Reportagem Brit Floyd no Porto
Como melómanos, há certas bandas que ocupam um lugar especial no nosso coração e que, infelizmente, nunca temos oportunidade de ver ao vivo. Nesse sentido, as bandas de tributo ajudam a colmatar essa falha, fazendo com que cheguemos perto de concretizar o sonho, mesmo que não seja, realisticamente falando, a mesma coisa. No entanto, no caso de grupos como os Brit Floyd, a cópia é tão parecida com o original que, com um pouco de imaginação, esquecemos que tudo não passa de uma ilusão.
Pouco passava das 21:00 quando entramos num Coliseu que, pouco a pouco, se foi enchendo. Por esta altura, projecções acompanhadas de música – semelhante às gravações de sons que os próprios Pink Floyd usavam no seu tempo – inundavam a sala, criando antecipação para a viagem nostálgica no qual estávamos prestes a embarcar. De louvar também a decisão de colocar cadeiras na zona da plateia, originando um ambiente de concentração e introspecção absolutamente maravilhoso. Depois deste empolgante aquecimento, estavámos mais do que prontos para mergulhar no passado e explorar um dos mais fascinantes legados na história da música.
Foi ao som de “Signs of Life” – sublime composição retirada de “A Momentary Lapse of Reason” - que a noite se iniciou, seguindo-se a interpretação de “Learning to Fly”. Logo aqui tornou-se óbvio que esta celebração nostálgica não ia ser constituída somente pelos clássicos mais conhecidos, mas que algum material mais obscuro ia também ser retirado do baú. Essa teoria foi confirmada quando o grupo fez questão de interpretar mais temas da fase David Gilmour - um período que, até hoje, divide opiniões entre fãs. A belíssima “High Hopes” ou “Poles Apart” foram algumas das composições desta era a serem tocadas de forma exímia, num espectáculo planeado até ao mais ínfimo pormenor. Bastava observar as projecções que funcionavam como pequenos filmes, o criativo jogo de luzes ou a surreal qualidade de som para nos apercebermos de todos os recursos utilizados para fazer deste serão uma envolvente viagem sensorial. Num alinhamento que se concentrou nos capítulos mais progressivos da obra dos Pink Floyd- indo desde “ Meddle” a “ The Division Bell” - ouvimos hinos eternos como a emotiva “Shine On You Crazy Diamond (parts I-V) ”, “ Us and Them”, “ The Happiest Days of Our Lives”, “Another Brick in the Wall (Part II) ” ou “Pigs (Three Different Ones) “.
Convém salientar que tudo isto aconteceu durante a primeira parte do concerto. Como uma peça de teatro dividida em actos, houve uma pausa, durante o qual aqueles que permaneceram nos lugares ficaram a saber que, após o evento, podiam passar pela mesa de merch para conviver com o grupo e levar para casa souvenirs autografados. É esta atitude que revela – ou confirma – que tudo isto é feito com carinho e motivação, algo de fãs para fãs. Efectivamente, só os mais aficionados é que teriam coragem para tocar, durante mais de vinte minutos, a mítica “Echoes “ (claramente um dos momentos mais bonitos de uma noite inesquecível), ou mesmo realizar um espectáculo elaborado de duas horas e meia. Os Brit Floyd fazem-no, porque querem e gostam. Nesta segunda parte de uma inspirada prestação, temas que há muito que fazem parte do panteão do rock, como “Time“ (incluindo, tal como no álbum “The Dark Side of the Moon”, a passagem por “Breathe”), “Money”, “Comfortably Numb” ou “Wish You Were Here” misturaram-se com outras pérolas como “The Great Gig in the Sky” – fazendo uso do talentoso coro feminino – ou “One of These Days”, a relembrar que os Pink Floyd já se entregaram de corpo e alma ao experimentalismo sonoro.
Terminando com “Run Like Hell”, do marco conceptual que foi “The Wall”, o grupo de Liverpool fez-nos acreditar, por um momento, que os nossos adorados Floyd tinham mesmo regressado. Claro que faltaram temas – sobretudo da fase Barrett, essa figura tão emblemática quanto misteriosa, devidamente incluída em momentos-chave das projecções – mas, ainda assim, assistimos a algo esplêndido… é bom poder sonhar.
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Organização:Música no Coração
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sexta-feira, 22 novembro 2024