Reportagem Ariel Pink e Dreams - Porto
Depois de no dia anterior ter tocado no Espaço M (antiga Casa dos Dias da Água) em Lisboa eis que Ariel Marcus Rosenberg, mais conhecido como Ariel Pink, traz ao Porto o projecto Haunted Graffiti, fazendo‐se acompanhar da banda que formou há dois anos. Foi Dreams quem abriu para o concerto do californiano.
Dreams é o recente projecto de João Chaves, jovem de Viseu a viver no Porto. Acompanhado do guitarrista que o assiste nas actuações ao vivo, coube‐lhe a tarefa de fazer as honras de abertura para a actuação de Ariel Pink’s Haunted Graffiti, que viria logo a seguir. A contar já com o “Simple Steps EP”, composto por quatro faixas e a preparar‐se para lançar o segundo pela SVN SNS, o João foi mostrar pela segunda vez ao Plano B as sonoridades lo‐fi, pop e minimalistas do seu projecto, cujas referências passam por Washed Out, The Drums, Toro y Moi ou Wavves. Assistiu‐se a uma actuação tímida, tanto por parte da banda, como por parte do público que, não sendo em grande número, foi proporcional na aproximação ao palco e em aplausos. Para quem lá esteve e gostou, ou para quem não esteve mas ficou curioso, volta a haver Dreams a 16 de Julho na Fnac Algarve Shopping e no Festival Milhões de Festa (Barcelos), a 25 de Julho, dia de Delorean, Toro y Moi, Crystal Fighters, Karma To Burn e Year Long Disaster entre outros.
Ariel Pink começou nos anos 90 a juntar em centenas de cassetes as gravações caseiras que fazia sozinho. Na altura, os meios de gravação que usava eram rudimentares, mesmo a bateria – que não existia – era substituída por sons que emitia com a boca. Este processo criativo, baseado na autosuficiência e na utilização de meios artesanais, conferiu aos seus temas um som único. As influências que enumera passam por David Bowie, John Lennon, The Bee Gees, Hall & Oates, Frank Zappa, Brian Eno, Roxy Music e a new wave do final dos anos 70 e início dos anos 80. Ariel enquanto vocalista, compositor, músico e produtor, trouxe na bagagem o seu novo disco: “Before Today”, destacado no conceituado site da Pitchfork enquanto “Best New Music”. Este trabalho marca uma nova era na carreira de Ariel Pink, na medida em que é, para além da sua estreia pela 4AD, – depois de ter visto editados alguns discos pela Paw Tracks dos Animal Collective, desde o final dos anos 90 – a primeira vez que trabalha em formato banda e a primeira vez que existe um trabalho de composição que se destina, não a uma mera colecção de temas já gravados, mas sim a um disco novo. É verdade que contém algumas versões renovadas de temas anteriormente lançados, mas este álbum é, sem dúvida, o mais “limpo” e o que possui uma gravação mais nítida sem que, no entanto, se tenham perdido por aqui os traços lo‐fi que desde sempre acompanharam a sonoridade singular de Ariel Pink.
Depois da actuação de Dreams, o público voltou à Sala Palco do Plano B para receber Ariel Pink e a sua banda, composta por Kenny Gilmore (teclas, guitarra e voz), Cole M. Grief‐Neill (guitarra e voz), Tim Koh (baixo) e Aaron Sperske (bateria). Perante uma assistência bem mais densa e calorosa do que no concerto anterior, Ariel demonstrou a sua forte presença em palco, posicionando‐se quase sempre próximo do público, bem na frente do palco, deixando para segundo plano os restantes membros do projecto Ariel Pink’s Haunted Graffiti. Na companhia da banda e de, ora da cerveja, ora dos cigarros, deliciou os presentes, quer com temas do novo álbum – na sua maioria – como Bright Lit Blue Skies, L’estat, Fright Night, Round and Round e Can’t Hear My Eyes, quer com temas de álbuns anteriores, como é o caso de Jules Lost His Jewels, de “Worn Copy”. Quando muitos achavam que a actuação teria já terminado, alguns aplaudiram veemente, insistiram e pediram mais e eis que a banda volta a pegar nos instrumentos e brinda o público portuense com um encore bem generoso.