Reportagem Drab Majesty no Porto
A noite de sábado passado no Hard Club foi dedicada ao universo do gótico, com a estreia no nosso país do projecto norte-americano Drab Majesty.
Antes, no entanto, subiram ao palco as Kaelan Mikla – três islandesas que exploram uma sonoridade com base na cena darkwave, numa angústia sonora e conceptual que ocasionalmente origina autênticas explosões de raiva, nomeadamente nos momentos em que se escutam intensos berros agudos. Ao contrário do registo completamente soturno de outras bandas do género, há nas Kaelan Mikla uma energia latente, o que lhes confere uma aura especial – a de um grupo espiritualmente punk mas musicalmente inserido no mundo do gótico, com talento suficiente para fazer com que essa mistura ambiciosa resulte na perfeição.
Na verdade, tudo aqui resultou, pois o encanto do trio também se sentiu em palco, traduzindo-se num concerto verdadeiramente memorável. A atmosfera era hipnótica, sendo que por vezes a prestação da vocalista tornava-se bastante teatral – a certa altura, já no final, chegou mesmo a distribuir incenso, enfatizando ainda mais a componente ritualista de uma estreia deveras poderosa.
Assim estiveram as Kaelan Mikla - revelação para quem não as conhecia, confirmação para quem já se encontrava familiarizado com o trabalho das islandesas. Uma banda que, sem dúvida alguma, é das mais entusiasmantes e promissoras propostas nos meandros da música alternativa.
Seguiram-se os Drab Majesty, liderados pelo enigmático e visualmente excêntrico Deb DeMure. Apesar de estarem presentes no mesmo evento, a verdade é que em nada são parecidos com as Kaelen Mikla, optando, no lugar da energia destas, por um registo bastante mais melancólico, numa espécie de post-punk etéreo.
Com uma sonoridade que recorda nomes consagrados como os The Cure dos velhos tempos, Joy Division ou mesmo The Chameleons (sobretudo a nível vocal), conseguiram criar um ambiente simultaneamente negro e contemplativo, tendo protagonizado um concerto inegavelmente competente; contudo, faltou alguma coisa para que a actuação passasse de satisfatória para inesquecível. Talvez tenha sido o contraste estilístico dos dois grupos, o problema técnico que enfrentaram a certa altura (ainda que resolvido, afectou ligeiramente a fluidez do espectáculo) ou mesmo a ausência de um encore depois da interpretação de “ 39 By Design”, quando claramente o público ansiava por um regresso antes da despedida oficial. Ainda assim, apesar de algumas pequenas falhas, esta passagem dos Drab Majesty deixou boas impressões - simplesmente esperava-se um bocadinho mais.
Para finalizar, há que mencionar o excelente trabalho levado a cabo pela Musik Is My Oyster. Não estavam muitas pessoas na Sala 2 do Hard Club, mas, mesmo com um cenário desolador como aquele que se verificou aqui, é de louvar a vontade da referida organização em continuar a dinamizar o panorama nacional de concertos. Os melómanos agradecem.
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Organização:Musik Is My Oyster
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sexta-feira, 19 maio 2017