Reportagem 20 20 20 - Porto
O Plano B abriu portas para a II Edição do 20/20/20 – Vinte Bandas, Vinte Dj’s, Vinte Designers que tiveram oportunidade de exibir as suas propostas de cartaz para a ocasião. Evento único que emerge no coração do Porto, onde 20 bandas disputam 20 minutos num palco pequeno, numa sala quase cheia e num ambiente muito quente. Já os Dj’s, numa outra sala, simultaneamente, escolhem duas músicas e oferecem-nas ao público. Os cartazes, estes continuaram em exposição no piso da entrada do Plano B, no Porto.
Podemos dizer no entanto, que este ano o evento se poderia chamar de 18/20/20, uma vez que Manuel Cruz que actuaria com Nuno Mendes e os Versus Georgia cancelaram a sua actuação. O tempo também esse foi reduzido. Em vez dos 20 minutos, este ano cada banda tinha direito a 15 minutos contando com montagem de palco.
Pouco faltava para as 23 horas e a sala ainda se mostrava vazia. Timidamente, o público foi aparecendo e preenchendo o espaço da sala principal do espaço do Plano B.
Os Unzen Pilot fizeram as honras da casa. Composto por Eduardo Magalhães (guitarra), João Filipe (bateria e precursão), Leonel Sousa (guitarra) e Hugo Ribeiro (baixo). Do rock progressivo, apresentam-se com riffs melódicos que ao longo dos 15 minutos vão-se transformando, a bateria marca o compasso, acentuadamente, e retomamos à melodia inicial. Mesmo sem grandes apresentações, o público, que se mostrava pouco emotivo, aplaudi-os com entusiasmo.
Quase sem respirar, segue-se a segunda banda. Surgem do público, pisam o palco e o relógio reinicia. São os Africa Sexy, despreocupados com o tempo, esta dupla rapidamente atraí o público que se vai acumulando em frente ao palco. Um som quase descontrolado e bravo, misturado com a forte presença em palco que mais se fez sentir no momento em que a luz falha e eles não páram o seu espectáculo.
Seguem-se os Karaoke mum's gay terror rampage, misturam pequenos apontamentos de sons de sinos, campainhas, pedais de efeitos e voz, propositadamente, distorcida. Artilhados de tudo o que pudesse mostrar algo de diferente, fazem vibrar a sala e o palco ganha uma nova vida com a sua presença.
Com alguma sensualidade, os The Bleeders, bem diferentes dos anteriores, apresentam-se em palco com alguns problemas nas guitarras e uma voz que já era conhecida de quem esteve na edição anterior.
Com a alteração do alinhamento, Mary Me! são a quinta banda a pisar o palco. O tempo torna-se cada vez mais irrelevante e a adrenalina de lutar contra o tempo apodera-se dos seus corpos. Mostram-nos um rock onde o vocalista dança, energicamente, um pouco ao estilo de Ian Curtis.
Claiana é um termo utilizado para expressar algo que não se percebe, conceito que vai ao encontro das articulações vocais deste projecto. Batidas africanas, dançantes e contagiantes, quebram por completo todo o ambiente que se criou até então. Duas gerações juntam-se num só palco, munidos de um computador portátil e um microfone, criam um ambiente pop africano que contagia tudo e todos.
Os jovens Beneath the Earth apresentam-nos um rock diferente. Com harmónica e belas guitarradas efervescem tudo em seu redor, captam a atenção do público que são os primeiros a reclamar o tempo que sobra deixado pela banda.
The Never Mades, simpáticos e bem-dispostos, são apresentados pelo guitarrista que diz, sorrindo, “temos um bêbado na bateria”. Definidos como Rock Latino de Garagem, estas sonoridades tão diferentes e pouco descritíveis despertam o público para a próxima actuação.
Os Botswana apresentam no 20/20/20 o projecto musical nascido no início de 2010. Habitantes do Centro Comercial Stop, são uma das muitas bandas nortenhas que por lá passa. Este quarteto composto por Igor Domingues e Marco Castro que se apresentaram na edição anterior como Throes, Sofia Magalhães no baixo, ex-voz de We Are the Damned e Crisis e João Pimenta, voz deste projecto e ex dos Green Machine e actual ALTO!, expõem um punk rock africano, como o vocalista descreve, provocando tudo e todos. Vigorosos em palco, com um som forte e muito presente, enfrentam o público que os recebe sem medo. O vocalista, muito provocante, sai do palco, lança-se ao público para cantar perto deles e tocar em todos os corpos que lhe passam em frente. Foram os que melhor aproveitaram o tempo para mostrar o som intenso do seu fresco projecto.
