Reportagem Castello Branco em Espinho
Castello Branco há muito que se tornou numa das figuras mais acarinhadas da nova música produzida em terras brasileiras. Depois do belo cartão de visita que foi “Serviço”, lançado em 2013, o artista carioca regressou no ano passado com “Sintoma”, álbum que veio apresentar numa digressão nacional que percorreu o país e que terminou no Auditório de Espinho.
Fenómeno de popularidade em Portugal, ao vê-lo em palco entendemos o fascínio nutrido pelo músico. Autor de doces composições folk recheadas de inebriantes ritmos brasileiros ao qual recentemente acrescentou leves apontamentos electrónicos, produz música de carácter transcendental: ouvimo-la e viajamos através das melodias harmoniosas que nos transportam para lugares mágicos, fazendo-nos esquecer as desilusões e preocupações da rotina diária. Esse tom relaxante, quase meditativo, nasce das experiências vividas no mosteiro onde foi criado; há na música de Castello Branco uma inegável espiritualidade que se sente nas palavras proferidas e nos sons que emanam da sua guitarra acústica, poemas sonoros que reflectem os pensamentos e as dúvidas do seu criador.
Contando com a preciosa ajuda de uma banda deveras competente que soube elevar a beleza delicada da sua arte, Castello ofereceu ao público um magnífico serão intimista, conquistando o amor de todos aqueles que marcaram presença nesta noite encantadora. O alinhamento focou-se em novidades retiradas de “Sintoma” como “O Peso Do Meu Coração” (logo a abrir), “Do Interior”, “Coragem”, “Cara a Cara” ou “Meu Reino”, mas houve ainda tempo de mergulhar no passado e recordar temas como “Crer-Sendo” ou “Céu Da Boca”, fazendo-se assim a ponte entre o começo da sua carreira a solo e o ponto onde actualmente se encontra; afinal, para Castello, todos os momentos importam e constituem páginas do diário musical que vai escrevendo à medida que realiza o seu percurso como cantautor e, acima de tudo, ser humano.
Por muito elogiado - endeusado, até - que seja, Castello Branco recusa a postura de vedeta e vê-se como uma pessoa normal, colocando-se ao mesmo nível da audiência: conta histórias sobre a sua vida, discute a sua obra e cria laços com aqueles que o vão acompanhando nesta aventura. Cativante mestre de cerimónias, prendeu a nossa atenção desde o momento em que pisou o palco até à derradeira despedida. No entanto, não se tratou de um adeus definitivo, apenas um até já; combatamos então as saudades mantendo vivas as memórias no nosso coração.
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terça-feira, 08 maio 2018