Reportagem Club des Belugas - Cascais
Ao dia 27 do mês de Julho, o Parque Marechal Carmona recebeu Club des Belugas Orchestra, inserido no Cooljazz Fest.
O palco, bastante mais pequeno que o do Hipódromo, e mais pequeno também que o do Jardim do Cerco (Mafra), transforma, por não ter fundo e por ser simples a estrutura nele montada, as esguias e altas árvores no ponto cimeiro da cenografia, à medida que as luzes, colocadas para o efeito, lhes vão alternando os tons e construindo um ambiente visual bastante agradável. Não tão notável está o som, bastante alto para o tamanho do recinto e com algum desequilíbrio menos confortável nos médios altos. A performance dos músicos, no entanto, quase faz esquecer este contratempo.
A secção rítmica é muito sólida e coesa; as percursões (Kay Vester) muito bem intruzadas com a bateria (Mickey Heher) e o baixo (Matze Bangert) redondo e quente nas sonoridades exploradas.
O naipe de metais (Philip Schug, Lars Kuklinski e Karlos Boes, respectivamente no trobone de varas, trompete e saxofone) comanda grande parte das secções intrumentais dos temas e os teclados (Maxim Illion e Roman Babic) e a guitarra (Detlef Höller) complementam os campos armónicos com mestria, com alguma subtileza onde é preciso e mais incisivos onde faz falta.
As vozes, divididas entre a sueca Anna Luca e a afro-americana Brenda Boykin, que se alternam dividindo o concerto em 4 momentos, dão a sensação, por via do antagonismo, de que assistimos a dois espectálucos distintos. E gostamos dos dois!
Anna Luca, com um registo mais naif e intimista, de voz melodiosa, como que fala ao ouvido do público, por entre letras mais espirituosas aqui e mais profundas ali e as histórias por trás das letras e dos temas que vai contando pelos intervalos. Já Brenda Boykin, num registo muito mais agressivo, desafiador e provocante (se não provocador) que faz lembrar as grandes senhoras da cultura blues americana, faz levantar a plateia, ou grande parte dela, pondo meio mundo a dançar descontraidamente.
Os temas são longos e elaborados, mas, ainda assim, fluidos e, talvez antes de nos apercebermos, duas horas de espectáculo estão volvidas, com muito espaço para solos dos vários intérpretes, quer instrumentais quer vocais.
Karlos Boes chega a descer o palco, solando pelo meio do público até chegar à regie e voltando novamente ao palco, fazendo sempre soar as envolventes notas de saxofone. Também Brenda, perto do final, desce o palco e vem dançar para a plateia, deixando-se levar pela energia que parece emanar dos mais fervorosos espectadores.
Poucos minutos mais e está na hora de terminar. Os músicos despedem-se, aplaudidos de pé, vigorosa e calorosamente. Resta tempo, no encore, apenas para um tema, em que Anna Luca e Brenda Boykin se encontram em palco pela única vez.
Club des Belugas Orchestra despede-se e a noite chega ao fim.
Um grande espectáculo, em suma, que vale bem a pena para todos os amantes do género. E para todos os amantes da música, de um modo geral!
Foto: Ana Coelho