Reportagem Aerosmith em Lisboa
Quase cinquenta anos após a sua fundação - quarenta e sete para sermos mais exatos - os Aerosmith ainda continuam no ativo e a encher salas de espetáculos como o MEO Arena, naquela que é a tour de despedida da banda de Boston. É certo que outras bandas têm feito digressões de despedida e depois continuam a dar concertos, por isso não se pode afirmar com toda a segurança, que esta foi a última passagem dos Aerosmith por Portugal. Além do mais este foi apenas o terceiro concerto do grupo em Portugal, sendo que o anterior já data de 1999, tendo decorrido no festival T99 no estádio do Jamor. Por tudo isto, era expectável que os fãs do grupo de Steven Tyler e Joe Perry se deslocassem em grande número ao MEO Arena. E foi mesmo isso que aconteceu! O grupo atuou perante uma moldura humana perto de esgotar a maior sala de espetáculos nacional.
O ponto de partida para quase duas horas de atuação foi dado com "Let the Music Do the Talking", onde o público deixou a música falar, com Steven Tyler e Joe Perry a apresentarem-se, de imediato, em destaque no extensão central do palco que fazia os músicos ficarem próximos dos fãs.
Depois de Steven Tyler dizer "boa noite" ao público em bom português, o coletivo interpretou de foma convicta o tema "Nine Lives", seguindo-se a conhecida "Rag Doll" mas foi "Livin' on the Edge" que se afirmou como o primeiro grande momento da noite, com muitos dos presentes a ensaiarem a voz para o que estava para vir.
"Love in an Elevator" foi mais um clássico executado de forma exímia pelos Aerosmith, que tiveram o público do seu lado a cantar o refrão e todos os "whoa" e "whoa-yeah" presentes na canção. "Falling in Love (Is Hard on the Knees)" não foi uma música tão aclamada pelos presentes, não por não ser uma ótima música, mas talvez por não ser tão emblemática.
O coletivo de Boston não é composto só por Steven Tyler e foi a vez de outra das estrelas se destacar. Joe Perry mostrou os seus dotes vocais e virtuosismo na guitarra em "Stop Messin' Around" e "Oh Well" duas covers de Fleetwood Mac. No entanto, o público pagou o bilhete para ver os Aerosmith tocarem os seus temas mais emblemáticos e esses dois temas arrefeceram um pouco o MEO Arena.
Os fãs ansiavam por clássicos mas a banda deu-lhes "Hangman Jury", um tema menos conhecido que intensificou a monotonia por parte dos espetadores nesta secção de temas que a banda tocou a meio do concerto. "Seasons of Wither" apesar de ser um grande tema que remonta aos primórdios da banda, não é muito conhecido pelo grande público, talvez por isso, só quando o vocalista apresentou o baixista Tom Hamilton seguido dos acordes de "Sweet Emotion", é que se percebeu que o melhor estava para vir. Se com este tema o público já ficou ao rubro, com a tão aguardada "I Don't Want to Miss a Thing", grande parte do MEO Arena ficou eufórica, cantando a letra em uníssono com Tyler, o que por si só foi arrepiante. Seguiu-se a cover mais bem recebida da noite, "Come Together", dos Beatles.
Uma pesada e bem interpretada "Eat the Rich" também encaixou bem nesta reta final, sendo que Steven Tyler nem sequer se esqueceu do característico apontamento (leia-se arroto) da música original. "Cryin'" deliciou o público, sendo mais um dos fantásticos momentos do espetáculo, com o público a receber o tema de forma bastante efusiva e a cantá-lo como se não houvesse amanhã. A euforia por parte dos presentes continuou com o hit "Dude (Looks Like a Lady)", onde o público cantarolou e a dançou.
A banda saiu de cena durante alguns minutos sob uma enorme salva de palmas, tendo entretanto sido montado um piano na frente do palco. Como era fácil de adivinhar, em seguida Steven Tyler e a sua banda regressou ao palco para tocar a velhinha mas emblemática "Dream On", sendo que tal resultou numa excelente performance, com Joe Perry a solar em cima do piano e Steven Tyler a terminar o tema no mesmo local. Uma algo dispensável "Mother Popcorn" de James Brown serviu de certa forma para preparar o público para o groove de "Walk this Way", tema esse que fechou esta enorme parte final do concerto da melhor forma.
Pese embora a parte do meio do concerto tenha sido mais monótona, este foi um grande espetáculo de rock por parte de uma daquelas bandas que, depois de acabar, nunca mais terá uma réplica a aparecer no mundo da música. É de realçar a boa forma com que o grupo se apresentou em Portugal, tendo em conta que Steven Tyler tem uns respeitosos sessenta e nove anos e que os restantes músicos se encontram a meio dos sessenta.
Se esta for mesmo a última passagem dos Aerosmith por solo português, resta-nos agradecer pelo quase meio século de boa música e por fantásticos momentos como estes que ficarão certamente guardados na nossa memória.
Antes da banda norte-americana atuaram os ingleses RavenEye, com a missão complicada de abrir para um colosso do rock mundial. Tendo em conta que esta banda tem apenas 3 anos de existência e somente um EP e um álbum, pode dizer-se que a sua tarefa foi cumprida com distinção.
Com pouco reportório mas uma boa presença em palco, este trio deu boa conta do recado durante os três quartos de hora de que dispuseram para apresentar a sua música, pela primeira vez, em Portugal. Digno de registo foi o momento em que o guitarrista/vocalista Oli Brown subiu às cavalitas do baixista e os dois percorreram assim o palco de um lado ao outro, sem pararem de tocar por nenhum momento. O vocalista colocou muitos dos presentes a cantar uma parte do refrão do tema "Hey Hey Yeah", o que também é algo de assinalar.
Um bom concerto para iniciar uma grande noite para os fãs dos Aerosmith.
Foto: Organização / Alexandre Antunes
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Organização:Everything is New
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sexta-feira, 22 novembro 2024