Reportagem Chromatics - Lisboa
Noite fria sem grande calor
O problema do concerto dos Chromatics não foi a forma como tocaram nem as músicas que apresentaram. Não foi sequer aquele ar apático e de frete da vocalista, nem aquele ar profundamente cansado e acabado do guitarrista. O grande problema foi a sua duração. Bilhetes a 20 euros e um concerto com menos de uma hora? Desilusão.
Talvez tenha havido algum problema interno de que o público não saiba. Talvez a vocalista não tenha sempre aquele ar tão distante e mecânico, de quem canta por mera obrigação; talvez naquele dia estivesse com algum problema. E talvez fosse o mesmo para o guitarrista, que parecia também distante e francamente exausto. O quarteto pode, aliás, dividir-se em duas partes: a dupla constituída pelo guitarrista e pelo vocalista, que pareciam estar ali por obrigação, e a dupla do teclista e do baterista, que tocaram com energia. O teclista, em particular, é espectacular, dominando o teclado e o sintetizador de uma forma magistral. Foi ele o verdadeiro maestro da noite, vestindo na perfeição cada canção, e dando uma grande presença em palco.
O Lux estava muito bem composto (podem não ter muitos fãs no Porto, mas em Lisboa…), e a noite começou bem, com a banda a entrar em palco às onze e a abrir o concerto na perfeição com Night Drive, magistral faixa do álbum com o mesmo nome. Desde logo se vê que ao vivo as canções transmitem mais energia que em disco, muito em parte devido ao teclista que dá a cada música arranjos fenomenais. Um início forte, e tudo parece bem encaminhado para uma bela noite. Basta ignorar o ar daqueles dois membros da banda, que mesmo sem empenho faziam bem o seu papel, dedicar apenas concentração à música, e a noite parece logo ganha de início.
Seguem-se logo duas ou três canções novas, que deram vontade de ouvir já o novo álbum da banda. Com uma guitarra um pouco mais presente e um teclado perfeito, as novas músicas soaram lindamente, sendo muito bem recebidas por um público devoto. Mas, claro, eram as antigas que se queria ouvir, e foi com I Want Your Love que se viu o primeiro grande momento da noite, que começou verdadeiramente a aquecer o público. Excelente canção, fusão perfeita entre guitarra, teclado e a voz suave da vocalista. No final, assobios, aplausos, um público rendido… que menos rendido ficou quando a vocalista diz “Muito obrigado, temos mais uma canção para vocês”. De seguida, atiram-se a In The City, interpretam-na na perfeição (a única tocada de um álbum seu que não Night Work… ignoraram por completo os trabalhos anteriores), e saem do palco.
Tinham passado apenas trinta minutos desde o início do espectáculo. “Concertos de meia-hora é o que está a dar!”, diz um jovem atrás de mim. Se for o que está a dar, então que deixe de o ser; se a banda tivesse apenas um único álbum e o bilhete fosse (muito) mais barato, a situação era mais compreensível. Mas neste caso, não há desculpa possível. Entram para encore e acabam com aquele que foi o melhor momento da tão curta noite: a excelente Running Up That Hill, onde pela primeira vez a vocalista pareceu gostar minimamente do que estava a fazer, o guitarrista esboçou um sorriso, e o teclista ainda mais energia transmitiu ao dominar na perfeição os seus instrumentos. A reacção do público, com um pequeno quadrado a saltar efusivamente, deu um vislumbre daquilo que o concerto podia ter sido e não foi. E foi assim, com um grande momento dado talvez pela sua melhor canção, que saíram do palco, ficando ainda o teclista por alguns minutos sozinho a fazer alguns belos sons a partir do sintetizador. Cerca de quarenta minutos depois de ter começado, o concerto chegava ao fim.
Foram minutos bem passados, que não haja dúvida. Os Chromatics são uma boa banda, Night Work é um belo álbum, e isso ninguém lhes tira. Tocaram bem e as canções ao vivo (novas e velhas) resultam na perfeição. Mas deviam ter dado mais do que aquilo que deram. A noite pouco mais foi que uns agradáveis quarenta minutos, com dois ou três momentos espectaculares, que serviu mais como promessa daquilo que podia ter sido e não foi. Não se compreende o porquê de uma banda com já três álbuns dar um concerto tão reduzido em nome próprio. Simplesmente não se compreende.
A noite acaba cedo e no final o espectador sai desiludido do Lux, após tão curto concerto, levando no corpo com o frio da noite.
Infelizmente, não se nota grande diferença de temperatura.
Afinal de contas, lá dentro mal deu para aquecer.