Reportagem Attila no Porto
Sylar
HochiminH
Que belíssima noite de música pesada se viveu no passado domingo por todos aqueles que decidiram enfrentar o tempo medonho e deslocar-se ao Hard Club- felizmente ainda foram bastantes, bastava ver a longa fila que já se formava nos corredores minutos antes da abertura de portas - para testemunhar a estreia em Portugal dos Attila, assim como dos Veil of Maya e Sylar; no caso dos primeiros, o tão aguardado momento foi verdadeiramente assombroso e certamente que não abandonará a memória de quem o sentiu no corpo.
Bandas há muitas, perfeitamente capazes de proporcionar bons e até excelentes concertos, mas os Attila foram uma verdadeira revelação e ofereceram uma autêntica e implacável sessão de porrada sonora, que passados dias ainda arrepia só de pensarmos nela. A espera por este momento foi longa, demasiado longa -sobretudo com o intervalo que antecedeu o início da atuação –, mas a partir do momento em que estes rapazes de Atlanta,Georgia pisaram o palco deu-se uma maravilhosa “explosão”- de sons, de intensidade, de alegria e entusiasmo, era a vida a ser vivida como se o amanhã não fosse uma realidade.
“Proving Grounds” e “ Moshpit” foram os temas que iniciaram esta sublime comemoração, e a partir daí a banda nunca tirou o pé do acelerador e deu tudo – mas mesmo tudo, caramba – de forma a garantir que ninguém abandonava a sala insatisfeito e defraudado. Talvez o cenário idílico em que se encontravam – a tocar perante uma plateia que os recebeu logo de braços abertos, de tão eufórica que estava pela oportunidade de absorver, finalmente, esta experiência avassaladora – tenha funcionado como motivação extra para a criação de um surreal clima de entrega máxima, mas uma rápida visualização, no Youtube, de outras prestações dos norte-americanos mostra claramente que cada concerto de Attila é uma genuína, arrepiante e poderosa demonstração de amor à camisola. Goste-se ou não daquilo que fazem- e bem sabemos que os apreciadores mais conservadores de música pesada torcem o nariz a uma banda como esta, de metalcore e com fortes influências de nu -metal (a atitude exibida e mesmo o som que praticam trazem ocasionalmente à memória os Slipknot ou, se quisermos ir ao universo das bandas de metalcore abertamente inspiradas pelo legado do nu-metal, os Emmure) –, a verdade é que é impossível não respeitar a paixão do coletivo, assim como se ia tornando progressivamente difícil, à medida que o concerto avançava, não nos deixarmos contagiar pela atmosfera excitante à nossa volta, onde várias pessoas saltavam, aderiam a circle pits (nunca se esquecendo de apanhar os companheiros que caíam- é assim mesmo) e, acima de tudo, tentavam aproveitar cada valioso segundo desta potente celebração que pecou somente por ter chegado ao fim.
“There are no fucking rules at an Attila concert”, exclamou, a certa altura, o vocalista Chris Fronzak, cultivando deliberadamente um espirito de saudável irreverência, de rebeldia juvenil, que só contribuiu para agitar ainda mais uma plateia super animada e imparável. O curioso é que por muito que enfatizemos, através de inúmeros elogios, a soberba brutalidade da prestação dos Attila, ficamos sempre com a sensação que nenhuma palavra e nenhuma frase fazem jus à descarga de adrenalina que definiu esta passagem; seja como for, quem lá esteve sabe o quão especial e inesquecível tudo isto foi- os sorrisos estampados nos rostos dos fãs contavam histórias de satisfação e admiração.
“Queen”, “Villain” (do álbum do mesmo nome que vieram promover), “About That Life” ou “Party With the Devil” foram alguns dos temas que mais eficazmente aqueceram a audiência numa noite extremamente fria (só lá fora, claro, dentro da sala suava-se), mas inegavelmente memorável que terminou, já em encore, com a obrigatória “Pizza” – palavra entoada por uma sala inteira antes de a banda interpretar a música… foi mesmo bonito.
De resto, entre promessas de um regresso para breve ou declarações de amor à gastronomia local (Chris Fronzak adorou comer, pela primeira vez, francesinha), escreveu-se aqui o primeiro capítulo da história dos Attila com o nosso país; esperamos agora novas visitas.
Antes, Os Veil of Maya apresentaram uma sonoridade consideravelmente mais técnica e arrojada comparativamente aos restantes nomes no cartaz (uma sonoridade que, aliás, vai beber imenso ao djent, não ignorando as raízes no deathcore) e se, por um lado, impressionaram no modo como misturaram delicadamente peso e técnica, por outro faltou-lhes aquele elemento “mágico” que esteve presente no concerto de Attila e que o tornou tão formidável. Curiosamente, os nova-iorquinos Sylar revelaram-se o oposto dos Veil of Maya: bem menos interessantes a nível musical- um pouco genéricos até, influenciados pela era do nu-metal e com um toque de post-hardcore pelo meio, aqui e ali a piscar o olho aos Glassjaw de início de carreira sem chegar a produzir algo realmente surpreendente -, mas munidos de uma energia contagiante e admirável, ingrediente que usaram para proporcionar, em certos aspetos, um concerto superior ao dos Veil of Maya- os fãs que nos perdoem.
A abrir, os HochiminH, único nome português a subir ao palco nesta noite, brindaram-nos com uma dose de metalcore melódico que pode não ser inovadora, mas que nos soube extremamente bem por ter sido executada com competência, paixão e força; um grande aquecimento, sem dúvida, melhor para começar era impossível.
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segunda-feira, 23 dezembro 2019