Metade das bandas estão apresentadas, é o momento dos Two White Monsters Around a Round Table pisarem o palco. São uma dupla portuense que nos expõe um Black Sonic Experimental Jazz acompanhados de um contra-baixo eléctrico e uma bateria.
Mr. Miyagi e o seu Punk Thrash Hardcore são caracterizados pela frase “Miyagi gand’abuso” vinda directamente do público. O som dos skaters invade a plateia e embrulha-os num mosh tão esperado. Se as outras bandas não conseguiram passar muito além das 3 músicas, os Mr. Miyagi tiveram mais que tempo e fizeram sentir a sua energia através da mistura de “Ciso San” com o público.
Hill apanham boleia de Miyagi e prosseguem o concerto com a deixa “todos os cartazes são uma m**** mas as bandas são do cara**”. Composto apenas por João Guedes, dos Sizo, e de um baterista aparentemente irritado com a falta de tempo, dão início a uma explosão de precursão de ambos os membros, com duas guitarras encostadas à bateria que trabalhavam sozinhas. Um projecto interessante com resultados intensos.
Os Dreams não puderam contar com a sua baterista. Tentam mostrar algo imaginário e sonhador, um pouco monótonos inicialmente, mas conseguiram animar o final do concerto.
Seguem-se os Slow Motion, com uma voz bem colocada e letras a fazer lembrar uma época de grunge que já passou sobre drogas e pregos a fundo. A vocalista demonstrava boa expressão, mas no entanto não se conseguiu arrancar grandes reacções por parte do público.
Chegada era a hora dos Lululemon. Uma guitarra e uma bateria também saídas do Stop trouxeram até ao Plano B um cheirinho a Blues “acowboyados”, já presentes no seu EP de estreia “Thee Ol’Reliables”.
A noite já ia longa, o cansaço já quase se apoderava e a esta altura já algumas pessoas tinham ido embora. Poucos saberiam o que esperar de um nome como Tigre Deficiente, mas os que ficaram para descobrir, certamente ficaram surpreendidos. Um livro de crianças e dois rapazes cobertos de creme, fizeram chegar a sua mensagem através da distribuição de gelados e do desafio de crowdsurf em colchão de praia que o público não aceitou.
A tarefa inglória de superar tal fenómeno coube aos Indignu, que acalmaram os ânimos com um post-rock clássico, acompanhado de arco na guitarra à boa maneira Sigur Rós-iana.
A fechar a sala das bandas, subiu (pouco) ao palco Rudolfo, detentor da patente de Hate Beat auxiliado apenas de uma Nintendo. Do meio do público eram gritadas palavras de ódio acompanhado de 8bit de Pokemon e Dragon Ball. A manga de tatuagens falsas e o colete reflector com patches de Cannibal Corpse faziam ter medo das músicas dedicadas aos amigos que não apareceram. Um final de noite espezinhado em gelados e cerveja entornada que se mostrou – de certa maneira – glorioso.
A noite teve maior incidência nas 20 Bandas mas, na outra sala, em simultâneo com os concertos, passaram os 20 Dj’s: Carla Capela, Carlos Moura, Catarina Pinto, Fabulosa Marquise, Francisco Abrunhosa, Ina Soda, Jorge Naper, Le Bandido, Marçal dos Campos, Maria, Maria Gambina, Pedro Pinto, Pedro Santos, Sim.on, Sónia Carvalho, Tam, Teo, Tilinhos, Vicente Abreu e Xico Ferrão.
Já no piso de cima, estão expostas as 20 propostas de cartazes para este evento. Realizados por 20 designers entre eles os conceituados R2, mas também, Ana Cmyk, André Coelho, Ânia Carolina Gonçalves, Calhau, Dayana Lucas, Dinis Santos, Eduardo Aires, Eliana Bernardo, Filipe Cardigos Oliveira, Isabel Carvalho, Isabel Duarte e Maria João Macedo, Miguel Carneiro, Miguel Carvalhais, Nuno Coelho, Ricardo Lafuente, Rui Vitorino Santos, Virginia Valente, Vitor Ferreira e VivóEusébio.
.A segunda edição do vintevintevinte foi um sucesso, com casa cheia e público a transbordar.
É motivo para se dizer que saímos com os ouvidos cheios de tudo um pouco.