Reportagem Cancer Bats em Lisboa
Durante “Shillelagh”, o amplificador de Scott Middleton pegou fogo.
Devia ser jornalisticamente aceitável descrever um concerto numa frase. A nossa descrição seria como está acima: o amplificador dos Cancer Bats pegou fogo.
Não podendo, vamos ao início.
Passaram-se 4 anos desde a vinda dos Cancer Bats a Portugal. Na altura, só o norte teve direito a eles, mas desta vez os canadianos mostraram-se também a um Santiago Alquimista muito pouco composto, arrependidos e desculpando-se por não o terem feito mais cedo. O povo português é conhecido pela boa recepção que faz às bandas de fora do seu país. Infelizmente, não se pode dizer o mesmo das bandas a cargo das honras de abertura. Não é defeito, é feitio.
A abrir, estiveram os For Godly Sorrow e Don't Disturb My Circles, recebidos por uma casa ainda mais despida do que a que viria a assistir aos headliners. Poucos foram os que aderiram ao core das duas bandas - fosse ele crab ou hard -, ainda assim ambas se mostram bastante competentes.
Os Hills Have Eyes foram, portanto, os "cabeças de cartaz" das bandas de abertura.
Acabados de aterrar de uma tour europeia, ainda na apresentação do último Strangers, Lisboa recebeu-os de forma fria, contrariamente ao que acontece em concertos em nome próprio.
Motivados pela vontade de não levar um pontapé na cara – foi, pelo menos, o meu motivo -, só se abanavam cabeças e tentava evitar-se ao máximo o centro da sala, onde ventoinhas humanas giravam ao som de “Pinpoint”, “This is War” ou “Thank You for the Inspiration” (gravada com Scott Kennedy dos Bleed From Within). Por entre mostras do último álbum, como seria de esperar, houve ainda espaço para “21.12.2012” e “Hey Hater!” do anterior Black Book a encerrar o tempo de antena dos sadinos.
Chegada a hora, os Cancer Bats sobem ao palco, com Dead Set On Living a transpirar – pelo menos assim se pensou.
O quarteto não perdeu tempo com cumprimentos, e abriu em força com “Sabotage”, cover dos Beastie Boys - uma simples mas incrível homenagem a Adam Yauch. Por esta altura, o pouco público compactava-se, com menos medo e mais força de voz. Todos a querer chegar aos canadianos, juntaram-se a Liam Cormier para "Trust No One" e "Pray For Darkness", de Bears, Mayor, Scraps & Bones e Hail Destroyer respectivamente.
Os temas de apresentação do último álbum só começaram findas que estavam “Pneumonia Hawk” e “Death Bros” de Birthing the Giant (com uma “Sorceress” ridícula de tão boa pelo meio). Liam, incansável, gritava nas caras da fila da frente. “Bricks and Mortar” e “Old Blood” foram as escolhidas para servir de exemplo do recém lançado DSOL, ainda pouco treinado pelos lisboetas, mas que mesmo assim não deixou cair o título de noite incrível, que não se adivinhava sê-lo no seu início.
“Drunken Physics” e “Road Sick”, já com direito a vídeo e por isso melhor entoada, chegavam-se ao encerramento dos temas do último álbum. Sinceramente, poucos serão os que sentiram a sua falta – ainda que o disco seja inegavelmente um dos grandes -, “Scared to Death” e “Lucifer’s Rocking Chair” faziam as delícias dos fãs mais antigos da banda.
Sem tempo para mais, os canadianos começam as despedidas. “Temos tempo para mais 3 músicas”, anunciavam, distribuídas ao longo da discografia.
Para infelicidade, voltamos ao início desta review: durante “Shillelagh”, o amplificador de Scott Middleton pegou fogo. Apessoando-se ao Gimli (fim de referência despropositada), foi ao longo de todo o concerto o elemento mais passivo. A esta altura era certa e naturalmente o que mostrava pior cara, enquanto Liam se divertia com a situação.
Rapidamente se apagou o incêndio – que, vá lá, não foram labaredas enormes, foi fumo que ficou para a história – mas não se voltou ao início. Em vez disso, seguiu-se “Hail Destroyer” e “R.A.T.S.”, sem direito a encores que seriam mais que bem recebidos.
Há muito que não via um concerto destes. Irrepreensível e poderoso, como concertos do género devem ser.
O Santiago Alquimista foi pequeno para o tamanho dos Cancer Bats, e ainda que a sala estivesse meia, o calor sentiu-se. Hoje é o Porto que os recebe, no clube dos duros, como não podia deixar de ser.
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sábado, 20 dezembro 2014