Reportagem Black Rebel Motorcycle Club
Começou oficialmente dia 7 o nosso próprio “Mad November”. Qualquer pessoa que tenha gosto por música ao vivo, sabe que Novembro é o mês em que há mais concertos e em que é mais impossível ir-se a todos. Primeiro Broken Social Scene, agora Black Rebel Motorcycle Club. A Aula Magna, como ponto de partida da corrida que vai ser o penúltimo mês do ano, nem se saiu mal.
Passou muito tempo – talvez demasiado – desde que os Black Rebel Motorcycle Club se mostraram aos portugueses, foi o próprio Robert a admiti-lo. A sala ia-se compondo enquanto os Murdering Tripping Blues faziam as honras de abertura. Pareceu estranho a muitos a escolha da sala para uma banda desde calibre, as cadeiras confortáveis não faziam sentido no meio de tanto ácido. A pequena grande banda alfacinha trazia na mala “Share the Fire”, que não arrancou das cadeiras aqueles que impacientemente esperavam pelos californianos.
À sua entrada, não se esperava melhor recepção. Robert Levon Been agarrou no baixo e deu-se início a uma noite memorável com War Machine.
Mama Taught me Better do mais recente Beat the Devil’s Tatoo fez perder a timidez, começaram a deixar-se os assentos para trás e a dança tomou o seu lugar. 666 Conducer de Baby 81 mostrou que não era só o último álbum que iria participar na festa de rock’n’roll, Apesar de os oldies estarem sempre presentes, antes de Peter Hayes ir pegar na sua harmónica mágica, ouviu-se a música homónima do último álbum e Bad Blood. Ain’t No Easy Way fazia esperar algum entusiasmo por parte do público, mas eram poucos os que se viam em pé. E se sentados estavam, sentados continuaram com os arranhões preguiçosos no baixo a dar início a Aya e à não tão pachorrenta Heart + Soul. Já estava conquistado o pódio de melhor concerto da semana e ainda só era segunda-feira, ainda não se avistava um fim. Robert senta-se ao piano para alguma acalmia, apesar de os corações palpitarem.
Whatever Happened to my Rock’n’Roll era o fim da primeira parte, não houve quem se aguentasse sentado. O nosso rock’n’roll não podia estar melhor representado naquela noite. O gigante – mais do que em sentido literal – baixista passeou-se por cima das cadeiras doutorais como se de chão se tratasse, até chegar ao público da bancada e gritar-lhes “Whatever happened!”. Evidentemente, apesar da explosão de energia, ninguém queria sair da sala, e ninguém saiu.
De volta ao palco, Levon Been apresentou-se sozinho de guitarra acústica em riste, para Dirty Old Town que entoou com ajuda do público, e sem ajuda de microfone. Passa-se o testemunho a Peter e Complicated Situation quase que arrancava lágrimas (se não as arrancou mesmo). The Toll, Half-State e Conscience Killer fecharam a apresentação de Beat the Devil’s Tattoo (ou será que fecharam?), e foi Spread Your Love que comoventemente deu por terminada uma noite absolutamente fenomenal.
Até decidirem regressar. Agradecimentos largos atribuídos aos lisboetas, que agradecíamos de volta. Salvation queria-se prolongada, Jesus afinal não nos deixou sozinhos. Robert aponta para os pais de Leah Shapiro que estavam presentes, vindos da Dinamarca, e culpou-nos por termos um cidade que faz com que as pessoas se apaixonem, onde de facto o casal se conheceu há anos. Shadow’s Keeper e Open Invitation acabaram oficialmente um concerto mestre. A banda despediu-se com um “até breve” que a Aula Magna com certeza vai cobrar, num sítio diferente.
Dificilmente se fará um concerto melhor que o da noite de ontem durante este mês. O Porto tem os dados lançados. Desejamos-lhes um espectáculo tão abrasador como o de ontem, gostávamos de estar lá de novo.