Reportagem Dream Theater em Lisboa
É sabido que os Dream Theater contam com uma legião de fãs em Portugal, à semelhança do resto do mundo. Depois das bem-sucedidas passagens anteriores, pelos Coliseus de Lisboa e Porto, esta nova visita dos norte americanos ao nosso país, dividiu-se em duas datas - Gondomar e Lisboa - onde ambos os espetáculos foram merecedores de salas bem cheias, para assistir a todo o virtuosismo e musicalidade do coletivo.
Desengane-se quem compareceu a este espetáculo à espera de uma setlist mais variada e com temas mais antigos de álbuns como "Images And Words", "Awake" entre outros... Conforme o nome da tournée indicava - "The Distance Over Time Tour – Celebrating 20 Years of Scenes From A Memory" - o alinhamento do espetáculo iria basear-se bastante não só nesse marco do metal e da música em geral, "Metropolis, Part 2: Scenes From a Memory", bem como na mais recente novidade discográfica da banda, o ótimo disco "Distance Over Time". Portanto, para dia 2 de fevereiro era garantido que poderíamos contar com excelente música no Campo Pequeno.
Nas quase três horas de atuação, os Dream Theater presentearam-nos tocando na íntegra o seu álbum de 1999: "Metropolis, Part 2: Scenes From a Memory". Não obstante esta saborosa celebração, a banda de John Petrucci apresentou-nos também o seu mais recente trabalho, "Distance Over Time", tendo tocado mais de metade do mesmo. Existiu ainda tempo para os fortes temas de abertura de "Black Clouds & Silver Linings" e "Systematic Chaos": "A Nightmare to Remember" e "In the Presence of Enemies, Part I", respetivamente.
O espetáculo iniciou com James LaBrie a dirigir-se ao público com uma vénia, para começar a cantar um dos temas mais catchy do novo álbum, "Untethered Angel", com um público algo contemplativo. O primeiro momento fortíssimo foi a já acima mencionada, "A Nightmare to Remember", que valeu a pena ouvir, pese embora o fato de LaBrie não dar a agressividade necessária à parte que outrora era cantada por Mike Portnoy. O vocalista dos Dream Theater referiu, no final do tema, que era bom estar de volta à nossa fantástica cidade, antes de anunciar o regresso ao último trabalho com "Fall Into the Light" e "Barstool Warrior", temas cuja interpretação foi ligeiramente prejudicada devido à qualidade do som. Donos de uma sonoridade técnica e complexa, recheada de pormenores, o facto de o som não estar perfeito retirou algum impacto à atuação e isso notou-se principalmente nas primeiras 6 músicas. A anteceder a pausa que viria a dividir o espetáculo em 2 atos, houve tempo para "In the Presence of Enemies, Part I" e "Pale Blue Dot", pretextos para bons exercícios de virtuosismo, exibidos quer na primeira metade de "In the Presence of Enemies, Part I", quer no final de "Pale Blue Dot".
Depois da pausa para repor energias por parte do público e da própria banda, iniciou-se o segundo ato. Este sim dedicado a um dos melhores álbuns da história: "Metropolis, Part 2: Scenes From a Memory". Ainda que algo prejudicados por um som que melhorou substancialmente mas que ainda não se encontrava ótimo e com James LaBrie com algumas oscilações na sua prestação, os norte-americanos arrancaram para uma memorável prestação, ao voltar a tocar na íntegra este álbum, pela ordem que consta no CD: "Um prato cheio"!
O público esteve, no geral, pouco efusivo - talvez mais contemplativo - durante praticamente toda a atuação, manifestando-se um pouco mais em algumas faixas. Entre momentos mais calmos e intimistas e outros mais pesados ou progressivos, a banda lá foi conquistando uma boa parte dos presentes com a sua grande capacidade instrumental, se bem que Mike Mangini não se mostrou tão seguro nalguns dos temas deste trabalho emblemático, como nos temas dos "seus" álbuns. O momento menos gracioso, ocorreu no final de "Finally Free", no qual o baterista literalmente transmutou as suas partes. Mike Mangini é um baterista fora de série, quanto a isso não existem dúvidas, caso contrário nem poderia estar nos Dream Theater. No entanto, não podemos esquecer que ele substituiu um dos melhores entre os melhores, o outro Mike, o Portnoy. James LaBrie não teve uma prestação tão forte como por exemplo, na anterior passagem pelo Coliseu de Lisboa, mas em temas que combinam bem com a sua voz suave, como "Through Her Eyes" e "The Spirit Carries On" esteve bem acima da média. John Petrucci foi claramente quem brilhou mais, tendo "acordado" algumas vezes o público, com o domínio sublime que tem sobre seu instrumento, Jordan Rudess notabilizou-se também, ainda que tenha sido um pouco prejudicado, por vezes, pela mistura sonora. John Myung, o baixista de sempre, foi exímio na sua performance, destacando-se menos em palco apenas devido à sua postura discreta. Depois da interpretação completa de "Metropolis Part 2", os Dream Theater terminaram o espetáculo em bom plano, exintindo ainda alguns minutos para revisitarem o seu álbum mais recente, com "At Wit's End".
Valeu bem a pena! E porque não, daqui a 20 anos, um novo concerto comemorativo de "Metropolis, Part 2: Scenes From a Memory"? Estaremos lá todos de cabelo e barba branca a assistir a mais um momento memorável.
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quarta-feira, 05 fevereiro 2020