Reportagem Beach House em Lisboa
Existem casos em que é estritamente necessário o recurso ao superlativo para descrever determinadas situações. O concerto de sábado passado de Beach House foi sem dúvida um desses casos. Minutos antes de começar, a fila de pessoas para assistir seguia beira rio e estendia-se para lá dos armazéns da Portugália (para quem não esteja familiarizado com o local, tratam-se de largos metros de distância). Muitos foram os que se deslocaram ao Cais do Sodré para ouvirem o duo que de novo nada tem, mas que chegou aos ouvidos de muitos dos presentes através de Bloom, o seu mais recente álbum, que serviu de pretexto para as duas datas em Portugal. Sábado em Lisboa e domingo no Porto.
Mas antes do grupo subir ao palco, Marques Toliver, compositor, produtor e violonista oriundo da Florida, brindou os que já se encontravam dentro das quatro paredes do espaço com uma performance sóbria, acústica e com bons apontamentos musicais. Sozinho, e de violino ao ombro, o cantor recorreu àquele que já pode ser considerado, apesar de já existir há largos anos, o pedal da moda, o looper. Tema após tema o norte-americano foi conquistando os presentes que se iam multiplicando, deixando, já no final da atuação, o local completamente à pinha. E todos os que já frequentaram este espaço sabem bem o ambiente que se vive quando um concerto vem carimbado com a palavra "esgotado".
Depois desta calorosa recepção, e depois do espaço já ter acolhido o público que ainda restava entrar, o duo subiu ao palco, acompanhado do baterista de serviço para o exercício ao vivo, sob uma forte salva de palmas. Perante a decoração azul marinha do espaço em questão, os anfitriões desta "casa da praia" ocuparam as suas posições e deram início ao concerto com "Wild" e "Troublemaker", ambas de Bloom, deixando o barracão ribeirinho rendido às canções que têm de tudo menos alusões ao estio e a práticas de bronze. Apesar do calor que se fez sentir no local estar à altura de tal comparação.
Alex – sentado num banco, como se estivesse no seu quarto, de guitarra ao colo e com uma parede de amplificadores ao seu lado e uma invejável coleção de pedais de efeito à sua frente – esteve irrepreensível no papel que desempenhou nas cordas. Victoria, dona e senhora dos seus teclados, vestia um casaco de lantejoulas, que, refletindo os raios de luz projetados para o palco, lhe ofertava um carácter celestial. Uma boa e extensa visita ao aclamado Teen Dream levou-nos a escutar "Norway", "Silver Soul", "Walk in The Park", "Zebra", "Real Love", "Take Care" e "10 Mile Stereo", todas elas relatos escuros de uma mansão densa e profunda que combinaram a melosa voz de Victoria e as suas teclas com as melodias penetrantes de Alex.
No palco, uma dúzia de cortinas sobrepostas erguiam-se por detrás da banda e, de fundo, um cenário preto brilhava como que de um céu estrelado se tratasse, casando perfeitamente com a vertente espacial da música que a parelha interpretava. "Lazuli", "Other People", "The Hours", "Wishes", "Myth" e a fechar o concerto, "Irene", foram as peças que completaram a apresentação de Bloom, sendo que, esta última, resultou num momento de elevada qualidade musical. Mas já lá vamos.
Netos do krautrock alemão e filhos da cena dream pop britância, os Beach House representam toda uma geração altamente ligada ao laço familiar de bandas como os Depeche Mode e os Joy Division e completados por toda a vertente synth pop dos anos 80 – foi possível ouvir, a meio do concerto umas notas do Take On Me dos noruegueses A-ha. Os Beach House compilam todas estas influências e conseguem reproduzir fielmente os seus labirintos de música sintetizada, não falhando uma nota que seja ao vivo – é de se louvar.
Na reta final e depois de "Myth" ter colocado o TMN ao Vivo todo a cantar, "10 Mile Stereo" contou com uma excelente parte rítmica e encerrou o concerto antes do encore. Escassos segundos depois de terem abandonado o palco, a parelha, mais o seu elemento extra, regressaram para o tão requisitado momento final. Tal começou com "Turtle Island" do álbum Devotion e finalizou com "Irene", a canção perfeita para a despedida da noite que teve direito a um esboço de headbanging por parte de Victoria e que fez Alex levantar-se da sua cadeira numa progressão melódica e rítmica culminada numa apoteose instrumental. Bela forma de se encerrar um concerto e de se deixar centenas de pessoas sedentas de mais. Algo que acabou, infelizmente, por não acontecer. Superlativando o concerto, podemos dizer que a dupla correspondeu às expetativas e desempenhou o seu papel de forma extremamente competente, conjugando música e sentimentos numa atuação magnificente.
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Organização:PicNic
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sábado, 20 dezembro 2014