
A reação por parte do público foi bastante efusiva logo desde os acordes iniciais, fruto de uma entrada fortíssima com "Rats", "Absolution" e "Faith". Muitos fãs mostraram que já têm o refrão "Mary on a Cross" na ponta da língua, o que é algo a destacar, tendo em conta que o EP de onde os Ghost retiraram esse tema foi editado há somente dois meses. Tal demonstra que o público se encontra muito recetivo a tudo a aquilo que a banda de Tobias Forge lança e que este continua a compor músicas apelativas, mesmo as do novo EP que parecem saídas diretamente dos final dos anos 60. Seguiu-se "Devil Church" e um divertido duelo entre os guitarristas. "Cirice" já é um clássico da banda e do metal e foi recebido como tal na sala de espetáculos lisboeta, tendo a banda recebido uma grande ovação no final e até se ouviram gritos histéricos. Nesta altura já se percebia que a banda que acompanha o Cardinal Copia é uma máquina cada vez mais oleada, que cumpre muito bem o seu papel secundário mas ao mesmo tempo principal. Claro que o destaque vai quase todo para o vocalista, que é cada vez mais detentor de uma grande presença em palco e sente-se cada vez melhor na pele de um verdadeiro rockstar, algo raro nos músicos de rock/metal do século XXI.
Chegou o momento do líder descansar e dar protagonismo aos seus nameless ghouls, que interpretaram da melhor forma "Miasma", tema instrumental presente no álbum "Prequelle". Deu tempo para o frontman da banda mudar de vestimenta para a cor branca, tendo regressado numa pequena bicicleta, para cantar a peculiar "Ghuleh/Zombie Queen". Depois de a banda tocar o início da instrumental "Helvetesfönster", Tobias Forge regressou ao palco após uma breve ausência, agora trajado com um verdadeiro Papa, embora vestido de negro, para cantar "Spirit", tema de abertura do excelente "Meliora" (2015). Melhor do que a primeira música de "Meliora" só se for a segunda do mesmo álbum e assim aconteceu, "From the Pinnacle to the Pit" foi tocada para delírio dos seguidores dos Ghost. O incansável Cardinal Copia apelou aos seus imensos súbditos para meterem os braços no ar na parte final do tema e todos obedeceram. Seguiu-se mais uma incrível reação a uma poderosa mas catchy "Ritual", clássico do disco de estreia que deu a conhecer os Ghost ao mundo. "Satan Prayer", tema também retirado de "Opus Eponymous", também foi tocado e soou bem poderoso mas Tobias Forge bem se esforçou para incentivar o público a cantar o refrão, com relativo sucesso. Claro que "He Is" e "Year Zero", as músicas que se seguiram, são bem mais apelativas para cantar e nem foi preciso o carismático vocalista pedir para todos se juntarem a ele, sendo que o final da segunda até teve direito a fogo no palco. Tobias Forge perguntou aos fãs se gostam de músicas realmente pesadas e estes responderam, obviamente, de forma afirmativa. Claro que o cantor estava a preparar todos para "Mummy Dust", o tema mais poderoso de "Meliora", que fez os presentes abanarem as suas cabeças entusiasticamente.
Não foi preciso os Ghost fazerem aquele número habitual de saírem de palco para voltarem para causarem mais impacto. Sem necessidade de encore, a banda do "artista de metal da década" guardou para a reta final do espetáculo três temas muito apelativos, a novidade "Kiss the Go-Goat", bem como os hinos de arena rock: "Dance Macabre" e "Square Hammer". As performances destes últimos temas levaram o público ao rubro e terminaram um espetáculo que demonstrou que os Ghost se encontram a um outro nível e estão prontos para ser uma das maiores bandas de rock/metal do futuro.
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segunda-feira, 16 dezembro 2019