Reportagem Earth e Jorge Coelho @ Passos Manuel
No passado dia 31 de Março, o pequeno Cinema Passos Manuel esgotou perante a presença de uma das maiores instituições de culto no underground americano e na cena drone mundial, os Earth. Com uma história algo conturbada e uma paragem de longos anos, a banda rejuvenesceu em 2005 com o lançamento de Hex; Or Printing in The Infernal Method, álbum que demonstrou a mudança radical na sonoridade destes nativos de Olympia. Largando o doom, Dylan Carlson fez nascer uma sonoridade drone que veio beber muito da fonte dos trabalhos de Ennio Morricone e dos filmes Western da velha guarda. Uma mistura que consegue criar momentos de tensão e beleza, capazes de hipnotizar tanto um audiófilo na sua casa, como uma plateia. Contudo, Dylan e companhia fizeram-se deslocar mais uma vez à invicta com o intuíto de apresentarem o seu mais recente trabalho, o fantástico The Bees Made Honey In The Lion’s Skull.
Foi por volta das 23h que Jorge Coelho Subiu ao palco. Empunhando unicamente uma guitarra electro-acústica, o ex-Zen (actual Mesa e Cães aos Círculos) lançou-se em vinte minutos de um drone melódico e centrado num aumento de intensidade e desafio. E apesar de curto, foi um concerto bem conseguido. Evitou-se a saturação do público e aumentou-se a curiosidade perante este projecto a solo de um músico com credenciais largas dentro do espaço musical portuense.
Após um curto período de espera, o momento mais esperado da noite aconteceu. Os Earth subiram ao palco. Constítuidos por Dylan Carlson na guitarra, Adrienne Davies na bateria, Don McGreevy no baixo e Steve Moore nas teclas e no trompete, estes quatro americanos apresentaram um som musculado, algo surpreendente perante os tempos bastante lentos e arrastados dos seus temas. De qualquer das formas, essa lentidão é obviamente propositada e completamente necessária para a criação do mood etéreo e espaçoso que os novos Earth procuram criar. Com um foco no já referido The Bees Made Honey In The Lion’s Skull, a primeira fase de vida desta banda foi completamente esquecida do reportório, algo que seria de esperar devido às grandes diferenças estéticas e funcionais em relação à sonoridade actual da banda. Tal como um adulto não usaria as roupas de uma criança, os Earth não se vestiram com “roupas” que há já muito estão esquecidas. E certamente que ninguém se queixou deste facto. Com um concerto esplêndido, recheado de momentos mágicos, o público levou a querer que Dylan e companhia são tão bem vindos agora como nunca, se não mais ainda. E o futuro parece risonho, pois a resposta aos dois novos temas tocados nesta noite foi extremamente eufórica, sendo ambos dois dos destaques de todo o espectáculo. E foi após um encore de consagração que a plateia se levantou para uma longa ovação totalmente merecida.
Uma pequena prova da grande noite de música que se fez sentir no Passos Manuel.