Reportagem Cult of Luna no Paradise Garage

Segundo capítulo da saga sueca no Paradise Garage, desta vez com o regresso aguardado dos Cult of Luna, mais uns filhos dilectos da cidade de Umeå, onde ainda estamos para descobrir o que põem na água para germinar tanta e tão boa música.

Muito ou tudo já se disse sobre a banda e o género praticado: que seguiram o abandono natural das raízes hardcore, como os mentores Neurosis; que tiveram um percurso quase decalcado ao dos ISIS no abraçar dos ambientes pós-rock, com recurso a espessas camadas de guitarras, synths, samplers e afins; mas sobretudo que, deste lote, talvez sejam os únicos que preservam um genuíno estatuto de culto.

Fechou-se a lua em círculo para os receber em formato “Vertikal”, 100 minutos plúmbeos onde o palco nunca se despiu de azul. Início com “I: The Weapon”, numa versão mais compassada do que no álbum, a fazer rapidamente esquecer os minutos passados a ouvir o alarme de incêndio antes da intro.

“Ghost Trail” e “Finland” foram dois bons exemplos de como o som que meses antes parecia embrulhado no concerto de Meshuggah encontrava agora espaço para respirar na sala.

Regresso aos ambientes mais vanguardistas do último álbum, com a sequência “Mute Departure” e “Vicarious Redemption”, que mostrou quão facilmente se passa do drone, ao doom, à apoteose dance à la Laurent Garnier.

“Owlwood”, de início cavernoso, que acaba a envolver-nos numa nuvem lavanda de fumos smart-shop. “Passing Through”, a monocromática pós-rockada, com o guitarrista a pedir emprestada a voz de Jason Pierce. “In Awe Of”, o termo colossal, com as duas baterias em simbiose. E recuámos dez anos até ao mesmo sítio, aos tempos em que os GYBE! faziam desmaiar donzelas incautas e a imperial não custava 3 euros. Um grito longínquo que ainda distancia os Cult of Luna dos seus pares.

A noite de culto foi inaugurada pelos Process of Guilt, talvez os únicos portugueses com estaleca para abrir um concerto destes, ou não andarão os olheiros do Roadburn a dormir. A uivar por mais.