Reportagem Ariana Grande em Lisboa
A estreia de artista americana por palcos portugueses aconteceu no passado dia 11 de Junho, perante uma plateia bastante preenchida. E se o Verão não será por norma a ocasião mais fértil para concertos em nome próprio pela sobreposição com a época de festivais, a verdade é que estão em causa públicos diferentes. Ariana Grande trouxe a Lisboa um espetáculo pouco aparatoso, mas que a confirma como uma das figuras mais populares do panorama mainstream actual. Marcada pelo ataque terrorista após o concerto de Manchester, a Dangerous Woman Tour foi suspensa temporariamente tendo regressado à estrada depois do concerto solidário que encheu Old Trafford no início de Junho.
O contexto importa e de facto garante a este concerto um significado político pela forma como apesar da interacção reduzida com o público, Ariana Grande não deixa transparecer qualquer receio ou insegurança face à mensagem de aceitação e igualdade que transporta em si mesma. O sentimento de resistência é partilhado com o público, visivelmente feliz por ali estar, pronto a celebrar.
Após um DJ set, a primeira actuação da noite foi responsabilidade de Victoria Monét, uma jovem figura da vertente mais pop do R&B americano, que aos 24 anos tem já créditos de co-escrita em canções das Fifth Harmony e mesmo em várias faixas de “Dangerous Woman”. Sozinha em palco, Victoria foi capaz de entreter os presentes com alguns dos momentos dos seus dois EPs a solo, numa actuação focada nos seus movimentos de dança. De resto, o elemento coreográfico manteve-se central no espectáculo que Ariana Grande viria a apresentar em seguida. Num palco desprovido de adereços ou estruturas extravagantes que habitualmente associamos a concertos pop, a dinâmica visual foi feita com base em projeções que ajudaram a ocupar um palco com demasiado espaço vazio.
Sozinha ou com uma equipa de dançarinos junto a si, Ariana tem ainda assim trunfos importantes: singles com tanto de instantâneo como de inesquecíveis, um álbum sólido e uma boa voz. O alinhamento assente no último “Dangerous Woman” propõe postura e atitude mais adulta, pelo que momentos como “Let Me Love You”, “Leave Me Lonely” e especialmente “Thinking Bout You” são interpretados de forma sentida, evidenciando o potencial que Ariana ainda tem por explorar. O público que encheu a sala lisboeta, pouco agitado de início, manteve o regime de celebração até ao final do concerto, acentuando-se a partir de “Side to Side”. E se filhos e pais vieram ao parque das nações para uma noite animada, a mesma não foi feita sem mensagens a ter em conta: vídeos com importantes mensagens feministas e referências visuais a casais homossexuais garantem que concertos como este são um espaço de facto seguro para todos e todas.
Os singles anteriores - “One Last Time”, “Break Free” e “Problem” – efusivos nas suas formas originais, surgem neste concerto em versões infusas de sonoridades trap, que não se revelam particularmente eficazes, especialmente quanto reduzem drasticamente a força dos seus refrães. Felizmente, “Everyday”, “Touch It” e “Into You” foram interpretadas irrepreensivelmente.
O público presente foi ainda assim benévolo, e gritou por Ariana até ao final poderoso com a canção que dá título ao álbum e à digressão. Apesar do som da MEO Arena não ser particularmente nítido, esta foi uma actuação vencedora pelo entusiasmo partilhado que por aqui se viveu. Ariana pode seguir o trajecto de outras estrelas da cena pop actual, mas a personalidade e a empatia com os fãs (mais visível no Twitter do que propriamente em palco) diferenciam-na pela positiva.
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Organização:Everything is New
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segunda-feira, 25 novembro 2024