Soen em Lisboa
Com o sexto e novíssimo álbum na bagagem, "Memorial", editado há sensivelmente um mês, os Soen entraram numa tournée europeia com passagem cada vez mais obrigatória por Portugal, para dois concertos, um no Porto e outro em Lisboa, como já vem sendo habitual. O quinteto sueco trouxe consigo dois projetos interessantes, Molybaron e Terra, que deixaram o público satisfeito e focado antes do prato principal da noite.
Vindos de Roma, os Terra apresentaram neste concerto, que começou pontualmente às 20:30, uma sonoridade baseada num rock denso, alternativo e tribal que aos poucos foi cativando o público presente, que já se encontrava na sala em grande número. Este grupo italiano, formado em 2014, ainda só tem um álbum e por isso baseou a sua atuação em temas desse disco, entre os quais se destacaram "This Scent" e "Rise". Quase no final, ainda houve direito a uma bem conseguida versão de "Teardrop" dos Massive Attack. O grupo possui a particularidade de o vocalista acumular o cargo de baterista e é nos instrumentos de percussão que está uma das chaves da música dos Terra, pois todos os membros dão uma ajuda na percussão. Se no seu álbum de estreia é notória a influência tribal no som da banda, ao vivo esse elemento ainda é mais realçado. Nota positiva para a performance deste quarteto, que com mais álbuns e tours no seu percurso, poderão eventualmente desbravar um trilho interessante nesta selva musical.
Se a banda anterior já havia sido uma boa adição ao cartaz, o que dizer destes Molybaron, que encaixaram na perfeição com o seu metal/rock alternativo, muito eclético e com elementos progressivos, apesar de bastante distante da música apresentada pelos cabeças de cartaz. Os fãs dos Soen e de música progressiva têm uma mente mais aberta do que o habitual, no que diz respeito a novos projetos e sonoridades distintas, e isso ficou patente na ótima recetividade por parte dos espectadores desta noite de concertos. Quem entrasse por engano no Lav - Lisboa ao Vivo a meio da atuação dos Molybaron, provavalmente até pensaria que estava a assistir à banda cabeça de cartaz. E diga-se em abono da verdade que os Molybaron mostraram uma proficiência técnica e à vontade dignos de um headliner. O baixo pulsante e os riffs demolidores do tema de abertura "Something Ominous", tema título do novo álbum, lançado pelo selo de qualidade da Inside OutMusic, não conquistou de imediato a plateia, mas aquando do desfilar de temas tão ecléticos e dinâmicos como "Animals", "Something for the Pain" e "Breakdown", tocados a meio do concerto, já o caso tinha mudado de figura e o público aplaudiu e aderiu como se tivesse a ver uma banda de sua eleição. O vocalista Gary Kelly, satisfeito pela recetividade que se encontrava a presenciar, prometeu que os Molybaron iriam aquecer ainda mais a sala de espetáculos para o concerto dos Soen, o que sucedeu em seguida com as performances da pesadona "Lucifer" e de "Vampires", música que contém riffs contagiantes e um refrão orelhudo. Na segunda metade do tema, a banda pediu ao público para bater palmas e praticamente todos os presentes aderiram a essa solicitação em sinal de apreço por uma banda que não conheciam bem, mas que se encontrava a abrilhantar a noite. Incógnitos ou não, o espetáculo encerrou com "Incognito", e tendo em conta esta proposta musical que apresentaram esta noite, estes músicos aparentemente não vão ficar desconhecidos por muito mais tempo. Definitivamente, esta é uma banda a seguir de perto futuramente.
Parece que foi ontem o dia em que os Soen se estrearam em Portugal como banda de abertura de um concerto de Paradise Lost, no atualmente extinto Paradise Garage, e no qual este coletivo que esteve desde o início rotulado de supergrupo tocou o seu primeiro disco, "Cognitive", quase na íntegra. Esse espetáculo aconteceu há 11 anos e agora a banda já conta com 6 álbuns na sua rica discografia e consequentemente um reportório invejável repleto de grandes temas, o que confere à banda sueca maiores argumentos para conquistar uma plateia e dar concertos memoráveis como este que tivemos oportunidade de assistir no LAV - Lisboa ao Vivo. Quando se forma um supergrupo, há uma grande banda em potencial, porém, a promessa muitas vezes não se torna certeza. Não foi o caso dos Soen que conseguiram passar da teoria à prática e presentear os ouvintes com discos relevantes e com uma sonoridade cada vez mais própria, pelo que conseguiram granjear um considerável número de fãs para a sua proposta musical. O novo "Memorial" não foge à regra e é mais um disco bem acima da média, o que ficou bem patente esta noite com a força de temas como "Memorial", "Unbreakable" e "Violence" ao vivo, que soaram como clássicos, apesar de serem temas recentes. É uma tarefa difícil destacar pontos baixos ou mais aborrecidos durante esta atuação, dada a homogeneidade das músicas presentes nas setlist a nível qualitativo, bem como devido à reação efusiva por parte dos fãs na esmagadora maioria dos temas, por isso pode-se afirmar que decorreu um concerto de grande nível do princípio ao fim ou com diversos pontos altos. Ainda assim pode-se realçar a "Martyrs" que contagiou a plateia que saltou ao som da música logo na fase inicial do concerto; a obrigatória "Savia", com direito a um solo de baixo de Oleksii Kobel no início; "Lascivious", um dos temas mais completos que foram compostos pelo grupo, no qual Joel Ekelöf referiu que apesar de este ser um concerto de metal, os espectadores podiam dançar; "Monarch", hit do álbum anterior que naturalmente é um dos que desperta maior reação e cantoria, e as baladas "Illusion" e "Lotus" que se traduziram em momentos mais intimistas e de comunhão entre público e banda, e uma poderosa "Antagonist" que resulta sempre bem num contexto ao vivo. Os destaques foram muitos, estão a ver a ideia, não estão? É importante referir que os fãs tiveram direito, já durante o encore, de escolher entre Jinn e Lunacy, sendo que o resultado foi a interpretação da primeira.
Este foi um concerto dos Soen que roçou a perfeição, nota-se que o palco é, cada vez mais, o habitat natural da banda, que executa o material com excelência, comunica com o público e diverte-se com aquilo que faz. Tal se deve provavelmente à enorme quantidade de concertos que o grupo deu entre 2022 e 2023, no período pós-pandémico, que foi o tempo em que o quinteto deu mais concertos desde a sua concepção. Nós, público, agrademos!
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Organização:Free Music
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segunda-feira, 09 outubro 2023