Sigur Rós
Passada quase uma década desde a sua última passagem pela capital, os Sigur Rós regressaram a Lisboa para dar o arranque à sua mais recente tournée europeia. De regresso à sala onde tanto foram felizes no 14 de fevereiro de 2013, a banda post-rock de culto islandesa repetiu a dose e enfeitiçou o Campo Pequeno ao longo de quase três horas de concerto que demonstraram como é que o trio islandês passou de segredo bem guardado para um dos mais entusiasmantes projetos musicais europeus do que há memória.
Mas vamos por partes. O mundo mudou, e muito, desde 2013, com o pináculo das mudanças a ganhar maior evidência de 2020 para cá. Pelo meio de todas estas alterações súbitas, tingindo em tons de negro a outrora tela colorida que banhava o planeta, muitos são aqueles que encontram paz ou a plenitude nas lembranças fortes do seu passado: chamemos-lhes de ‘escapes’ para o conforto. E ao longo de mais de vinte anos de carreira, a discografia dos Sigur Rós tornou-se na banda sonora de eleição para estes cenários idílicos.
Dando sustento à premissa dos cenários, o palco do Campo Pequeno decorou-se com um arranjo de variadas e extensas cordas – mais tarde, as mesmas assimilar-se-iam no impressionante jogo de luzes da banda – e de uma quantidade de lâmpadas de se perder a vista. E foi na companha destas lâmpadas, que se ligavam/desligavam com o pautar das notas, que os Sigur Rós subiram a palco na companhia dos três primeiros temas que compõem o terceiro disco sem nome ( ): “Vaka”, “Fyrsta” e “Samskeyti”, uma entrada feita em pezinhos de lã, mas que lançou o mote para a noite de gala.
Depois de Kveikur, ainda a datar de 2013, a promessa do regresso dos Sigur Rós aos discos está para o próximo ano. Nesse sentido, a noite fez-se em registo de greatest hits, com particular incidência de ( ), a celebrar vinte anos, e Takk, o disco de maior sucesso da banda. Todavia, os primeiros grandes êxitos da noite foram resgatados de 1999, com “Svefn-g-englar” a não só ser aplaudida, mas como também, e quiçá principalmente, sentida, dando início a um transe que hipnotizou a grande maioria da sala, com os rasgos finais de “Ný Batterí” a converter os restantes.
Numa altura em que o público já estava refém nas mãos dos Sigur Rós, “Dauoalagio” e os seus treze minutos fúnebres exemplificaram o melhor que o post rock exímio dos islandeses consegue alcançar, num misto de emoções que ninguém teve dificuldades a digerir. Poucos momentos depois, porém, a banda brindou a sala com um intervalo técnico de 20 minutos, rompendo o ascendente transe que predominava na sala e que, recorrendo ao calão utilizado do dia-a-dia, poderia ser categorizado como um enorme “corta t*sas”.
Regressados a palco, e com umas pequenas alterações na disposição do mesmo, o arranque fez-se ao som de “Glósóli”, não sendo descabido de se interpretar esta escolha como se de um pedido de desculpas se tratasse face ao longo intervalo momentos antes. Seguindo-se “E-Bow” e “Ekki Múkk”, o cardápio da segunda parte do concerto ia ficando marcado pela presença forte dos temas maiores dos Sigur Rós, exemplificado logo de seguida com “Saeglópur”, que na ausência de “Hoppipolla” foi a mais celebrada da noite, e “Gong”.
Com o aproximar do fim da noite, isto numa altura em que o concerto já atingia as duas horas e meias de duração, o galopante ritmo de “Festival” arrancou umas quantas palmas do público para pautar o seu ritmo, terminando de forma tão satisfatória que poucos ficariam desapontados de o desfecho se fizesse ali. Mas quem acompanha os Sigur Rós sabe que o término, e como manda a tradição, é feita ao som da última canção, a “Popplagio”, cujo destrutivo clímax deixou o público em apoptose e de coração cheio, terminando a noite com chave-de-ouro e com o desejo de que o regresso dos Sigur Rós não demore quase uma década a realizar-se novamente.
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sexta-feira, 22 novembro 2024