Reportagem Com Truise no Porto
Os últimos dois domingos do mês de novembro ficaram marcados por dois concertos matiné muito agradáveis e surpreendentes. A Lovers & Lollypops deu uso aquele que por muitos é visto como um dia enfadonho e aborrecido.
A música ambiente que se fazia ouvir nos Maus Hábitos quase se confundia com The Festmen, que entrou em palco muito discretamente. De repente, começam a a surgir vídeos quase aleatórios desde publicidades, desenhos animados ao programa O Preço Certo – com momentos e situações cómicas que se enquadravam com a sonoridade 8 bit extremamente dançável. Escusado será dizer que a setlist foi indecifrável, mas isso mostrou-se o menos importante, quem lá estava, e por poucos que ainda fossem, gostaram do que ouviram e não faltaram aplausos.
João Chaves é o sonhador de Dreams que através das suas músicas chillwave nos faz lembrar das mais belas memórias do verão, os tempos quentes e os dias repletos de sol. Acompanhado, ao vivo, pela guitarra de Ricardo Barbosa e pelos sintetizadores de Paulo Catumba, João e a sua voz afundada em reverberações já é bastante conhecido e falado pelas redondezas do nosso país.
Com a maior das honras, antecipa o concerto do projecto americano Com Truise. Uns sentados e outros de pé, cada vez com mais gente, mas ainda sem se aproximarem muito do palco, ouviram e aplaudiram as músicas que por lá se foram ouvindo "Step 1", "Step 3", "Interlude", "In Dreams" e "Don't Leave Me".
Com Truise é o nome do projecto musical de Seth Haley, músico electrónico de Oneida, Nova Iorque. O nome, que muitas vezes é confundido com o de Tom Cruise, surge de um spoonerism, ou seja, de um erro ou um propósito deliberado, na expressão oral, onde as consoantes ou as vogais de uma palavra são trocadas. Seth Haley, com Com Truse, cria o estilo experimental que intitula de "mid-fi synth-onda, funk slow-motion", onde se consegue encontrar alguns fragmentos de Joy Division, New Order e Cocteau Twins.
Mal se começa a ouvir "Sundriped" o público aproxima-se instantaneamente e os seus corpos começam a dançar e a balançar ao som electrónico em slow-motion. Pouco tempo ouve para aplausos, música atrás de música, Seth e a sua ginástica musical feita à base de ajustes e reajustes nas mesas de misturas e processadores de efeitos, era acompanhado por um baterista, ainda que jovem, bastante dedicado e preciso nas batidas electrónicas dominadas por Seth. Algo inovador, diga-se, pois não é todos os dias que se assiste a um concerto electrónico com instrumentos como baterias, que tornam os ritmos mais genuínos trazendo a este estilo musical a ideia de criação sonora in loco.
Pela tarde ainda se ouviu "Slow Peels", "IWYWAW", "BASF Ace" entre outras. Não importou muito a setlist, o concerto foi tão contagiante que no fim só se queria mais. A Lovers & Lollypops comprovou, mais uma vez, que seja a que hora for, os bons músicos não desiludem e fazem a festa seja ou não em dia de descanso.
Esperamos assim que 2012 se torne mais certo e traga com ele mais alguns domingos como este.