Reportagem Black Bombaim & Peter Brötzmann no Porto
Numa noite dedicada à improvisação, os barcelenses Black Bombaim juntaram-se a Peter Brötzmann - figura mítica do free jazz - para juntos explorarem novos mundos musicais. Não se tratava da primeira colaboração do trio com outros artistas -recordemos, por exemplo, a jam no Milhões de Festa com Isaiah Mitchell (Earthless) ou as aventuras ao lado dos conterrâneos La La La Ressonance- mas havia interesse em testemunhar o resultado desta curiosa união. Felizmente, o casamento entre o stoner de cariz psicadélico dos Black Bombaim com o universo de Brötzmann originou uma viagem sonora genuinamente excitante.
O concerto iniciou-se ao som do saxofone do lendário músico alemão, colocando-o imediatamente num merecido pedestal, sendo que pouco tempo depois o resto da banda entrou em cena e levou-nos numa imprevisível sessão de experimentalismo sonoro. Como é óbvio, num clima de improvisação intensa há partes que soam melhores do que outras, mas mesmo com momentos ligeiramente mais mornos a contrastarem com outros absolutamente fantásticos, o produto final revelou-se bastante coeso. Para isso não só contribuiu a química que os Black Bombaim têm entre si (e a vontade de se reinventarem sem nunca perderem a identidade), mas também o talento de Peter Brötzmann como instrumentista: detentor de um registo inconfundível, extrai do seu saxofone alguns dos mais entusiasmantes, ruidosos e violentos sons que alguma vez ouvimos, provando que a idade (o músico comemora este ano 75 primaveras) é apenas uma questão de espírito.
Numa noite extremamente fria, os Black Bombaim e o Peter Brötzmann aqueceram-nos a alma… Voltarão a partilhar um palco ou a encontrarem-se num estúdio qualquer? Esperemos que sim. Seria bom pensar que este foi somente o primeiro capítulo de um memorável encontro musical.
Contudo, antes dos cabeças de cartaz assistimos à estreia de Jorge Queijo a solo. O músico, já com créditos firmados no panorama nacional, apresentou-se num registo igualmente experimental, criando sons dissonantes através de voz, bateria e maquinaria. Todavia, apesar de alguns momentos bons, notou-se que o projecto é, pelo menos nesta fase embrionária, melhor a nível conceptual, faltando mais coesão em palco. Todavia, esta actuação mostrou-nos que há aqui muito potencial.
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segunda-feira, 07 março 2016