Reportagem Bizarra Locomotiva no Porto
Os (já) míticos Bizarra Locomotiva regressaram à Invicta com o objectivo de comemorar, junto da “Escumalha”, a reedição do seminal “Álbum Negro”. A noite era fria e chuvosa, mas as desfavoráveis condições meteorológicas não influenciaram a adesão ao evento, tendo a Sala 2 do Hard Club enchido para testemunhar aquele que foi, sem dúvida alguma, um dos mais memoráveis concertos do grupo lisboeta em território portuense.
Quem já teve oportunidade de ver Bizarra ao vivo sabe que a banda é sinónimo de pura intensidade em palco, mas nesta ocasião o quarteto mostrou-se ainda mais brutal e frenético do que o normal, talvez devido ao cariz especial desta actuação. Desde o momento da chegada até à inevitável despedida, deram tudo o que tinham, levando-nos a crer que o estatuto de veteranos de que gozam actualmente funciona como motivação para combater a inércia e a estagnação criativa. Ao contrário de outros grupos que decidem recordar um período glorioso da sua existência, esta viagem ao passado foi feita por uma banda não só relevante no presente, mas possivelmente melhor actualmente do que na altura em que editou o disco.
Rui Sidónio continua a ser uma figura absolutamente carismática, desempenhando o seu papel de endiabrado frontman de forma magistral. Ora em palco, ora no meio da audiência, canta com uma determinação arrepiante cada verso destas sinistras composições, quase como se fossem poemas declamados de forma impetuosa por um poeta enlouquecido. A certa altura, Fernando Ribeiro, dos Moonspell, junta-se à festa para interpretar “O Anjo Exilado” e “Ergástulo” (cantada junto do público) sendo que durante este primeiro “acto“ escutamos igualmente clássicos como “A Procissão dos Édipos” e “Engodo”, assim como o instrumental “Láudano, pt.3”, onde o baterista Rui Berton aderiu ao crowd surfing.
“Prótese” deu por encerrada a redescoberta do “Álbum Negro”, mas estávamos ainda longe do destino final. Havia mais meia dúzia de temas para ouvir, começando logo com o regresso de Fernando Ribeiro para uma homenagem a Zé Pedro através da cover de “ Se Me Amas”, uma das mais emblemáticas composições dos Xutos. O vocalista dos Monnspell fez a sua última aparição nesta noite em “ O Escaravelho”, num final apoteótico com muito do público a celebrar com o grupo em cima do palco. “Grifos de Deus” ou “ Na Ferida Um Verme” constituíram outros momentos altos de uma prestação soberba, numa impressionante demonstração de vitalidade que provou que os Bizarra Locomotiva continuam exímios na arte de proporcionar catárticas experiências sonoras. Inegavelmente belo, este concerto permanecerá eternamente na memória de quem o viu e o sentiu na pele.
Na primeira parte, os Phantom Vision trataram de aquecer o público presente com o seu post-punk de tons góticos.
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Organização:Rastilho
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segunda-feira, 22 janeiro 2018