Reportagem A Hawk and a Hacksaw em Lisboa
Um cine-concerto. Este é um conceito com o qual nos deparamos pouco em Portugal, mas foi uma das grandes provas da versatilidade dos A Hawk and a Hacksaw, nesta passagem pelo Teatro Maria Matos, em Lisboa. A missão era a de tocar uma nova banda sonora para o filme "Shadows of Forgotten Ancestors", de Sergei Paradjanov – e se foram sucedidos, é difícil dizer, mas foi certamente uma experiência diferente.
Os dois membros da banda, Heather Trost e o membro fundador e antigo baterista dos Neutral Milk Hotel, Jeremy Barnes, podem ter como nacionalidade a norte-americana, mas diríamos que fazem tudo para a eclipsar. Viveram dois anos em Budapeste, onde mergulharam no panorama folk do leste europeu e o fascínio de ambos pela música folk balcã é tanto que esta influência está profundamente enraizada no material que lançaram desde o nascimento do projecto a solo de Barnes, em 2000 (sendo 'The Way the Wind Blows', de 2006, sem dúvida o ponto alto desta parceria). Parte violino, parte acordeão, a dupla sempre mostrou uma enorme mestria nos seus instrumentos e nesta actuação ao vivo, isso não deixou de acontecer - apenas numa fórmula diferente.
A longa metragem ucraniana, de 1964, passada numa pequena vila dos Cárpatos, tem como ponto focal a relação trágica de Ivan e de Marichka, filha do assassino do seu pai, enfatizada pela beleza natural, o tema de magia e dança alegórica e o folclore nas montanhas do centro/este europeu. Barnes e Trost, empunhando o acordeão e o violino, respectivamente, dedicaram-se a compor uma nova banda sonora para o filme de Paradjanov, dando-lhe todo o foque da actuação, tocando de cada lado do ecrã, praticamente às escuras. Se o filme não foge à temática que tanto inspira a dupla norte-americana, o material composto certamente serve que nem uma luva à obra cinematográfica: as melodias e os ritmos folk são tão ritmados e frenéticos como assoladores, levando perfeitamente a dor de Ivan ao público presente, durante mais ou menos uma hora e meia.
Sem grandes destaques, foi um conceito menos fácil de seguir, é verdade, mas que não deixou de ser interessante.
A versatilidade e qualidade musical dos A Hawk and a Hacksaw fez com a sessão valesse a pena, mas para os mais difíceis de convencer, não deve ter deixado grande marca.
Espera-se, então, que a banda norte-americana volte rapidamente a solo Português para apresentar, de forma convencional, um novo trabalho original, podendo-se assim agradar a gregos e a troianos.
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sábado, 20 dezembro 2014