Reportagem A Tour of Chaos em Lisboa
Quando se trata de peso, não há chuva que amedronte um público devoto. Na quinta-feira passada, a Tour of Chaos veio mostrar a quem nunca pôde pisar o Campo de Futbol Celeiro em Viveiro, de que é feito o Resurrection Fest.
Os Primal Attack começavam então uma noite que não era encabeçada por ninguém em específico: Napalm Death, The Exploited e Hatebreed uniam três estilos, ainda que não tão dispares.
Pelas três bandas, juntavam-se três públicos – o do grindcore, do punk e do hardcore, formando uma sala completamente lotada, quente e a transbordar de energia.
À entrada dos Napalm Death, já só os mais bravos se atreveriam a passar do meio da sala – pelo próprio pé, ou pelo ar. A banda com mais de 30 anos de estrada, trouxe à noite chuvosa o último Utilitarian, além de inevitáveis passagens pelos primeiros álbuns. Entre músicas, a pronúncia vincadamente britânica de Mark Greenway contrastava com o grindcore veloz. E porque o punk é a raiz de todas as bandas que passaram pela República da Música para a noite de destruição, não faltou o regresso a Scum e um toque a Dead Kennedy’s com “Nazi Punks Fuck Off”. Escusado era referir, o caos estava instalado.
O concerto dos The Exploited era certamente um dos mais aguardados, a sua inactividade de estúdio não abala os fãs da banda escosesa. Infelizmente, apesar de todos os esforços, o concerto terminou abruptamente. À data desta publicação, Wattie Buchan encontra-se ainda no Hospital de S. José em Lisboa, depois de sofrer um enfarte, cancelando a presença dos The Exploited na restante tour. O concerto durou ainda bastante mais do que outros aguentariam. Foi pouco depois de passar o microfone a membros do público que subiram ao palco para a clássica “Sex & Violence” que o vocalista abandonou o palco.
Após a saída da banda de palco, no público lamentava-se o fim do concerto, ainda sem noção da gravidade da indisposição de Wattie.
A noite, no entanto, continuou.
Os Hatebreed entraram em palco passado algum tempo e encerraram a noite. The Divinity of Purpose é o último disco da banda estado unidense, lançado o ano passado. Não foi, contudo, o foco desta noite. Ainda que “Honor Never Dies” ou “The Language” tenham feito parte do alinhamento, foi em músicas como “To the Threshold”, “Before Dishonor”, “This is Now” e, claro, “Destroy Everything” que o concerto se apoiou. Aquela que é uma das maiores salas underground de Lisboa, viu-se reduzida a espaço nenhum durante a actuação. Se incentivo fosse preciso numa noite como esta, Jamey Jasta, convencia o público a mais circle pit, mais mosh e mais caos. Afinal, era este o mote da noite.
A saída da sala foi, na verdade, aliviante. Finalmente, ar e frio na cara. O Resurrection ficou apresentado. Aquele que é possivelmente o festival que melhores nomes de peso reúne na península ibérica, fortaleceu velho fãs e fez com certeza novos curiosos. A Tour of Chaos continuou a partir daqui, com os The Exploited subsituídos pelos piores motivos, mas na promessa posterior de compensação às datas que não puderam ver a já pouco usual crista vermelha.
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sábado, 20 dezembro 2014