Reportagem Alcest no Porto
O regresso dos Alcest ao solo nacional repetia-se no já muito acarinhado Hardclub, no Porto, curiosamente na mesma sala que os acolheu há dois anos atrás.
Desta vez munidos com um álbum novo “Shelter”. Certamente o álbum que mais críticas divisórias sofreu, na carreira dos Alcest. Um registo muito mais leve, sem uso de vozes agressivas ao contrário do que tem vindo a fazer nos dois álbuns anteriores. Porém não é de todo uma mudança súbita e abrupta, ao longo dos anos já se vinha a notar algum desinteresse por parte do Neige na vertente mais pesada das suas composições. Pode argumentar se até que esta abordagem mais shoegaze e clean esteve sempre presente no som da banda, agora no entanto com muita mais preponderância.
Para começar a noite os The Fauns, convidados pelos próprios Alcest para serem uma das bandas suporte nesta tour. Oriundos de Bristol, Inglaterra tocam indie rock, dream pop e é fácil de entender o porque de estarem aqui. Com um novo álbum na bagagem editado nos finais do no ano passado, a grande parte do seu concerto recaiu para esse mesmo registo. No entanto não faltaram alguns temas do álbum homônimo, como a The Sun Is Cruising ou Fragile.
Não reinventado nenhum estilo musical os The Fauns possuem no entanto uma musicalidade agradável que consegue criar um ambiente próprio, por vezes até uma paisagem sonora densa. Com alguns problemas de som, nomeadamente na voz da Alison Garner, que mal se ouvia, foi uma actuaçao competentete mas que podia ter sido menos comprida.
Seguiam-se então os Hexvessel do gênio britânico Mat McNerney que se mudou para a Finlândia já há algum tempo. Quem segue o seu percurso sabe dos projectos em que está envolvido (Beastmilk, Dødheimsgard). Hexvessel não foge a genialidade das bandas já enumeradas.
Com músicos finlandeses excepcionais no palco, a banda começou com o tema The Tunnel At the End Of The Light, do ultimo registo Iron Marsh. Rastejando lentamente e cativando certamente aqueles que não estavam familiarizados com a sua sonoridade. Por ser talvez a banda mais “exótica” da noite. Com fortes influencias do folk dos 60’s e 70’s e o rock psicadélico, juntando também alguns elementos de doom tradicional. É de facto algo para um gosto adquerido. Mesmo assim, conseguiram transparecer toda a sua complexidade de álbum para o palco. Com uso de violino, trompete e orgão foi um concerto cheio de dinâmica, ora ritmos lentos e sóbrios, ora autênticas expulsões de energia, quase que exorcizando os instrumentos nas suas mãos.
Percorreram um pouco de toda a sua discografia, tocando os já adorados Woods To Conjure, as monumentais His Portal Tomb, Unseen Sun ou I Am The Ritual do seu álbum de estreia Dawnbearer. Certamente ninguém saiu indiferente depois deste autentico ritual sonoro que contou no fim com uma cover surpreendentemente única e original da Women Of Salem (da Yoko Ono).
E eis que chegou o tempo da banda mais aguardada da noite, já se ouvia a Wings enquanto a os membros entravam no palco e preparavam os seus instrumentos. Sem paragem e com uma suave transição o concerto é iniciado com o single Opale. Dando o mote para o que esperar da atuação desta noite. Como era evidente, grande parte do novo álbum iria ecoar na sala. Mas também haveria espaço para temas dos álbuns anteriores.
Foi precisamente na Là où naissent les couleurs nouvelles que se sentiu uma forte reacção por parte do público. Que parece ter como que acordado. Ao longo da uma hora e pouco seriamos brindados maioritariamente com temas do álbum anterior e este novo Shelter. O que acabou por ser bom, mostrando a consistência e semelhança entre as composições.
Já só na recta final é que se ouviu a clássica e a mais conhecida Percees de lumiere que foi sem duvida o ponto alto da atuação, com o público em total sintonia. Antes de irem embora (para o encore) tocariam também a muito acarinhada Souvenirs d'un autre monde.
O tempo passou demasiado rápido e já ouvíamos os músicos a agradecer a plateia portuense a calorosa recepção que sempre lhes concedem. Não é mentira nenhuma que Alcest gostam de Portugal, não seria normal estarem cá tantas vezes se não fosse verdade.
Verdade seja dita, “Shelter” ganha muita mais projecção, alcance e força ao vivo. Músicas como a Délivrance que fez o encore, ou a própria Shelter não destoam de forma nenhuma dos já “clássicos” que Alcest tem vindo a tocar há anos. É bom sinal portanto, mostra de alguma forma que a essência musical está intacta.
Das poucas notas negativas da noite foram algumas falhas no som que não conseguiu espelhar bem as actuaçoes super competentes de todas as bandas. O horário algo tardio mas que no entanto foi cumprido a risca, sem que houvesse nenhum atraso. E relativo a Alcest, a falta de alguns temas que qualquer fá acérrimo diria que são obrigatórios.
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sábado, 20 dezembro 2014