Reportagem All Things Shining + Russian Circles + These Arms Are Snakes @ Porto Rio
Review All Things Shining + Russian Circles + These Arms Are Snakes - Porto Rio - Fotos
Numa noite fria de Novembro (05.11.2008) fez-se sentir muito calor no Porto Rio. Um burburinho erguia-se da antecipação que o público possuía perante as iminentes actuações de duas das melhores bandas do underground americano actual, Russian Circles e These Arms Are Snakes. A sua força levou a que o pequeno barco estivesse relativamente preenchido para uma quarta feira à noite.
Devido ao cancelamento do one man show do americano Darren Keen, denominado "The Show Is The Rainbow", os portugueses All Things Shining, oriundos da Nazaré, abriram a noite de forma bastante respeitável. Detentores de um post rock melódico e interessante, acabaram por surpreender, mostrando músicas fortes e complexas para um trio, algo que se deve ao vasto uso de loops por parte do guitarrista de serviço.
Terminado o set dos All Things Shining, foi a vez de entrarem em palco os Russian Circles. Recebidos euforicamente, lançaram-se de imediato ao que interessa. Munidos de um som poderoso, complexo e intrincado, conquistaram o público portuense nas primeiras notas. Passando por músicas de Station e Enter, foram construindo um flow irrepreensível, acabando o concerto em grande, com a já obrigatória “Death Rides a Horse”. A química entre os três músicos mostrou-se incrível perante temas tão complexos. Mike Sullivan (guitarra) demonstrou um virtuosismo natural, tanto sacando riffs pesados, como tappings melódicos e loops mais graciosos. E escusado será dizer que Brian Cook (antigo baixista dos lendários e defuntos Botch, actualmente em These Arms Are Snakes) foi uma adição sábia por parte dos Russian Circles pois, dentro do nicho que habitam, é, definitivamente, um dos melhores manejadores das quatro cordas mais graves. Tanto Brian Cook, como Mike Sullivan, foram apoiados de forma graciosa por Dave Turncrantz (bateria), um criador de ritmos com muita imaginação, originalidade e garra. Somando todas as partes, uma banda de luxo e um concerto da mesma categoria.
Após a saída do trio americano foi a vez da entrada do quarteto que constituía a cabeça do cartaz da noite. Os These Arms Are Snakes, oriundos de Seattle, regressaram ao nosso país e dispensam grandes apresentações. Uma espécie de super grupo do post hardcore (ex membros de Botch, Kill Sadie, etc), possuem um som musculado e dançável, misturando baixo e guitarra abrasivos com teclas muito inclinadas para o electro rock, tudo enquanto o baterista e produtor Chris Common mantém as batidas no ritmo necessário para manter todos os corpos a mexerem. Vieram ao nosso país com o intuito de apresentar o seu novo trabalho, Tail Swallower And Dove, mas passaram por todo o seu repertório, tanto por trabalhos de Oxeneers or The Lion Sleeps When Its Antelope Go Home como de Easter, notando-se grande participação do público em temas como “Angela’s Secret” ou no mais recente single “Red Line Season”. A referida participação foi imensa, em grande parte por causa do vocalista Steve Snere. Ostentador de uma pose um pouco excêntrica, puxa pelas hostes como ninguém. Berra, salta, cospe, trepa pelas vigas do tecto, pelas colunas e pelo próprio público. Um verdadeiro animal do palco. Nas extremidades opostas, foi possível sentir o à vontade possuído por Brian Cook e Ryan Frederiksen, com alguns high fives “flutuantes” e algumas piadas quanto à saída de afinação do baixista. Resumindo e concluindo, foi uma grande noite de rock. Mesmo após quase três horas de concertos, notavam-se muitos sorrisos entre o público (os encores ficaram fora do dicionário), demonstrando que o saldo foi positivo.
É também de salientar a boa organização do espectáculo por parte da Amplificasom, que nos tem vindo a oferecer concertos de grande qualidade, com bandas que doutra maneira muito dificilmente passariam por terras lusas.
Marco Castro