Reportagem Crystal Castles no Porto
O cometa energético que dá pelo nome de Crystal Castles passou pelo Hard Club, no Porto, como maioria deles passam pelo céu: muito fogo de artifício mas muito pouco tempo. E, como alguns fenómenos naturais, tanto cativam como passam ignorados por muitos. Assim foi passada quarta-feira, dia 07 de Novembro.
Um dos nomes mais badalados da música electrónica a aparecerem na passada década vieram, como muitos outros do Canadá: com o disco homónimo e o seu percursor, Crystal Castles (II), a dupla formada por Ethan Kath e Alice Glass abalou as convenções da música alternativa com as suas produções simples e minimalistas mas cativantes, onde a vocalista era, publicação a publicação, coroada de nova princesa do alternativo. Esta vaga de popularidade atingiu Portugal em cheio, e apesar de longe da popularidade gozada pelo projecto em anos anteriores, foi com um Hard Club bem composto que os Crystal Castles viram acolher as suas produções, incluindo o mais recente Amnesty (I).
Para aquecer os espíritos do público, pelas 9h12, a tarefa foi atribuída a Pharrows que, sem deslumbrar, cumpriu o seu propósito de aquecer os tornozelos dos presentes, se bem que longe da agressividade sónica que viria a seguir.
À medida que a noite se estendia, o público ia adensando, e dava para notar nas faces dos presentes que a sua maioria eram praticamente crianças aquando o lançamento do seu álbum de estreia há 8 anos atrás.
Pouco passava das 10h22 quando a banda subiu ao palco ao som de "Requiem in D Minor de Mozart", baptizando a estreia da nova vocalista Edith Frances em Portugal, de cabelo rosa e atitude rave a transpirar pelos poros. E, não menosprezando a nova recruta de Ethan, começa aqui o problema de um concerto ao vivo dos Crystal Castles em pleno 2016: é que apesar das canções continuarem contagiantes, apesar das luzes estarem cuidadosamente programadas para preencher o som, apesar de Christopher Chartrand ser eficiente na bateria, falta Alice Glass a baralhar as contas, que numa presença muito peculiar e única cativa dada a sua imprevisibilidade ao vivo e à dedicação extrema com que se entrega em palco. Um caos controlado, sintético, onde o furacão que era outrora ficou reduzido a uma brisa agradável. Contudo, a fórmula resulta em teoria, e a prática corresponde, com o Hard Club momentaneamente transformado num clube de dança gigante, onde o strobe e a batida mandam.
Contudo o arranque ficou longe do ideal, com imensos problemas no microfone de Edith a colocar de parte a sua voz, que finalmente se ouviu em condições em "Crimewave", um dos temas mais reconhecíveis da banda e que culminou como um dos pontos altos do concerto. Para trás ficaram temas como "Kerosene", "Baptism" ou "Concrete" , num dos muitos temas retirados do último álbum.
Pelas 11h15, a banda ausenta-se para um pequeno encore, com apenas "Tell me what to Swallow" e, mesmo a fechar e para apoteose geral, "Not in Love", belíssimo tema eternizado pelas vozes de Alice Glass e Robert Smith dos The Cure no segundo longo registo da banda, numa actuação que durou pouco mais do que uma hora e que terminou com Edith Frances, sozinha, a segurar uma das luzes de strobe. Um concerto que certamente encheu as medidas dos muitos presentes, mas que fica muito aquém do que esta banda já deu no passado.
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quinta-feira, 15 dezembro 2016