Luís Contrário
Mais uma matiné da Saliva Diva na Socorro e desta vez em formato de novidade fresquíssima, com o primeiro disco de Luís Contrário, intitulado “músicas de dança para pessoas tristes” a ser lançado precisamente neste dia.
Perante uma sala surpreendentemente bem composta para aquele que foi o seu primeiro concerto a solo ( antes já tinha atuado com um projeto chamado Correr Andar, marcando até presença nessa agridoce despedida que constituiu o GentriFest, no passado mês de abril, quando a Saliva foi forçada a abandonar o estúdio do Quarto Escuro), Luís assinou um concerto descontraído e cativante, em que melodias de baixo de inebriante sabor outonal se uniram a elementos eletrónicos e a uma panóplia de loops para um one man show de animação introspetiva, uma leve celebração em que o pezinho de dança foi dado em regime de contemplação luminosa.
Ainda assim, talvez motivado pela presença de amigos e familiares que o receberam de braços abertos como se já fosse um nome consagrado, o concerto acabou por ser consideravelmente mais dinâmico que a própria obra - sobretudo no final, quando Luís se lançou numa jam selvagem e ardente que deixaria O Manipulador ( alter ego de Manuel Molarinho, membro fundador da Saliva Diva) particularmente orgulhoso. Na verdade, foram várias as alturas em que a intenção artística deste projeto nos remeteu precisamente para esses ambientes de exploração a partir de um baixo mergulhado num mar sónico de loops, com a diferença de ser menos denso e mais focado em atmosferas de uma serenidade dançável, como uma espécie de sonho urbano fragmentado.
Efetivamente, houve um clima de intimidade convidativa presente nesta apresentação, não só pela referida presença de caras conhecidas , mas pela própria humildade de Luís, que tinha afixado na parede uma folha onde se lia “pregos” e que usava para apontar, como já devem ter entendido, os erros que dava (acabou por contar três). Original, sem dúvida , e de uma honestidade refrescante : não se buscava atingir a perfeição, incluía-se os erros como a vida inclui a tristeza juntamente com a felicidade, pois tudo faz parte da viagem orgânica que gradualmente experienciamos.
Enfim, poderá não ter sido uma prestação imaculada, mas residiu aí algum do seu encanto, na pureza e sentimento daquela entrega despojada. No final, assistimos ao nascimento de algo novo, com potencial para se tornar grandioso… E quando isso acontecer, olharemos para esta tarde singela com a nostalgia reconfortante de a termos vivido. Porque memórias destas não têm preço.
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Organização:Saliva Diva
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quarta-feira, 04 dezembro 2024