Reportagem Cage the Elephant no Porto
No passado dia 6 de Fevereiro os Cage the Elephant trouxeram rock com muito perfume a Mississipi provocando extâse junto dos milhares de presentes no Coliseu do Porto. O namoro português com a banda de Kentucky continua inabalável.
Foi em 2014, em Paredes de Coura e já com três álbuns de originais na bagagem, que o público português ficou apaixonado pela banda norte-americana, muito graças à energia animal que Matt Schultz destila atrás do microfone.
Ainda com “Tell Me I’m Pretty” como pano de fundo da tour, o concerto consistiu no habitual carrossel das diferentes influências da banda, onde cada álbum exibe uma vertente musical bem diferente do conjunto. O mencionado último registo da banda, produzido por Dan Auerbach dos Black Keys, leva-nos a uns Cage the Elephant bem mais despojados de artifícios e, de uma certa forma, mais puros.
E após a primeira parte duns esforçados Twin Peaks, que arrancaram um pouco depois da hora (já que as portas apenas abriram pelas 21h00), o concerto dos Cage the Elephant arrancou da mesma maneira que o seu último álbum começa: com “Cry Baby” a dizer olá energeticamente ao numeroso público, oriundo de todo o país. Depois de pisar terrenos sonoros que nos fizeram lembrar uns White Stripes, e para mostrar que não vieram a Portugal só para tocarem os últimos registos, a banda atirou-se de garra e dentes a “In One Ear”, curiosamente também o primeiro tema do álbum homônimo de estreia. “Melophobia” de 2013 é seguidamente visado, com “Spiderhead”, mais um primeiro tema (começamos a notar um padrão), que à semelhança do álbum é marcado por uma aproximação bem mais solarenga e relaxada aos seus temas, e que é tremendamente bem recebido: aliás, foi uma constante ao longo do concerto, com grande maioria dos temas a serem celebrados como se de singles se tratassem.
Mas “Too late to say goodbye” interrompe a série, e voltamos ao mais recente registo, pondo um travão no rock mais directo e trazendo à mesa a faceta mais melancólica e romântica do grupo, onde o público encontra algum refúgio para recuperar fôlego. “Cold Cold Cold” segue-se e é mesmo difícil resistir à forma gingona e sexy como a canção desliza pelo coliseu. O facto de o público se encontrar rendido ainda antes de qualquer tema ser tocado definitivamente auxilia o contágio. E finalmente “Trouble” é tocado, para mais uma explosão de alegria, após uma pequena declaração de amor pelo Porto por parte da banda.
O segundo single de “Tell me I’m pretty” tresanda a lamechice açúcarada, onde os meninos de Bowling Green mostram que a pop não é um lugar estranho para eles. Mas é com “Ain’t No Rest For the Wicked”, tema que mais popularizou a banda no arranque da sua carreira, que se concretiza o ponto alto do concerto, onde a anca ganha vida própria e se diverte a dançar sozinha. E se “Trouble” é um single mais sentimentalista, “Mess Around” quase implora de joelhos para ser acompanhado por palmas.
Ainda na mesma toada segue “Punching bag”, passando logo de seguida para “Telescope”, que após uma torrente tão energética sabe um pouco a menos. Para começar a acelerar, voltamos aos inícios, com “Back Against the Wall” e também com “It’s Just Forever”, que no álbum “Melaphobia” tem Alysson Mosshart dos The Kills como convidada e é um dos temas mais interessantes do mesmo álbum, aqui ao vivo a ser atacado de forma irrepreensível, talvez para colmatar da melhor forma a falta dessa senhora do rock.
É tempo para mais um dos poucos diálogos da banda com o público, desta feita para perguntar se ele não se importa que a banda fuja do seu reportório e homenageie Tom Petty, com “Mary Jane”. Foi notório o certo de ar de incredulidade entre os presentes, que passaram bem ao lado dos anos onde Tom Petty recrutou fãs em Portugal.
Antes que interpretassem “Cigarrete Daydream”, outro grande momento do concerto, houve ainda tempo para Matt apelidar este concerto como sendo o último e o melhor da presente digressão. E, como anunciado pela pressa de apanhar um avião (brincadeira repetida em Paredes de Coura do ano passado), não houve tempo para a cerimónia de saída de palco pré encore e, assim sendo, os Cage the Elephant fecharam com 3 temas de ouro: o ultra-romântico e digno de isqueiro (ou de anúncio de tv) “Cigarrete Daydreams”, “Shakedown Me Down”, single do muito pouco representado “Thank You, Happy Birthday” e que faz, a espaços, lembrar Pixies, e finalmente “Teeth”, para libertar as últimas gotas de suor de um concerto algo curto mas muito, muito eficiente.
Um concerto a atestar a ascensão meteórica da banda norte-americana em solo luso, que antecipa a sua próxima actuação no NOS Alive deste ano. Como se a mudança do local dada a enorme procura de bilhetes não fosse o suficiente para verificar este fenômeno, a entrega dada pelo público presente à banda mostra bem o estatuto sólido que esta banda conquistou. Fica o “até já” marcado para Oeiras no Veráo.
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Organização:Everything is New
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sexta-feira, 22 novembro 2024