Reportagem Andrew Bird - Lisboa
O palco da Aula Magna deu lugar, novamente, a uma actuação de um dos compositores e intérpretes mais carismáticos da música contemporânea. Apesar de ter lançado Noble Beast no ano passado, Andrew Bird aproveitou para apresentar temas que irão figurar num tardio novo álbum, principalmente para oferecer aos portugueses o contentamento de ouvir as novas músicas pela primeira vez.
Porém, antes e para aquecer o palco da reitoria, entrou DEPEDRO, o projecto musical de Jairo Zavala. O músico, na sua primeira vez em Portugal, aproveitou para apresentar os temas de Nubes de Papel (2009), o primeiro esforço de um artista que prima pelo folk rock caracteristicamente latino. Apesar de se apresentar sozinho com a sua guitarra, Zavala conseguiu animar uma Aula Magna ainda praticamente vazia com a sua boa-disposição e carisma.
No entanto, se podíamos adivinhar uma lotação a meio gás da sala lisboeta, não podíamos estar mais longe da verdade. Quando o mestre do assobio entra em cena, descalçando-se prontamente para mostrar as famosas meias, já o recinto está repleto de fãs fiéis, que não perderam a oportunidade de presenciar um concerto que se apresentou único. O maestro dos loops e efeitos musicais deu inicio ao seu concerto com a fantástica ‘Why?’ e mostrou, desde logo, uma imensa sensibilidade artística que, conjuntamente com uma performance quase alucinada, tornam os seus concertos próximo do hipnotizante.
Já este particular concerto parecia ser tanto para nós como para Andrew Bird: era notável que este retirava uma enorme satisfação de apresentar os novos temas ao vivo, intercalados pelas diferentes histórias de peripécias ou mesmo do processo de elaboração das letras do músico. Bird explicou como estava a viver em Lisboa já há duas semanas e de como estar a morar na capital portuguesa influenciou a composição dos novos temas. Entre estes, constavam ‘Lusitania’ e ‘Give it Away’, duetos futuros com as senhoras do universo indie Annie Clarke (St. Vincent) e Eleanor Friedberger (The Fiery Furnaces), respectivamente.
Apesar de alguns problemas técnicos e de um derramar de água irónico em ‘Natural Disaster’, o concerto adivinhou-se sereno e interessante, marcado pelas mais conhecidas ‘Oh No’, ‘Action/Adventure’ e ‘Skin is, My’. O músico, oscilando entre o violino empunhado como guitarra e a guitarra eléctrica, encantou com a sua belíssima voz e ainda mais belíssimo assobio em temas folk com um cunho muito próprio.
Quase perto do final do concerto, Jairo Zavala acabou por se juntar a Andrew Bird no palco lisboeta: os arranjos de guitarra do espanhol funcionaram plenamente com os devaneios desenfreados do violino do americano, em temas como ‘Scythian Empires’, do qual Zavala se lembrava quando tocava com os americanos Calexico e viu Bird ao vivo.
Destaque ainda para a nostálgica ‘Happy Birthday Song’, que encerrou o concerto de um pássaro nunca desinteressante para o público português, mesmo com a apresentação de temas desconhecidos.