Reportagem Built to Spill
Foi na passada quarta-feira que se teve o privilégio de assistir a uma das bandas de culto do rock alternativo americano, com uma vasta carreira e influência musical. Estou a falar dos Built to Spill, a banda liderada por Doug Martsch, que deram na sala de espetáculos Lux um concerto de cerca de duas horas, servindo um pouco como um revisitar de muitos dos momentos altos das suas carreiras.
Coube aos Disco Doom a honra de abrir o palco. Formados na Suíça em 1996, os Disco Doom serviram de aperitivo para o que aí vinha, pois têm uma sonoridade muito parecida à banda principal da noite, com guitarras interlaçadas e harmonia constante, apesar de mais arrastado e lo-fi. A banda europeia já tinha aberto concertos para os Built to Spill em 2008, tendo repetido a proeza nesta presente tour, apresentando um set curto, mas bastante agradável, tendo em Gabriele de Mario e Anita Rufer membros a destacar.
Já os Built to Spill apresentaram-se em palco de forma excelente e ninguém poderia esperar o contrário. Este grande nome da música alternativa é reconhecível pela voz muito característica de Doug Martsch, que nos seus quarenta e quatro anos parece envelhecido (é a vida de rock star), tal como pela perícia e invenção incríveis das guitarras elétricas de Martsch, Brett Netson e Jim Roth. Apresentam, na capital portuguesa, um novo alinhamento, juntando-se Steve Gere na bateria e Jason Albertini no baixo, e apesar de terem confessado não terem ensaiado bem muitas das músicas apresentadas, não houve defeito a apontar.
O conjunto começou com “Goin’ Against Your Mind” e “Conventional Wisdom”, temas de You In Reverse (2006), para uma casa simpaticamente cheia, mas não esgotada de entusiasmo e, apesar da má sorte de Jim Roth, partindo duas cordas, uma em cada tema, podia-se perceber que este concerto seria de extrema qualidade, mesmo que oculto pela sua simplicidade. Os temas de maior notoriedade e relevo serão os de Keep It Like A Secret (1999), um dos álbuns mais reconhecidos do conjunto americano, com “Else”, a fantástica “Center of the Universe” e “Carry The Zero” entusiasmando o público da sala de espetáculos, mas também houve oportunidade de apresentar temas mais antigos (“The First Song”, do primeiro álbum), indagando-se Martsch se os conhecíamos, tal como temas do mais recente There is No Enemy (2009) – “Planting Seeds” - para o qual os Built to Spill preparam um sucessor.
A banda originada de Idaho, que já conta com mais de vinte anos de carreira, é também conhecida pela atuação de covers diversas nos seus concertos. Em Lisboa, tivemos direito a “Here”, dos Pavement, “(Don’t Fear) The Reaper” dos Blue Oyster Cult e, quiçá a maior surpresa da noite, a famosa “How Soon Is Now”, dos The Smiths, para a qual a voz anasalada de Doug Martsch é perfeita. Perto do final, é de ressaltar o tema “Stop The Show”, de outro dos seus álbuns de excelência, sendo indubitavelmente um dos temas da noite.
As descrições aos Built to Spill são equiparáveis à experiência do coletivo. São uma das bandas que mais influenciaram o movimento indie dos anos dois mil, sendo um dos culpados pelo Northwest Sound, que deu origem a bandas como Modest Mouse e Death Cab for Cutie. São uma banda de renome e culto considerável. São também peritos no que fazem, e fazem-no sem alarido. São os Built to Spill e passaram por Portugal pela primeira vez. E assim se fez história.
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sábado, 20 dezembro 2014