Reportagem Dream Theater
Para muitos, o anterior concerto destes mestres do metal progressivo, a 2 de fevereiro de 2020, havia sido o último, antes de o mundo dos espetáculos musicais ter parado, em virtude da pandemia que tanta mossa fez nas mais diversas áreas. Quase dois anos e três meses depois, o que para muitos terá sido uma eternidade, nada poderia ser melhor do que regressar à música ao vivo para assistir novamente a um conjunto de músicos do outro mundo como este. O local escolhido para este verdadeiro acontecimento foi, mais uma vez, o Campo Pequeno.
Desta feita o público não teve direito a quase três horas de Dream Theater, como na anterior ocasião, na qual tocaram o álbum clássico "Metropolis, Part 2: Scenes From a Memory", bem como alguns outros clássicos e temas recentes. Nesta vez, o grupo de John Petrucci presenteou os fãs com sensivelmente duas horas e dez minutos de música, mas trouxe um nome ilustre que ficou encarregue dos primeiros sessenta minutos de música: Devin Townsend, um daqueles verdadeiros artistas aos quais lhe serve na perfeição o título de convidado especial, ao invés de ser meramente uma banda de suporte.
Devin Townsend pode não ter uma falange de seguidores tão numerosa como os Dream Theater, mas é um nome incontornável na música pesada progressiva das últimas décadas. O músico canadiano apresentou-se ao público faltavam apenas dois minutos para as 20:00, tendo-se mostrado desde logo comunicativo, como é seu apanágio, apesar de não ter havido tanto tempo para falar e brincar com os espectadores como noutras ocasiões. Devin perguntou ao público se estava pronto e, juntamente com os músicos que o acompanham presentemente, começou por tocar "Failure", faixa do álbum "Transcendence" que resultou bem no contexto desta noite, com Devin a pontuar no refrão e no solo de guitarra. Uma parte dos presentes nas filas da frente da plateia entusiasmou-se na abertura da inevitável "Kingdom", música que teve direito a uma sempre exuberante performance do vocalista/guitarrista. Ziltoid foi revisitado com a pesada "By Your Command", sendo apenas pena o som não estar perfeito. Por esta altura, a sala de espetáculos já estava a ficar bastante preenchida, e o público terminou este tema acompanhando o poderio instrumental, com os braços no ar. Perante uma reação crescente, Devin respondeu com um obrigado, proferido em bom português. Seguiu-se um dos momentos mais poderosos e velozes desta primeira hora musical da noite: a performance de "Aftermath", clássico dos Strapping Young Lad, a banda mais "extrema" da qual Devin Townsend fez parte. Uma oportunidade para os fãs de longa data da carreira do músico se deliciarem com o momento e fazerem um pouco de headbang. A riqueza do percurso discográfico de Devin foi ainda mais explorada com "Regulator", velhinho tema do seu primeiro disco a solo. O início da emblemática "Deadhead" teve direito a gritos por parte dos fãs. O músico agradeceu aos seus seguidores, desejou-lhes paz e arrancou para o momento mais calmo e intimista de toda a atuação. Seguramente muitos dos presentes sentiram a nostalgia de voltarem a passar por momentos destes em espetáculos repletos de seres humanos. Antes de começarem a debitar os derradeiros temas, Devin Townsend não se esqueceu de dizer um "muito obrigado por estarem lá e por terem sobrevivido aos últimos anos". A inevitável "March of the Poozers" não foi esquecida e colocou o público a fazer a contagem decrescente e a fazer headbang. A frenética "More" colocou um ponto final a um espetáculo eclético e muito acima da média que abrilhantou a noite da qual os Dream Theater foram naturalmente os reis.
Pelas 21:15, perante uma sala de espetáculos repleta de fãs para os receber, os Dream Theater protagonizaram com um excelente arranque com a recente "The Alien", que mostrou desde logo uns Dream Theater em topo de forma e como fome de se divertirem a fazer aquilo que gostam. A voz de James LaBrie apresentou-se acima da média e soube bem voltam a escutar estes instrumentistas de nota máxima a tocar. "The Alien" é um excelente tema que fez a banda ganhar pela primeira fez um grammy, algo que só peca por tardio face à qualidade de grande parte dos temas da sua superior discografia. Antes de os Dream Theater voltarem aos temas do seu mais recente álbum, tocaram o clássico "6:00", que levou muitos fãs a cantarem o refrão a plenos pulmões. É importante realçar que este foi o único tema dos primeiros álbuns da banda a ser tocado, o que mostra uma banda que não vive à custa dos louros do passado. LaBrie referiu que é bom estar de volta e que a banda adora vir a Portugal. O público respondeu com uma grande salva de palmas e obviamente com a sua comparência, o que demonstra que muitos portugueses também adoram os Dream Theater. "Awaken the Master" soou bem, como se de um clássico se tratasse, tendo-se seguido o maior momento da primeira metade do concerto, a performance de "Endless Sacrifice" que retratou na perfeição a musicalidade, virtuosismo e peso da singular banda norte-americana. O público respondeu com palmas e gritos ensurdecedores. "Bridges in the Sky" e o seu excelente refrão também abrilhantaram a noite, sendo que, no final deste tema, o vocalista referiu que finalmente os Dream Theater ganharam um grammy e que a banda estava contente por ter Devin Townsend nesta tour. LaBrie disse também que nos encontrávamos a celebrar a música que nos une mais do que qualquer outra coisa.
Ao continuar a apresentar o mais recente álbum "A View From The Top Of The World", a banda decidiu tocar a mais simples mas igualmente contagiante "Invisible Monster". "About to Crash" deu a oportunidade a Jordan Rudess para brilhar no início e acabou com Petrucci naturalmente a assumir o protagonismo. De seguida, sem sequer pararem, os Dream Theater avançaram para o trio de temas épicos que terminou o espetáculo com elevada nota artística: "The Ministry of Lost Souls", "A View From the Top of the World" e "The Count of Tuscany". A primeira das três começou com o seu início baladesco que teve direito a algumas luzes de telemóveis a iluminar o recinto. Petrucci incentivou o público a bater palmas para acompanhar a secção instrumental deste tema do álbum "Systematic Chaos", solicitação que foi aceite de bom grado por um público sequioso de voltar a participar em momentos como os desta noite. O longo tema-título do novo disco do grupo, lançado em 2021, também não podia ficar de fora face à sua grandiosidade. É um dos temas fortes do mais recente disco e mostra que a banda ainda tem muitíssimo para dar apesar das suas já mais de três décadas e meia de percurso musical. A banda saiu por momentos do palco perante um público entusiasta que não tinha qualquer vontade de arredar pé. Depressa o grupo voltou para o último tema que, conforme foi escrito atrás, foi "The Count of Tuscany", uma música repleta de grandes momentos e que interpretados ao vivo ainda ganharam outra dimensão, como foi o caso do arrepiante solo do lendário guitarrista do grupo.
Pareceu ter valido o tempo de espera por concertos e particularmente por espetáculos dos Dream Theater. Os americanos apresentaram-se em grande forma, com um alinhamento de bom gosto e um ótimo álbum na bagagem. Arrisco-me a afirmar que este terá sido o melhor concerto do grupo em solo português desde que Mike Mangini assumiu as baquetas dos colossos da música pesada progressiva
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Organização:Everything is New
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quinta-feira, 21 novembro 2024