Reportagem Crystal Castles no TMN ao Vivo
Este espaço nunca foi o local ideal para assistir a concertos. Nunca o fora enquanto Armazém F, também não o será enquanto TMN ao Vivo. Pelo menos enquanto não forem criadas outras condições. Muitas pessoas e alguma insuficiência no ar condicionado foram os ingredientes necessários para o público acorrer ao exterior mal os canadianos deram as suas últimas notas. Cá fora, contemplando a entrada e os seus vidros altamente embaciados, alguns respiravam de alívio por terem abandonado o local que anteriormente se assemelhava a uma sauna finlandesa. No entanto, por entre críticas ao calor que se viveu dentro do TMN ao Vivo, surgiram vários comentários de satisfação, relativamente à prestação dos Crystal Castles.
Foi sob uma ovação eufórica que o duo (neste caso, como acompanhados pelo baterista de serviço, o trio) subiu ao palco do espaço lisboeta para dar então inicio ao concerto. Energia foi uma das palavras de ordem que o coletivo evidenciou no espetáculo de domingo à noite, que, apesar do ócio que representa como dia da semana, levou um público, da sua esmagadora maioria jovem, ao Cais do Sodré, para o barracão ribeirinho. E foi com “Plague” que o concerto iniciou, com a banda a libertar toneladas de energia em forma de decibéis. Três silhuetas, mal iluminadas, erguiam-se em palco. Com eles trouxeram um cativante espetáculo de luz, num excelente exercício de cores e sincronismo. A plateia, por sua vez, não se deixou intimidar e acompanhou a dupla aos saltos ao longo de quase todo o concerto. Ao final do primeiro tema, e sob uma vigorosa chuva de aplausos, os canadianos deixaram claro que a noite iria ser deles, e assim o fizeram.
Desfilaram canções, sem espaço para palavreado, em catadupa. Algumas do mais recente álbum da trilogia homónima, outras dos álbuns precedentes. No palco, Alice Glass esteve imparável, quer nas suas danças pouco ortodoxas, quer nas constantes investidas ao público, que, por sua vez, batalhava sedento de proximidade, ou de um mínimo toque que fosse, na artista de Toronto. Ethan Kath portou-se igualmente da melhor forma, deixando em casa os cartuchos da consola Atari, optando por uma composição mais atual, mais pujante, mais agradável ao ouvido e, sobretudo, menos irritante. Da parafernália de equipamento que o rodeava, chegavam-nos sintetizadores possantes e baixos wobbles consistentes, muito ao estilo do dubstep e do drum & bass, que o coletivo não se privou de beliscar em situações pontuais.
Crystal Castles é um daqueles projetos que ganha uma vida e uma energia em palco que nos é impossível idealizar no formato gravado. E que o digam aqueles que viram temas como “Wrath of God”, “Alice Practice”, “Not in Love” e “Crimewave”, irromperem altifalantes fora, em direção aos nossos ouvidos. Verdade seja dita que o TMN ao Vivo, a nível de instalação sonora, assentou que nem uma luva à parelha de Ontário. A componente grave do sistema de som instalado quase nos fez recuar passo atrás a cada vez que a batida entrava em ação. Tal ficou vigente numa curta amostra rítmica, protagonizada pelo baterista, que explorou algum do campo metal com o poder e a rijeza pretendidos. Assim se caracterizou o concerto de ontem no TMN ao Vivo: fervoroso, irreverente e, acima de tudo, energético.
-
Organização:Everything is New
-
sábado, 20 dezembro 2014