Reportagem Erlend Øye em Lisboa
Já se sente o Verão. Já cheira a Verão. Já se vive o Verão. É indiscutível que a estação mais calorosa do ano chegou mais cedo este ano. Ora seja pelo vestuário fresco, pelo consumo de refrescos ou de gelados em altas ou até mesmo pelos dias longos e calorosos, Portugal entrou oficialmente numa época apelidada de “pré-Verão”.
Por estes dias, nesta época de “pré-Verão”, vive-se acompanhado por um calor saudável: ora nem fraco, nem intenso. Aliás, este chega mesmo a ser reconfortante. Na passada quarta-feira, pelo Capitólio em Lisboa, esse calor reconfortante levou à criação de um ambiente caloroso, tanto pelo espaço como no coração da multidão que se juntou para acolher Erlend Øye à capital, quase cinco anos após a sua última passagem por cá.
Concerto esgotado e expectativas em altas, a segunda metade dos Kings of Convenience apresentou-se em formato acústico, o que logo aí faria com que a sua voz calma e apaziguadora sobressaísse. Acompanhado por três jovens e talentosos músicos, de nomes Luigi, Marco e Steffano – La Comitiva -, que tão bem desempenharam o seu papel enquanto de banda de apoio com as suas guitarras acústicas e um cavaquinho; logo aqui era notório que a noite seria do mais puro e sincero possível.
De ukulele ao peito e depois de um arranque com alguns entraves pelo meio, fruto de problemas de som que acabariam por quebrar qualquer gelo que pudesse existir, Erlend Øye começa um serão de serenatas a Lisboa através de “Fence Me In”, “Peng Pong”, “Upside Down” e “Bad Guy Now”, encantando sala inteira pela delicadeza num dedilhado de cordas semelhante a uma dança de salsa.
Dotado de um timbre ténue que transpira serenidade e conforto, a voz de Erlend Øye para aquela noite soava a uma brisa refrescante, com o que seu quê de encantadora, que aconchegava e despertava sensações de fantasia, de tão doce que soava.
Transportando todo o Capitólio por uma viagem dos sentidos, o norueguês leva-nos a uma primeira paragem refrescante, fruto de influências das vivências pelos mares de Sicília, pela sua nova residência em Itália, iniciando a sessão italiana da noite: “Giacca” e “Paradiso” levam Erlend a assinar um italiano a roçar o perfeito, mas o verdadeiro momento ‘belíssimo’ viria através do tripleto instrumental “Bologna”, “Abrils” e “Altiplano”, num momento ternurento, intimista e envolvente, daqueles que quase pedem que nos possamos perder de amores por.
Já perto do final da noite, a reconfortante brisa emancipada por Erlend Øye daria lugar a um caloroso desejo festivo quando o próprio se ‘infiltra’ pelo meio do público para dançar com o mesmo ao som de um leque de canções brasileiras, ensinadas por um grupo de portugueses aos La Comitiva na noite anterior, entoando-se coros repletos de energia e alegria. O tom festivo manter-se-ia para “La Prima Estate” e culminaria com uma adaptação de “1517”, tema pertencente a The Whitest Boy Alive, projeto paralelo de Erlend Øye, deixando o Capitólio inteiro a cantar improvisados “para pa parapa” na hora de despedida do artista.
Não querendo dar a euforia como terminada, Erlend Øye regressa só momentos depois para voltar a uma nova versão: “Heaven Knows I’m Miserable Now”, dos The Smiths. Dando o seu cunho pessoal à coisa, uma música outrora pesada ganha uma abordagem leve e alegre, tal como a brisa que contagiou o Capitólio ao longo de quase duas horas que voaram em instantes.
“Ciao Erlend, tante grazie!”, foi só o que faltou dizer. Se essa gratidão foi demonstrada pelos portugueses? Sem dúvida nenhuma.
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Organização:Sons em Trânsito
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terça-feira, 22 maio 2018