Reportagem As Canções do Punk no Porto
Numa iniciativa desenvolvida pela Antena 3, que este ano criou uma rubrica intitulada “ As Canções do Punk” dedicada à comemoração das quatro décadas do referido movimento, os Killimanjaro e os Stone Dead foram os escolhidos para recriar esse conceito nos palcos e assim recordar alguns dos mais emblemáticos temas de um estilo tão musical como fortemente ideológico.
As bandas, há que referir, foram ideais para aquilo que se queria: quem já teve oportunidade de ver Killimanjaro ao vivo sabe bem o furacão que o trio barcelense é em palco, adoptando uma postura bastante punk que dá ao seu rock clássico uma dose extra de loucura e intensidade. Quanto aos Stone Dead, lançaram este ano o maravilhoso “Good Boys”, disco que imediatamente os colocou numa posição de destaque no panorama nacional e que tornou o colectivo num dos nomes mais entusiasmantes do rock português.
Contudo, a qualidade destes dois grupos fez com que, de certa forma, desejássemos estar num concerto “normal”, a apreciar as malhas de ambos que sabemos serem suficientes para uma noite memorável. Claro que foi interessante escutar clássicos como “ Anarchy in the U.K.” (Sex Pistols), “Blitzkrieg Bop” (Ramones), “ Born to Lose” (Johnny Thunders and the Heartbreakers) ou “ Ace of Spades (dos Motörhead, banda de rock & roll capaz de juntar punks e metaleiros numa pacífica união musical), entre muitos outros; foi também bastante curioso testemunhar a participação de Kalú, o baterista dos Xutos e Pontapés, que subiu ao palco não para tocar bateria, mas para ajudar a cantar “Morte Lenta” e “Submissão”, naquele que talvez tenha sido o momento mais marcante pelo confronto geracional e pela homenagem ao Zé Pedro, que recentemente nos deixou.
Todavia, este tributo não deixou em certas alturas de parecer um pouco forçado, essencialmente por ser uma celebração nostálgica de um estilo que surgiu como uma reacção à estagnação criativa que estes músicos sentiam que tinha afectado o rock após a revolução dos anos 60. Além disso, como já tínhamos anteriormente mencionado, pôr os Killimanjaro e os Stone Dead a mergulhar no passado glorioso do punk até constitui um exercício engraçado, mas a verdade é que um alinhamento só com temas originais teria criado um ambiente de festa igualmente explosivo. Ainda assim, podemos dizer que assistimos a algo diferente e que ambos os grupos estiveram à altura do desafio.
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domingo, 07 janeiro 2018