Royal Blood
Em julho passado deu-se a quarta passagem dos Royal Blood por Portugal, e logo com uma tarefa hercúlea em mão: abrir as hostilidades para os Metallica, um dos headliners do NOS Alive’22. Na altura, Typhoons, terceiro disco de originais, pouco abalo fez na muralha negra que não arredava das grades à espera da banda de “Enter Sandman” e, inevitavelmente, essa quarta passagem dos Royal Blood por palcos lusos teve o seu quê de inglória. Agora, e nem um ano passado desde essa ocasião, a banda britânica regressou a Portugal para um concerto em nome próprio e, desta feita, passou no teste com distinção.
A relação dos Royal Blood com Portugal remonta desde 2015, ano em que se estrearam num Coliseu dos Recreios a abarrotar, e isto depois de um upgrade ao (agora) extinto Armazém F. Voltados 8 anos, o Campo Pequeno não se encheu como em ocasiões anteriores – concertos em nome próprio no mês de julho, com tantos festivais a acontecerem ao mesmo tempo, leva a escolhas difíceis – mas aqueles que marcaram presença, vinham com a lição bem estudada e sedentes por uma noite ruidosa e de ode ao rock; ou pelo menos, aquilo que nos dias de hoje é catalogado como sendo do ‘rock’.
Quase como em jeito de despedida ao ciclo iniciado por Typhoons, visto que o quarto longa duração está quase aí à porta – do futuro disco ouviram-se “Mountains at Midnight” e “Pull Me Through”, esta última uma estreia absoluta – Mike Kerr e Ben Thatcher focaram grande parte do seu tempo neste enérgico álbum, com o extenso uso de sintetizadores a convidarem para um ou outro pezinho de dança. Todavia, para abrir, ameaçaram um concerto a roçar o jeito de best of, com a escadinha temporal de “Hole”, “Come On Over”, “Lights Out” e “Boilermaker” a deixar o público à sua mercê.
Já com uma fervorosa plateia a acompanhá-los, fosse no trauteio de riffs como no berro de refrães, o comboio dos Royal Blood não mostrou qualquer sinal de abrando. Aliás, em qualquer paragem pelo homónimo disco de 2014, e contaram-se 7, a velocidade quase como duplicava, com os fãs da banda britânica a demonstrarem que canções como “Losse Change”, “Ten Tonne Skeleton” ou “Little Monster”, esta última com direito a um irrepreensível solo por parte de Thatcher, há muito se tornaram parte dos seus cancioneiros. Destaque ainda para “Typhoons” e “Trouble’s Coming”, duas das mais recentes canções do grupo e que tão bem demonstram a versatilidade da banda.
A versatilidade e a confiança dos Royal Blood dos dias de hoje, a par com a ousadia em explorar a sua sonoridade, deram lugar à agressividade e irreverência que levaram com que Royal Blood fosse um dos discos estreantes mais badalados da última década, pelo menos para os que pregam que o rock não morreu. E para esses poucos que no dia 2 de julho foram muitos, nada como erguer as air guitars ao alto e soltar os headbangings para a valente tareia que foi distribuída em “Figure It Out”, primeiro dos dois pontos finais da noite e que acabaria com uma bandeira portuguesa nas costas de Thatcher.
Para o encore, e a colocar ‘parágrafo’ depois de ‘ponto final’, “Out of The Black” sugou todas e quaisquer energias que ainda sobrassem no final de um domingo à noite e após uma hora e picos de nostalgia, consagração e de antecipação para o futuro risonho dos Royal Blood. E com novo disco já ao virar da esquina, o futuro não tardará a aparecer. E lá estaremos para o vivenciar.
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Organização:Everything is New
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terça-feira, 03 dezembro 2024