Reportagem Boogarins no Porto
É cada vez mais frequente ligarmos a televisão ou passarmos os olhos pelos jornais e apercebermo-nos do caos em que o mundo se encontra: desde a actual emergência de movimentos de extrema-direita a actos de censura com base no uso excessivo de violência, a verdade é que somos diariamente bombardeados com notícias que, inevitavelmente, abalam a nossa fé na humanidade e nos fazem questionar que tipo de futuro estamos a construir para nós, assim como para as gerações seguintes.
No entanto, no meio de toda esta confusão, é importante que continue a haver sinais de que nem tudo está mal, por muito que por vezes assim pareça, e que encontremos alegria nos pequenos prazeres da vida. Precisamente por isso é que observamos com um sorriso nos lábios o fenómeno de popularidade em que se tornaram os Boogarins, banda que poucos provavelmente imaginavam, na altura da estreia em Portugal no Milhões de Festa de 2014, que um dia levaria a cabo uma digressão nacional de oito datas em sete localidades diferentes (foi marcado um concerto extra em Lisboa) e que essa ousada aventura acabaria por se revelar um enorme sucesso de bilheteira. Uma bonita história de sucesso, quase surreal em certos aspectos, mas sem dúvida bastante inspiradora.
Naquela que foi a segunda passagem pela Invicta em 2018 – estiveram em Março no Maus Hábitos, num evento que esgotou em menos de 24 horas - o quarteto de Goiânia voltou a proporcionar uma agradável e animada sessão de rock psicadélico de tons exóticos, numa quente e descontraída viagem sonora que tanto evocava um forte espírito de jam session como explorava territórios mais melódicos e sonhadores. Ainda que tenha faltado o maravilhoso ambiente intimista que um local como o Maus Hábitos oferece (mesmo sendo na Sala 2, o Hard Club pareceu-nos distante demais para algo que se queria próximo), temas como “Doce” ou “Tempo” conquistaram os corações do público, possibilitando assim a escrita de mais um capítulo memorável na curta mas intensa história dos Boogarins com o nosso país.
Independentemente dos motivos que expliquem o amor dos portugueses pelo colectivo brasileiro, uma coisa é certa: dá gozo testemunhar este fenómeno. Alguns poderão criticar a extrema regularidade com que a banda nos visita, e se por um lado o sentimento de novidade já há muito que se evaporou, o clima de reconfortante familiaridade permanece; numa sociedade cada vez mais negra, cruel e instável, os Boogarins continuam a iluminar o espírito de quem os vê.
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segunda-feira, 29 outubro 2018