Reportagem Dream Theater (Lisboa)
Os Dream Theater têm sido uma presença habitual em Portugal nos últimos anos. O concerto deste Domingo (26/02/2012) foi o décimo concerto por cá desde o ano 2000, e antecede outro, no dia a seguir, no Porto.
Os convidados desta noite foram os compatriotas Periphery. O metal progressivo da banda cruza o estilo de John Petrucci com o djent dos Meshuggah, de uma forma suficientemente focada para soar às mil maravilhas no Coliseu, a voz ligeiramente imberbe de Spencer Sotelo a voar por cima das paisagens formadas pelas três guitarras.
Destaque para o single “Jetpacks Was Yes”, reconhecido e acompanhado por uma boa parte da plateia.
Foi ao som de uma introdução de Hans Zimmer, com a projeção de um pequeno desenho animado dos membros da banda, que se deu a entrada em palco dos Dream Theater, lançando-se desde logo ao épico “Bridges In The Sky” do novo disco, A Dramatic Turn Of Events. O álbum, que obteve uma nomeação para os Grammys, foi alvo de mais atenção que os anteriores, muito por culpa da polémica envolvida na saída de Mike Portnoy, fundador da banda, no final de 2010.
As expetativas não foram defraudadas. No banco da bateria esteve o novo baterista Mike Mangini, que ao longo de um ano na banda já conquistou os fãs mais céticos e ganhou o seu lugar junto dos restantes instrumentistas – com direito a um solo de quase 5 minutos nesta noite. Talvez uma das maiores perdas após a saída de Portnoy seja o desinvestimento no alinhamento dos concertos – a banda, que em tempos escolhia as músicas a dedo para cada noite, tem tocado praticamente o mesmo alinhamento em toda a digressão europeia, o que conferiu a esta noite uma amarga sensação de piloto automático. Para alguns fãs, no entanto, este modelo parece ser preferível, pois puderam gritar antecipadamente o nome de cada tema para todo o Coliseu saber, mostrando assim que têm uma ligação à internet.
Um pouco cansados mas absolutamente infalíveis, os americanos tocaram boa parte do novo disco, desde o single “On The Backs Of Angels” ao épico “Breaking All Illusions”, a fechar antes do encore. Houve tempo para visitas ao passado (até ao disco de estreia, de 1989, com “A Fortune In Lies”) e alguns salpicos de uma discografia que, não primando pela consistência, não deixa de ser respeitável. Embora longe da voz estratosférica dos anos 90, o vocalista James LaBrie conseguiu mais uma vez ser um ótimo mestre de cerimónias, debruçado sobre o público, apelando ao coro.
A maior adoração dos fãs, no entanto, a julgar pela compactação visivelmente superior junto ao lado direito do palco, caiu sobre John Petrucci, o aclamado guitar hero que cada vez mais assume as rédeas do grupo. Próximo do final, o gospel floydiano de “The Spirit Carries On” juntou isqueiros e um coro comovido do público, mais parecendo uma balada dos Guns’n’Roses num festival de família. No encore, a mais que aguardada “Pull Me Under”, o único verdadeiro ‘hit’ da banda, do álbum de 1992, “Images And Words”. Um filme que já vimos algumas vezes, mas nunca desilude. A par da interpretação irrepreensível, continuarem a ser uma banda à margem de todas as outras ainda é a maior resistência dos Dream Theater - e o maior orgulho de quem os segue.
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sábado, 20 dezembro 2014