Reportagem Andrew Bird na Aula Magna
Ficamos, com a memória de mais uma bela noite passada, feita possível pelas mãos de um artista fascinante, que não deixa de surpreender.
Foi no passado sábado que o multi-instrumentalista Andrew Bird passou pela Aula Magna para mais um concerto magnífico. Não é estranho a palcos portugueses, nem estranho ao seu público, sendo muito acarinhado, é um dos “cantautores” mais interessantes dos últimos anos, tendo já na bagagem pouco mais de quinze anos de material belíssimo e um cantar de histórias fantásticas, que marca com um punho que já tem marca registada. Não há como deixar de apreciar.
Se há dois anos, no mesmo local, Bird se apresentou sozinho, num concerto único em Lisboa, que apresentou muito do material já lançado no presente ano, a edição de 2012 foi diferente. Desta vez, está bem acompanhado, por um guitarrista, baixista e baterista, que dão maior força aos temas do norte-americano, alucinados, bizarros, mas nunca dissonantes, que parecem vir de um alma cinco vezes mais antiga. Mundos construídos, interpretados com uma teatralidade sublime e um talento ainda maior, como “Hole In The Ocean Floor”, que dá início à noite, e “Desperation Breeds...”, reafirmam-no como autor de uma sonoridade muito sua e encantam o público da Aula Magna, praticamente enchendo a casa.
Break It Yourself e o acompanhante Hands of Glory, ambos lançados no presente ano, são as novas prendas a mostrar e os novos exemplos do quão edificativo é o processo de criação destas músicas, por parte de Andrew Bird – e este mal podia esperar por mostrá-lo ao público português. Há dois anos, viveu em Lisboa durante poucas semanas enquanto compunha os novos temas, no qual se inclui a lusitanamente influenciada “Lusitania”, cantada a meias com a incrível St. Vincent, ausente na noite passada, mas presente em espírito, e como muitos outros, ganhou um apreço especial pelo nosso país. Daí o estabelecimento de uma ligação quase espiritual com o público, não deixando de ser comunicativo, sempre no seu jeito modesto e subtil de se relacionar com o mundo.
Apesar de focada nos últimos esforços musicais, o alinhamento certamente fez as delícias a quem assistiu, sendo marcada por vários momentos de excelência da carreira do cantor. Tanto a soberba “Why?” como a sedutora “A Nervous Tic Motion of the Head to The Left” são dois dos pesos pesados de qualquer atuação de Andrew Bird, e ressalta-se também “Fiery Crash” e “Solvay”, sempre doces, mesmo menos intimistas com o apoio da banda. Depois de uma breve pausa, contámos com “If I Need You”, originalmente de Townes Van Zandt, e “Don’t Be Scared”, dos The Handsome Family, tal como com “Fake Palindromes” em modo rock, óptimo tema para acabar uma grande noite de música.
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sábado, 20 dezembro 2014