Reportagem Capitão Fausto em Braga
Depois de encerrarem o ano passado com um Coliseu de Lisboa esgotado, os Capitão Fausto, arrancam 2017 com uma tour por vários teatros nacionais. O Theatro Circo, local mítico de cultura bracarense, não foi excepção para receber o quinteto lisboeta, preocupado em mostrar em palco que agora são gente grande.
E para isso nada melhor que uma entrada em grande, com o palco às escuras excepto para Francisco Ferreira, teclista da banda, que ia lançando ao público as linhas catchy de “Lameira”, a faixa suprassumo do álbum “Pesar o Sol”. São uns Capitão Fausto claramente mais adultos no que fazem, nos cuidados do espetáculo, nas luzes bem desenhadas, nos figurinos coloridos e gloriosos no seu charme irreverente que tanto traduz este novo disco. Se a ideia era crescer, este início de 10 minutos do melhor psicadelismo gravado em Portugal mostrou o quanto de grandes estes antigos miúdos são neste momento. É preciso ter confiança e muito saber para arrancar um concerto logo com o momento mais explosivo e psicadélico da noite.
De toda esta ideia de crescer que os Capitão Fausto nos foram introduzindo neste último ano e que se confirmava no Theatro Circo, faltava apenas contactar com o motivo para tudo isto. “Capitão Fausto Têm Os Dias Contados”, foi lançado em 2016 e tornou-se muito possivelmente no álbum português mais ouvido e elogiado pelo público nacional e isso sentiu-se logo mal as gingonas teclas, de “Semana em Semana”, se fizeram ouvir. Havia um número maior de pessoas a mostrar uma empatia e conhecimento com o novo registo, do que em relação aos anteriores. Era maior o número de movimentos corporais e de pessoas a cantar as letras. 2016, definitivamente, gerou o disco de Hits dos Capitão Fausto, que com “Mil e Quinze” davam aquele primeiro esticanço nas músicas que tanto gostamos quando fazem. Essa mestria de esticar músicas é das maiores provas de quanto de excitante estes rapazes são. Infelizmente, eles parecem ter desistido da ideia de encaixar músicas, perdendo-se essa mistura, desconstrução e adaptação que tantos sorrisos dava. Agora o formato canção é muito mais rígido, tanto nas faixas, como no concerto. As músicas vão se seguindo umas as outras, no início e fim programados. Hoje não festejamos tanto o psicadelismo mas fazemos sorrisos à pop da boa.
A meio do concerto os Capitão Fausto regressam as suas bases psicadélicas e dão um ar daquilo que eram. “Maneiras Más”, “Litoral” e sobretudo uma mega “Flores do Mal”, em jeito de melhor faixa do concerto, mostram que estes rapazes ainda não esqueceram como se faz aquele bom velho psicadelismo que tanto enche o coração, e mesmo que as reacções no público tenham arrefecido, a verdade é que nenhuma sequência de faixas vestiu melhor a banda, do que estes minutos de guitarras densas, polidas e sonhadoras.
Com “Corazon” afeita e gingona a abrir o salão de danças. Verdade seja dita, “Santa Ana” no seu jeito Morricone-Rock, tratou de fazer isso exemplarmente. Juntamente com “Verdade”, foram um cheirinho do Indie bem inglês com que a banda se estreou. Do público viam-se algumas caras de quem não conhecia bem o que estava a acontecer, pena porque já temos saudades deste lado jovem e descontraído deles, mesmo com o Tomás a dar algumas gaffes na letra.
Por falar no vocalista, sinal positivo para toda a actuação até se sentir alguma fragilidade tanto em “Amanhã Tou Melhor” como em “Morro na Praia”, contudo o desejo do público em ouvir estes temas era tanto que subiram novamente as manifestações do público.
Já em Encore, Tomás Wallenstein regressou sozinho ao palco para uma “Alvalade Chama por Mim” quase em jeito serenata, acompanha apenas no fim pela banda. Foi um momento interessante, até pela disposição do público em cantar com o vocalista sem o pedido deste. Para o fim, fiou o melhor momento do novo álbum, “Tem de ser” em jeito esticada e a brincar com os ritmos e os crescendos.
São uma grande banda, numa grande fase e ainda bem que esta tour acontece para que Portugal inteiro possa realmente contemplar o que estes miúdos andam a fazer. É bom em Portugal haver bandas assim.
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Organização:Theatro Circo
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sexta-feira, 22 novembro 2024