Reportagem 30 Seconds to Mars - Lisboa
Quinta-feira, 16 de Dezembro: a noite mais fria da semana. Ainda assim, mais de 18 000 pessoas trocaram o quentinho de casa por uma noite no Pavilhão Atlântico com os 30 Seconds to Mars. Quase três anos após a sua estreia no país (que consistiu em 2 concertos com poucos meses de diferença), o recinto estava quase esgotado.
Encarregados de aquecer a multidão estavam os More Than a Thousand. Avistavam-se bastantes fãs espalhados pelo público num recinto que ainda não estava nem meio cheio. Músicas como “First Bite” e “Black Heart” agitaram o público, mas quando se mencionava o nome da banda principal, o Pavilhão quase ia abaixo.
Antes da entrada dos 30 Seconds to Mars em palco (o recinto estava agora apinhado), foi passado nos ecrãs o seu mais recente vídeo “Hurricane”. Causador de muita controvérsia por conter cenas de S&M e já banido por vários canais, o público português teve direito a uma visualização do filme completo (mães, tapem os olhos às vossas filhas de dez – ou menos – anos!). Entusiasmados, os fãs provaram ter pulmões grandes e fortes, chamando pela banda que já estava atrasada. Finalmente a cortina caiu e a loucura apoderou-se do recinto.
"Escape" fez as honras. “Night of the Hunter” veio imediatamente de seguida, mas foi “A Beautiful Lie” – do álbum homónimo – que libertou o público da última e mais pequena inibição que ainda pudesse estar presente. "Attack” manteve o espírito de desvairo mas revelou ser antiga demais para os fãs mais recentes (entenda-se, pós-This Is War). Uma pena para quem mantinha ainda na memória o quão fantástico o tema tinha sido no Coliseu. Já “Search and Destroy” foi merecedora de muitas palmas e entoada na perfeição pelo Pavilhão inteiro. Jared – desta feita, de cabelo verde – incitava o público a perder a cabeça e saltar até tocar no tecto (tarefa que de repente pareceu menos impossível). Paralelamente, Tomo fazia aparições na beira do palco e Shannon foi mestre da percussão durante o concerto inteiro.
Eis então que o vocalista põe finalmente a guitarra de lado e cumprimenta o público. «How are you feeling?» ganhou uma resposta ensurdecedora de gritos e assobios. Mais um pedido para que todos saltassem e enlouquecessem e “Vox Populi” entrou em cena, seguida de “This Is War”. Mas não antes de Jared pôr todos no recinto a gritar o título do tema homónimo do álbum. Perto do final da música, uma chuva de balões gigantes vermelhos caiu na plateia, estrategicamente largados antes de “100 Suns”.
Portugal ganhou o título de “uma das mais belas nações do mundo” e o público teve direito a uma música que lhe foi especialmente dedicada. Não foi difícil perceber que chegara o momento da “agitadora-de-massas” “Closer To the Edge”. De punhos no ar e a gritar “no, no, no, no!”, os fãs saltaram e pularam mas moshpit nem vê-lo, ao contrário do esperado pelo vocalista. Ainda assim, não foi nada que impedisse Jared de “voar” para as grades e exaltar ainda mais o público.
Mas era tempo de acalmar os ânimos um bocadinho. “L490” deu início a um ciclo de versões acústicas de temas tais como “From Yesterday”, “Alibi” e até mesmo um excerto de “Bad Romance” de Lady Gaga. Foi proferido um “obrigado” e foi essa a única palavra em português que Jared pronunciou, logo antes de eleger o concerto como o melhor da tour. Ouviram-se gritos por “Por-tu-gal” e foi oferecida ao vocalista uma bandeira que o mesmo colocou nos ombros. «Portugal e eu temos muito em comum, pois ambos somos sobreviventes, aconteça o que acontecer», declarou Leto. Contou ainda como passeou por Sintra e saboreou uma refeição tipicamente portuguesa num restaurante tipicamente português. Os fãs estavam deleitados com tanta afeição por parte da figura principal da banda.
A música prosseguiu com “The Kill”, cuja primeira metade foi apenas tocada por Jared e a sua guitarra, mas rapidamente se ouviram os acordes da guitarra eléctrica e as pancadas da bateria. A loucura espalhou-se de novo pelo Pavilhão, qual fogo ateado em gasolina. Jared insistia em pedir aos fãs que saltassem (desnecessariamente, na verdade) e “The Fantasy” provocou isso e muito mais. Esta sim, à altura da interpretação no Coliseu, deixou todos a gritar por mais.
No entanto, seguiu-se-lhe o encore. Palmas, saltos e gritos ressoavam nas paredes do recinto e foram ainda mais intensos quando se avistaram os membros da banda de novo. «Quem é que já tinha visto o vídeo de “Hurricane”?», pergunta Jared para de seguida chamar “pervertidos” a todos os que responderam afirmativamente. Muitos, mas não todos – houve quem acreditasse ter presenciado a estreia mundial (!) do filme. Seguiu-se então o mais recente single (durante o qual foram atirados papelinhos brancos do palco para a plateia) que, tal como o respectivo vídeo, foi tocado na versão sem a parte da colaboração de Kanye West. Facto esse algo decepcionante, visto que a mistura do estilo da banda com o de Kanye resultam primorosamente na versão do álbum.
Houve ainda tempo para umas fotos de grupo (ou seja, a banda e os fãs) e uma pequena brincadeira da autoria de Jared filmada com a ajuda de um membro da equipa, que poderá ser vista na internet, quem sabe, em breve. O vocalista prometeu ainda – oficialmente – que a banda vai regressar a Lisboa sem dúvida alguma, o que provocou os gritos mais ensurdecedores de todo o concerto – e isso inclui um quase strip do vocalista.Chegava a hora da despedida, mas nunca antes de “Kings and Queens”. Jared chamou pessoas do público para a invasão de palco que se seguiu e as energias que ainda restavam aos espectadores foram gastas durante a música. A letra não falhou a ninguém e o vocalista aproveitou uma paragem feita a meio do tema para mandar toda a gente agachar-se e saltar a seu comando. «Go crazy!!», gritou, and so we went.
Estava então findado mais outro concerto quase esgotado dos 30 Seconds to Mars. O público saiu satisfeito com o espectáculo e encantado com a dedicação da banda em mimar os fãs. O primeiro álbum não se ouviu, mas decerto os temas do segundo que foram tocados serviram para matar saudades que os fãs mais antigos pudessem ter.
Enquanto Jared não partilha as fotografias tiradas com o público que garantiu colocar no seu twitter, resta aos fãs uma boa noite de sono que renove as energias gastas naquele que foi mais um concerto intenso e fervoroso de uma banda que se esforça – e consegue – não deixar mal os seus seguidores.