Reportagem Earth no Porto

Numa bela noite de terça-feira, a Amplificasom resolveu brindar o público com o regresso dos míticos Earth, aproveitando a ocasião para anunciar mais alguns nomes para o Amplifest.

Todavia, antes das novas confirmações e da actuação de Dylan Carlson e companhia, os Ermo subiram ao palco e proporcionaram um maravilhoso aquecimento. A sonoridade ritmada mas lúgubre e intensa do duo formado por António Costa e Bernardo Barbosa, onde a folk negra e de forte sentimento lusitano abraça a pop delicada e a electrónica possante, originou uma actuação arrepiante e apaixonada, destacando-se o registo teatral do vocalista António Costa, que, por vezes, se assemelha a um poeta enlouquecido. Em fase de apresentação do novo EP “Amor Vezes Quatro”, o setlist do grupo bracarense focou-se nesse registo, onde não ficou de fora o perturbador e auto-depreciativo spoken word “Súcubo”, tendo sido também recordados alguns temas mais antigos, como “Porquê” ou “Macau”, e ainda um tema novo – “Amélia”. Contudo, é evidente que o som da banda provoca reacções distintas, com uma fatia do público a entregar-se de corpo e alma à actuação e os restantes notoriamente mais distantes e desinteressados. Ainda assim, os Ermo assinaram um concerto verdadeiramente inspirado.

Após o intervalo, onde ficamos a saber que o projecto Gnaw Their Tongues e os METZ irão marcar presença no Amplifest (no concerto de Lisboa, no dia seguinte, foram anunciados Emma Ruth Rundle e Wiegedood), os Earth subiram ao palco ao som da novidade “There Is a Serpent Coming”, e rapidamente a sala ficou submersa num mar de distorção. À medida que o concerto ia prosseguindo, ficávamos cada vez mais fascinados com este ritual sonoro de natureza catártica, capaz de nos destruir o corpo mas saciar a alma. Há algo na actual encarnação dos Earth, onde as raízes drone coexistem com melodias sublimes e até poéticas, que nos move e nos deixa praticamente enfeitiçados. Além disso, toda a banda é extremamente coesa, desde o líder Dylan Carlson, com os seus riffs pesados e arrastados, à secção rítmica formada pelo baixista Don McGreevy e a talentosa Adrienne Davies, que complementa a música com as suas linhas de bateria precisas e metódicas.

Quanto ao setlist, este deu primazia ao mais recente “Primitive and Deadly”, sendo que temas novos como, por exemplo, “Badgers Bane”, “Even Hell Has Its Heroes” ou “Torn by the Fox of the Crescent Moon” misturaram-se com outros mais antigos, como “The Bees Made Honey in the Lion's Skull ”, “Ouroboros Is Broken” ou “High Command”. No final, quando já todos pensávamos que a actuação tinha chegado ao fim, os Earth regressaram ao palco e atacaram os nossos ouvidos pela última vez, interpretando a magnífica “Old Black”. Um retorno absolutamente triunfante, restando-nos agora esperar que a próxima visita não demore outros seis anos a concretizar-se.