Reportagem Aïsha Devi no Porto
O Porto/Post/Doc, festival dedicado ao cinema contemporâneo e com ênfase no documentário, invadiu a Invicta com o objectivo de a dinamizar culturalmente, oferecendo à cidade a oportunidade de assistir não só a um conjunto de impressionantes produções cinematográficas (com direito a empolgantes debates que reflectiam sobre os filmes exibidos), mas incluindo igualmente uma componente musical na programação. Esta abertura foi alcançada não só através de documentários sobre músicos e diferentes movimentos (com destaque para “Gimme Danger”, sobre o percurso dos The Stooges e realizado pelo emblemático Jim Jarmusch), mas também com actuações de uma série de artistas.
O ciclo de concertos iniciou-se com a presença de Aïsha Devi. A produtora suíça de origem tibetana/nepalesa navega pelo mundo da electrónica altamente experimental e bizarra, mas surpreende pela forma como a sua arte se reveste de uma intensa espiritualidade, tornando-se até catártica.
Beneficiando de um fantástico jogo de luzes, o concerto de Aïsha Devi originou uma panóplia de emoções: dançamos, mas também embarcamos numa profunda viagem ao sermos contagiados pelo encanto psicadélico destes sons. É deveras impressionante o modo como a música que a enigmática artista cria ao desenvolver uma relação próxima com a tecnologia, consegue soar tão humana e ser tão inebriante, parecendo transportar o ouvinte para um lugar mágico e distante. A certa altura, sentíamos que somente os nossos corpos permaneciam no envolvente espaço do Understage; o que aconteceu nesta noite, neste local, provou que Aïsha Devi é um dos mais fascinantes nomes dentro da actual cena electrónica - e não só. Poucos são os artistas que conseguem alterar tão profundamente o nosso estado de espírito, mas a autora de “Of Matter And Spirit” fá-lo facilmente.
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segunda-feira, 05 dezembro 2016