Reportagem Allen Halloween no Porto
Na passada quinta-feira, véspera de feriado, um Maus Hábitos completamente lotado recebeu Allen Halloween no seu regresso à Invicta, numa noite memorável que ficará certamente gravada na memória de todos aqueles que a presenciaram.
Ainda o rapper não tinha subido ao palco e o entusiasmo na sala já era palpável, sendo que cada minuto que passava só servia para alimentar ainda mais o apetite de uma audiência extremamente empolgada. Quando, após algum tempo de espera, o concerto finalmente arrancou, a explosão de energia por parte da plateia revelou-se absolutamente arrepiante e deixou bem claro que Allen Halloween já atingiu o estatuto de lenda (mas uma no topo da sua forma) na comunidade do hip-hop e da música alternativa em geral. Observávamos os sorrisos espalhados nos rostos dos presentes, escutávamos a paixão ardente com que o público cantava as músicas e sentíamos que estávamos num qualquer concerto de estádio protagonizado por uma consagrada banda de rock. Surreal, mas bem real.
Perante um cenário destes, é impossível não colocar a questão: o que torna o referido artista numa figura tão admirada, autêntico ídolo de uma geração? A resposta com certeza que incluirá diversos argumentos, mas um deles será certamente o carácter genuíno da sua arte, a deliciosa sensação de sabermos que cada palavra contém um pedaço da alma de Allen. Nas suas mãos, um microfone transforma-se numa poderosa plataforma que lhe permite documentar aquilo que vive, sente e pensa - um diário sonoro da vida e do mundo que o rodeia. Não pretende ser um actor político e mudar a sociedade, mas tenta chegar aos corações de quem se dispõe a ouvi-lo. Através desse registo sincero e da qualidade musical do seu trabalho, acabou por conquistar uma leal base de seguidores que fez com que o Maus Hábitos fosse demasiado pequeno para um evento com tanta procura. Muitos não conseguiram adquirir bilhete, mas aqueles que invadiram a sala criaram, juntamente com Allen e companhia, um fantástico ambiente de celebração e troca de energia.
Temas como “Drunfos”, “Zé Maluco”, “Bandido Velho” ou “Youth” (já em encore) foram alguns dos momentos altos de um concerto brilhante que só pecou pela curta duração (cerca de uma hora). Não deixou de ser incrível, mas saímos do Maus Hábitos com a sensação de que esta pujante e animada prestação ainda estava longe do final ideal. À saída, enquanto recuperávamos o fôlego, ouvíamos comentários que exprimiam esse desejo por mais tempo de actuação, mas uma coisa é certa: Allen Halloween chegou e espalhou magia, apenas se despediu quando não estávamos prontos para dizer adeus.
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quarta-feira, 10 outubro 2018